I know I'm made of clay that's worn
Blighted by imperfect form
(Eu sei que sou feito de barro que é usado
Destruído pela forma imperfeita)
Creature - Half live
Uma pequena multidão se amontoava a cotoveladas em um círculo ao redor de alguma atração. O centro do tumulto era uma pequena jaula quadrada da qual ninguém ousava se aproximar.
Dentro dela, havia uma criatura curiosa.
Relatórios diziam que o ser tinha potenciais inimagináveis. Ao mesmo tempo que era capaz de destruir mundos com as pontas de seus membros superiores alongadas como garras, tinha o potencial de criar maravilhas antes retidas na imaginação esquecida do universo.
Porém, aquela criatura não parecia nada daquilo. Estava encurvada, como se fosse grande demais para a pequena prisão a qual foi sucumbida, e captava os arredores por meio de duas esferas móveis, inquietas.
Sua forma não denunciava ao que se referia sua existência. A multidão observava, trocando sussurros do que poderia ser, teorias da conspiração para satisfazer seus achismos.
A criatura poderia ser alta ou mediana a depender do ângulo, a superfície de sua pele era quase toda exposta, marcada agora pela sujeira de ficar na jaula enferrujada, deixando dúvida sobre a verdadeira pigmentação de seu corpo. Sua aparência de um modo geral fazia pessoas desviarem o olhar ou encararem uma segunda vez.
Apesar de chamar atenção, parecia fraca, mas os relatórios diziam que era por causa das circunstâncias atuais que impediam seu verdadeiro desabrochar. E, mesmo sendo privada de inúmeras coisas, a criatura não cedeu.
Cada célula de seu corpo parecia lutar, gritando a palavra sobrevivência, que estava estampada em sua testa. Não era uma escolha estar ali, e mesmo assim todos os olhares curiosos e julgadores não a impediam de estar somente a alguns centímetros da portinhola da jaula.
Em toda sua imponência, a criatura observava, temorosa do que estava se tornando. A achariam estranha tão demasiadamente, com sua mente infinita de ações imprevisíveis?
O que fazer para se manter? Tinham medo do seu senso de destruição, mas até ali não lhe deram nem mesmo a chance de mostrar o que poderia criar. Porque não importava.
O que ela poderia se tornar, as experiências que tinha a compartilhar e os segredos a revelar, não importavam. Estava subjugada a quem a havia aprisionado, e não pensava provar da liberdade tão cedo.
No fim, a criatura era apenas isso: uma criatura. Guardada em uma caixinha de aço, minimizada a um grão de areia em meio ao mar de possibilidades.
Porém, por que ela sentia que havia sido alguém próximo que a aprisionara? O que era aquele sentimento de traição que pesava em seu peito?
— Não! Filha, volte!
Uma voz saída do círculo, mais alta do que as outras ao redor, chamou a atenção do ser. Suas esferas inquietas analisaram a situação, percebendo uma versão menor daqueles a sua volta se aproximar.
Vários tentaram conter a garotinha, mas se assustaram quando a criatura se remexeu na jaula, colocando-se em alerta. A parte de seus membros superiores projetadas como garras se enroscaram nas grades, aflitos.
— Filha!
A voz repetiu, e a criança continuou.
A criança sorriu no momento em que se pôs o mais próximo que conseguiu do campo de visão da criatura. Ela acenou com os olhinhos cintilando e o ser a imitou no cumprimento, sem hesitar.
A multidão observava abismada, um silêncio mortal sendo cortado somente pela movimentação inquieta da criatura na jaula, que provocava rangidos metálicos ecoantes. Estaria ela pronta para atacar a garotinha? Estaria feliz por ter contato com alguém?
A mãe da menina não estava disposta a aguardar uma resposta, e olhava temerosa para a cena de sua filha no meio daquele círculo de pessoas, hesitante entre avançar e assustar a criatura ou não. Antes que a adulta tomasse uma decisão, a garotinha sussurrou para a criatura, alto o suficiente para que ouvissem:
— O que você é?
Com um timbre um pouco rouco, mas perfeitamente compreensível, a criatura respondeu:
— Humano.
E esse foi o texto de hoje! O que acharam?
Eu queria criar um texto com essa ideia de descrever o ser humano de uma forma meio velada, e espero ter conseguido, pois o texto se tornou mais significativo do que eu pensava. Aliás, o que acham sobre a jaula? Seria literal ou não?
Fiquei pensando, e acho que pode ser algo metafórico, das pessoas prenderem e "podarem" o potencial dos outros, ou algo mais literal ao limitarem alguém fisicamente. Bom, essa interpretação fica em aberto XD
Ah, e só avisar que essa música tem uma letra religiosa, mas foi a que mais se encaixou na vibe que eu queria passar. Sem contar que o verso que escolhi pro capítulo faz bastante sentido pra mim ^^
Enfim, é isso! Espero que tenham gostado e até o próximo capítulo! 💕
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Procurando Atmosferas
Random"Procurando Atmosferas" é uma coletânea em que minhas inspirações e sentimentos correm pelas palavras escritas, refletindo os novos ares que busquei e decidi explorar. A cada capítulo, uma nova reflexão e, consequentemente, uma nova atmosfera. #8 na...