Novo Alvo

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"When you said your last goodbye, I died a little bit inside"

("Quando você disse seu último adeus, eu morri um pouco por dentro) 

 All I Want - Kodaline

Em meio a noites de reflexão, eu me lembrei de quando soube que aquilo não daria certo, o instante em que tive de decidir entre destruir tudo ou achar outra saída

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Em meio a noites de reflexão, eu me lembrei de quando soube que aquilo não daria certo, o instante em que tive de decidir entre destruir tudo ou achar outra saída.

Mesmo fechando os olhos agora, consigo reviver tudo. Cada célula minha vibra com as lembranças, perguntando-se como cheguei onde estou agora.

Recordo que meu coração retumbava contra o peito, angústia corria por minhas veias até se concentrar em um nó na garganta que me impedia de fazer outra coisa a não ser chorar. Eu deslizei as costas contra a parede e me sentei no chão de qualquer jeito, sentindo os espasmos percorrerem meu corpo e lágrimas pingarem do meu queixo.

O que faço com esse amor agora que não tenho a chance de te ter mais?, eu pensava, sôfrega.

Um soluço irrompeu por meus lábios e eu instintivamente me abracei, na tentativa de me proteger do furacão de memórias que surgiu. Os momentos me nocautearam e me sufocaram.

Como um filme, eles passaram em frente aos meus olhos, estranhamente ganhando uma forma reconhecível em meio às lágrimas. Para aqueles que dizem que cultivamos relações, isso fará sentido. Vislumbrei uma árvore jovem, bem menor do que muitas outras existentes, mas com uma saúde promissora, que demonstrava sua capacidade de continuar se desenvolvendo por muito tempo.

Das raízes até os brotos mais novos, ela era inteiramente constituída daquelas memórias que estavam me assombrando enquanto eu tentava inutilmente respirar. E eu estava diante dela, sem saber o que fazer, com toda a minha angústia materializada em um pequeno machado em minhas mãos.

Reforcei o aperto dos meus dedos ao redor do cabo daquela ferramenta. Meu peito queimou, porque eu sabia o que deveria fazer para colocar um ponto final naquilo. Depois de meses convivendo com a presença daquele pequeno sentimento que germinou na terra do meu coração, ele deveria acabar.

Eu deveria matar a árvore. Matar o que havia cultivado.

Confesso que tremi, no entanto, eu não queria hesitar, pois era mais do que óbvio que era o correto a ser feito, mesmo que sobrasse um vazio e um buraco em meu coração no qual nenhuma outra forma germinaria. As últimas palavras do que um dia eu chamei de nós, quando só existia eu, me levaram até ali.

Palavras essas que ecoaram em meus ouvidos, deixando-me zonza e ainda mais raivosa em relação à pequena árvore. Como eu pude permitir que chegasse tão longe? Por que insistir tanto?

Solucei mais uma vez, deixando um grito mudo fazer minha boca tremer enquanto eu erguia o machado e disparava em direção à árvore, pronta para lhe arrancar alguns galhos e logo ver suas raízes para fora da terra, desligá-las de mim. A ferramenta já estava a meio caminho quando parei de súbito, arregalando os olhos.

Eu não podia matar aquele sentimento. Ele não tinha culpa do que havia acontecido, nenhum de nós tinha. E perceber que eu não poderia culpar ninguém, muito menos eu, fez com que a última amarra que me ligava ao mínimo de estabilidade emocional que ainda possuía se rompesse.

Eu agora estava à deriva.

Sem poder culpar ninguém, soltei o machado, que se espatifou na terra ao mesmo tempo que eu escondia meu rosto nas mãos.

Chorei por horas tentando pensar em alguma saída, uma forma de reverter tudo. Quando já estava sem esperanças de solucionar aquilo, ergui-me do chão do qual nem lembrava que ainda me encontrava, e dei de cara com meu reflexo no espelho do banheiro.

Arregalei os olhos, meu eu me fitando de volta igualmente assustado, deparando-se com toda a bagunça que estava flamejando em meus olhos. Porém, o que mais me deteve diante do espelho foi o fato de vislumbrar aquela árvore jovem em mim, ao saber que ela era um pedaço meu, da minha história.

E poderia ser inteiramente meu se assim eu quisesse.

Com novas forças, amarrei meu cabelo, afastando-o dos olhos e jogando água no rosto. Respirei fundo e me encarei novamente, tendo a certeza de qual decisão tomar.

Eu não mataria aquele sentimento, não cortaria seus galhos e nem amassaria suas folhas. Eu iria deixá-lo viver, e refaria os rumos de seu crescimento, tornando-o tão inteiramente meu que inclusive suas raízes se esqueceriam que haviam se originado de algo que não se referisse completamente a mim em cada detalhe.

Todo aquele amor que eu sentia, ao invés de dirigi-lo àquela pessoa, eu lhe daria um novo alvo.

E esse alvo seria eu. 

Então, foi esse o primeiro texto que quis postar aqui

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Então, foi esse o primeiro texto que quis postar aqui. O que acharam? Puderam se identificar com alguma parte?

Bom, eu escolhi o dia dos namorados especialmente porque quis demonstrar que há também uma forma de amor, que na minha opinião, é a mais importante: o amor próprio.

E muitas vezes o processo de se amar não é bonito, né? Mas toda essa jornada vale muito a pena.

Enfim, é isso! Espero que hoje possam partilhar o amor, seja com a pessoa que denominam parceira de vida, com a família e também consigo mesmos.

Até o próximo capítulo! :3

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