Apreensão

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Cap. 39                        Apreensão

Vic

Estávamos chegando a Malie, eu me lembrava do caminho de quando o fiz junto a Caleb como sua prisioneira. As árvores gigantes começavam a rarear e as árvores menores com tamanhos normais ocupavam seu lugar.

__Está tão calada esses últimos dias. __Max comentou ao meu lado, enquanto tentávamos dormir. Me virei para ele e encarei seus olhos cansados. __Sei que planeja algo. – ele disse.

__Farei o que for preciso para salvar nossa filha e os outros.

__Não quero perdê-la.

__Não vai me perder.

__Sim, eu vou. Se você se entregar a Andirá, nunca mais voltará para mim.

__Ela não vai permanecer para sempre em mim.

__Mas terá que viver... sabe-se lá onde.

__O preço é pequeno se isso ajudar a libertá-los. – ele suspirou e se aconchegou a mim, encostando sua cabeça a minha.

No dia seguinte adentramos a cidade. Iti já havia se posto e as primeiras luzes eram acesas nas casas. Como ainda estávamos próximos à floresta, soltamos nossos animais para que voltassem a liberdade dos campos.

__Nunca pensei que voltaríamos aqui em uma missão de resgate novamente. – Alexandra falou ajeitando o arco às suas costas.

__Nem eu. – falei com ela em solidariedade. __Mas não se preocupe, dessa vez será diferente.

__Espero que sim. – ela disse baixo.

__Como vamos sair de Malie sem os cavalos? – Filipe me perguntou.

__Não vamos precisar correr para fora. Se tudo correr como imagino, não será preciso fugir depois que eu resgatar Caleb.

__Por que não?

__Por que não haverá ninguém para nos perseguir. – respondi com convicção e Filipe assustou-se.

Ekualo e seus amigos se aproximaram e ouvi conversarem baixo por um tempo.

__Vic, - ele me chamou. __precisamos saber exatamente o que planeja fazer, qual será a estratégia.

Encarei meus amigos e meu marido e todos esperavam pela minha resposta. Porém, eu não tinha a mínima ideia do que fazer. Andirá havia dito que tomaria meu corpo no momento certo e eu esperava que fosse tão logo chegássemos a Malie. Mas o tempo dela não é o mesmo que o nosso, eu presumo.

Respirei fundo e comecei a dizer o que faríamos.

__Bom, Maxine está na casa de Michel, com Pâmela. Os guardas de Malie fazem a segurança. Celandine e Soraya estão na prisão de Malie, que fica no quartel e Gabriel e Caleb, nas masmorras da mansão do ancião.

__Tem certeza? Como sabe onde estão todos eles? – Alexandra me perguntou.

__Maxine me disse onde está quando entrei em contato com ela. Gabriel fez o mesmo e com relação a Soraya, tive um sonho com ela e...

__Uma visão, você quer dizer. __Max falou em tom prático e eu assenti.

__Sim, foi uma visão. – eu disse constrangida, mas tentei me recompor. __Precisamos nos dividir. – apontei para Filipe, que começou a distribuir as armas que Briseu nos forneceu e que estavam guardadas com ele até o momento. __Filipe, Alexandra, Kai e Makani irão ao quartel resgatar Soraya e Celandine. Filipe, você está com a carta de Briseu?

__Sim, está aqui. – ele mostrou o alforje onde estava guardado também o uniforme da guarda de Zorah.

__Eu e Nahele buscaremos Maxine. – Max falou com decisão, adiantando-se a mim.

__E eu e Ekualo iremos a mansão para resgatar Gabriel e Caleb. – meu amigo aiesh assentiu com um mover de cabeça.

Max se aproximou de mim com urgência e me beijou.

__Tenha cuidado! – ele disse segurando meu rosto entre suas mãos.

__Você também. – nos separamos e lancei um olhar agradecido a todos eles. Quando me virei para sair, me lembrei de algo e me voltei para eles novamente. __Por favor, não matem inocentes. Eles não tem culpa de Michel ter enlouquecido. Só seguem ordens. – Max me encarou por alguns momentos, como se fosse me dizer algo e depois fez um gesto de assentimento.

__Faremos o possível, está bem? – ele sorriu e eu também. Sabíamos que seria difícil não haver mortes, mas eu queria tentar.

Enquanto seguíamos por entre as casas, sempre por ruelas quase escuras, Ekualo voltou a conversar comigo.

__Como entraremos na mansão?

__Conheço uma passagem para as masmorras. Pretendo entrar por ali.

__Você pediu que não matássemos ninguém, mas sabe que isso é quase impossível. Talvez com seus poderes você possa imobilizar e neutralizar alguém sem feri-lo mortalmente, mas para os outros...

__Eu sei. Mas não posso pensar em Pamela morta por uma arma nas mãos de Max.

__Não poupou os moradores da vila de Norih.

__Eu estava fora de mim.

__Ou talvez os considerasse culpados.

__Está me criticando? Também vi o que os aieshs fizeram.

__Sim, nós os matamos. Não esqueça, somos parte animal. Sequestraram nossos familiares. Nós nos vigamos!

__Sequestraram minha filha também!

__É justo!

__Não, não é. Ekualo, nós sempre temos escolha. Naquele momento, eu errei. Me deixei levar pela raiva. Mas agora, sei que muitos soldados só estão seguindo ordens de Michel. – falei com um sentimento de culpa me dominando.

Continuamos nosso caminho, a mansão ficava muito distante de onde estávamos e precisávamos seguir contornando o centro, não podíamos arriscar sermos vistos. Ekualo chamaria atenção para nós e não era o que queríamos.

Andirá - a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora