Cap. 22 Palavras que ferem
Caleb
Quando ela chegou ao salão de refeições, notei seus cabelos descobertos, e eu sorri involuntariamente. Ela me lançou um olhar fugidio e seu rosto ficou vermelho. Celandine, que estava a minha frente se manifestou.
__Isso não é correto com Max! – me voltei para a anciã sem entender.
__O que não é correto?
__Você e Vic. – ela disse ao olhar para a mesa onde Vic estava com Max e seu irmão. __ Ela é uma mulher casada, deveria escolher um de vocês e parar de fazer o outro sofrer.
__Nunca pensei que fosse fazer um comentário tão cruel sobre sua filha do coração. – eu disse com meu sarcasmo habitual. Celandine se empertigou e lançou um olhar maternal em direção a Vic.
__É por essa razão que posso dizer o que estou dizendo. Na qualidade de mãe substituta posso fazer essa observação. Max está sofrendo.
__Mas se é com ele que ela está. É com ele que ela divide a cama. Quem deveria estar sofrendo sou eu.
__Eles estavam bem até você aparecer. – ela falou com ressentimento.
__Por favor anciã, não vamos recomeçar. Eu teria ficado naquela maldita ilha por toda a vida se soubesse que Vic estaria segura e feliz. Sabe que não foi minha culpa o que aconteceu. – ela fez um gesto de reconciliação com um inclinar de cabeça __E eles não estão brigados, na verdade, me parecem bem felizes juntos.
__Sim. Me desculpe, é que vejo o quanto ele sofre ao tentar entender essa relação entre vocês.
__Vic me ama Celandine e eu a amo. Mas ela ama Max de um modo diferente. Ele representa a bondade e a pureza na vida dela. Tudo que é normal e humano. Eu sei que o sentimento dela por mim existe, mas a escolha dela sempre foi e sempre será o camponês. – desabafei e Celandine me lançou seu sentimento de conciliação e de ternura, me deixando constrangido. Era difícil me acostumar com esse tipo de manifestação, principalmente quando eu a recebia de pessoas que não eram de minha família. Quero dizer, da família de minha mãe.
Depois do jantar, que transcorreu bem calmo, me encontrei com Gabriel para nossos treinos noturnos. O irmão de Vic tinha muito potencial e pude perceber que sua ajuda seria de muita valia na batalha.
Tão logo nos reunimos a sós, percebi que ele estava inquieto e li em sua mente que havia contado a irmã sobre nosso segredo.
__O que Vic achou de seus avanços? – o perguntei e ele se retraiu.
__Me perdoe. Você me pediu que não contasse a ela.
__Eu sei, ela é sua irmã. Está tudo bem. Eu só não queria que ela ficasse preocupada.
__Acho que ela tem medo que eu participe da batalha.
__E é por isso que vamos continuar com os treinos. E a lição de hoje é como impedir que alguém leia sua mente.
No dia seguinte nos encontrávamos a meio caminho da foz do rio, que era formado pela cachoeira Alta. Passei a manhã com Vic em treinamento. Seus poderes retornaram, porém eu sentia que sua confiança em si mesma ainda estava vacilante.
__Do que tem medo? – perguntei ao vê-la titubear diante do soldado que participava dos treinos conosco.
__Não quero machucá-lo.
__Não vai machucá-lo, eu o estou protegendo. Desarme-o e o incapacite. – ordenei, mas ela continuou a encarar o soldado, que se mantinha preparado para atacá-la às minhas ordens. __Vai sentir pena também dos agressores de sua filha? – a provoquei. __Porque se for assim, acho que terei que resgatar Maxine sozinho.
A explosão de luz me cegou momentaneamente e o soldado atingido só não morreu por que mantive o seu corpo envolto em uma aura protetora. Ainda assim, foi atirado a alguns metros de distância, corri ao seu encontro e o ajudei a se levantar.
__Você está bem? – ele assentiu um tanto cambaleante, sacudiu a cabeça antes de dizer.
__Sim, só estou um pouco tonto.
__Vá descansar. Obrigado por sua ajuda. – enquanto o observava desaparecer pela porta de saída, retornei à Vic. Seus cabelos estavam se desprendendo da trança e seus olhos brilhavam como duas joias reluzentes.
__E você Vic, está bem? – ela não me respondeu de imediato e me aproximei. A energia de seu corpo era opressora e eu sentia em cada célula de meu corpo. Me obriguei a chegar perto o suficiente para tocá-la. Seus olhos estavam úmidos, com lágrimas e quando toquei em seu ombro, ela recuou. Observei a luz deixar suas íris e voltar ao normal. Voltei a perguntar: __Vic, você está bem? – ela recuou mais uma vez.
__Eu havia esquecido como você pode ser mau e cruel quando quer. – ela deixou o salão correndo e eu pensei que nenhum golpe poderia me ferir mais do que aquelas palavras ou aquele olhar decepcionado.
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Andirá - a vingança
FantasyVic está feliz vivendo em Lenora com Max e sua filha Maxine. Quando recebe a notícia de que sua família na Terra será alvo da vingança de seus inimigos. Enquanto está de volta a sua casa, com Caleb, descobre que tudo não passou de um plano dos Handa...