I'm paralyzed
Where is the real me?
I'm lost and it kills me
Inside
(Estou paralisado
Onde está meu verdadeiro eu?
Estou perdido e isso me mata por dentro)
NF - Paralyzed
Eu amo o mar. Os tons de azul ao longo do dia, a forma como ele se torna um reflexo turvo do céu e suas cores, como se pegasse pedaços do crepúsculo e da aurora e os transformasse em componentes líquidos, misturados ao sal.
Porém, eu odeio o mar que afoga minha mente.
Esse é feito de ondas de medo e insegurança, a praia é feita de areia movediça, e eu não consigo caminhar perto da água sem ser intoxicada por um peso invisível. Nele, o único sal é provido das lágrimas.
Às vezes é mais fácil observá-lo de longe, sem me aproximar demais, nos limites da praia. Lidar com problemas é muito mais fácil se feito de longe. No entanto, entre a troca constante das marés, em alguns momentos as ondas alcançam meus tornozelos, e as garras de espuma trazem desesperos à tona.
Pode demorar dias ou semanas, mas elas sempre me acham.
Presa nesse ciclo que na minha cabeça parece tão anormal, as marés me puxam para dentro da água enquanto tento me manter em terra firme. E então me pergunto se seria possível quebrar a constância desses momentos, secar aquele mar e transformá-lo em deserto.
Talvez fugir, porque não sobram mais forças para outra coisa além de nadar para longe daquilo que tenta me consumir. Mas com o passar dos dias, a grande questão se torna por mais quanto tempo eu irei conseguir me manter afastada, se a maré a cada dia enche um pouco mais, buscando pelo seu alvo.
Por vezes penso que é como um convite, todos aqueles sentimentos não resolvidos me chamando para que os entenda de uma vez. Só que estou sem a coragem para decifrá-los, e tenho medo de que, quando o fizer, a versão de mim que saia de lá seja diferente demais para que eu consiga me acostumar.
Acostumada. Era parte da situação, aquela palavra resumia a causa de tudo. Eu estava entregue ao hábito de uma rotina em que tudo era parado demais, minha zona de conforto mantendo-me ali, paralisada.
E um mar não é a superfície de um lago, que quando se cessa o movimento ela se estabiliza. O mar era toda a revolta contra a mesmice e um convite para a mudança.
Provavelmente ficaria mais fácil se eu olhasse para aquela situação e a encarasse como um chamado para conseguir alcançar coisas melhores. Talvez eu devesse simplesmente ir quando gritasse meu nome.
Então, quando a próxima maré cheia apareceu, eu não fiquei nos limites da praia. Eu dei meu primeiro passo em direção à areia, o medo implorando para que ficasse.
Mesmo com a sensação crescente de que poderia me afundar a qualquer momento, continuei andando até que a água encostou meus tornozelos. Daquela vez, não me puxou de modo forçado, e eu consegui entrar mais fundo.
Quando pensei que seria demais, e que não poderia aguentar, decidi ir de uma vez. Antes que o mar pudesse pedir para que eu me entregasse, eu mergulhei.
Imaginei que meus piores pensamentos estariam ali, em forma de tubarões prontos para me atacar de frente, raivosos. Mas era apenas eu naquela imensidão.
A sensação foi de ter largado amarras para trás, de não estar mais paralisada, de, por fim, conseguir me mexer livremente. De repente, aquele mar não era mais monstruoso, não era mais sufocante, e minhas lágrimas não mais alimentavam sua composição salgada. Ele estava a cada segundo se tornando mais parecido com o mar que eu tanto amava.
Mesmo assim, meu coração batia forte contra minhas costelas, com medo do que poderia aparecer depois da próxima onda. Porém, eu continuei nadando.
Eu queria aquela mudança.
Olá, pessoas! Não estou aparecendo muito por aqui, não é mesmo? Mas para compensar dessa vez, Marés é a primeira parte de um texto. O que acharam?
A verdade é que eu já queria há meses postar um texto assim, desde que a OceanDuchess me fez relembrar essa música, que foi tão presente na minha vida no início da adolescência. No entanto, eu estava aguardando o tipo de sentimento e o tipo de mensagem que gostaria de associar a música para, enfim, fazer um texto sobre.
Inclusive, dedico esse capítulo a ela, obrigada, Kells, por ter me dado a melodia perfeita para os sentimentos que queria expressar! E, quem diria, eu faço uma associação ao mar aqui, e nem intencional foi XD
Bom, espero que tenham gostado, e esse fim de semana postarei a parte dois (e final)! Até! 💕
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Procurando Atmosferas
Random"Procurando Atmosferas" é uma coletânea em que minhas inspirações e sentimentos correm pelas palavras escritas, refletindo os novos ares que busquei e decidi explorar. A cada capítulo, uma nova reflexão e, consequentemente, uma nova atmosfera. #8 na...