Dualidade

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And heal

And tell me some things last

(E cure

E me diga que algumas coisas perduram)

Tom Odell - Heal

Eu comecei desejando me tornar um girassol, para que encarasse apenas o sol e me deixasse ser guiada pelo farol do dia

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Eu comecei desejando me tornar um girassol, para que encarasse apenas o sol e me deixasse ser guiada pelo farol do dia. Perdi-me nessa constância de que evoluir significaria olhar apenas para frente, enquanto para de fato crescer, eu deveria analisar um inteiro.

Desejei tanto me tornar um girassol, que me esqueci da possibilidade de ser uma dama-da-noite. Se eu virasse as costas para o meu próprio escuro, que é parte integrante de quem sou, como poderia perceber meu próprio céu de estrelas? Como descobriria minhas próprias constelações?

Ao descobrir essa dualidade inerente à alma, percebi que não era feita apenas de dias ensolarados, muito menos somente de dias enevoados. Eu era chuva, noite, vento, terra e céu, todos cintilantes em sua ótica única. Era o girassol que acompanhava o sol e a dama-da-noite que se abria para receber o luar.

Eu era um conjunto de todas as minhas incertezas e firmamentos. Composta não por costuras confusas, mas fusões certeiras de momentos e reflexões que possuíam igual essência, a essência de me apresentar a mim mesma.

Se focasse só nos momentos de lágrimas, que valor teriam meus sorrisos de dentes à mostra? Se percebesse apenas a plenitude, que lição tiraria do caos?

Um estado não anulava o outro, assim como meu passado não anulava o presente, mas o engrandecia e me fazia perceber que, de tudo que eu fora, em algum instante o passado que poderia me atormentar havia sido meu presente. Em algum momento, meu atual agora havia sido um futuro almejado.

E ali eu estava. Em um futuro que já havia desejado, em uma época que não tinha certeza se chegaria a vivê-lo, respirando em sua concretização. E ali eu ainda estava, com receio de dar o próximo passo.

Um próximo passo à beira de um novo precipício, depois de ter atravessado desertos, enfrentado lobos interiores, visto areia se transformar em grama e nadado por mares inteiros. De todos, o primeiro passo era sempre o mais difícil de se dar, como um constante replay na existência.

Nesses momentos, lembrava-me que, em uma dualidade inerente à alma, a ponte que ligava todos os meus momentos era o amor — pelos arredores, pela companhia, pelas reflexões, por mim. E o que costumava obstruir essas mesmas pontes era o medo — dos novos arredores, das possíveis companhias, das novas reflexões, de mim mesma.

Ou era o que eu acreditava, já que em uma dualidade em que mais se soma do que se anula, percebi que apresentar o amor ao medo era como levar luz perante as trevas, como achar uma sombra em um deserto. Era como um respiro que permitia conhecer um pouco mais daquele novo desconhecido que, como tantos outros antes de um primeiro passo, não passava de uma fonte de medo constante, uma parte avulsa que se apontada como integrante do todo seria renegada em primeira resposta.

Então, como em qualquer primeiro passo, era preciso ter posse da própria confiança. E eu hesitava mais uma vez perante ao medo cegante, procurando em mim a atitude necessária para agir.

Com um suspiro profundo, fechei os olhos em busca de visões que ajudassem, até que, por fim, senti. De todos os cantos e pessoas próximas, transbordava amparo, lembrando-me que eu tinha aquela força interna, que se eu olhasse com atenção, encontraria aquele mesmo conforto partindo de mim também.

Eu torcia por mim, a esperança me guiou pelos batimentos do meu coração para estar diante daquele novo horizonte. Então, com o empurrãozinho certo, eu apresentei amor àquele medo recém-descoberto. O que eu achei se tratar de uma queda, logo se mostraria uma nova ponte a uma nova experiência. Porque, nessa dualidade presente, amor também não anula o medo.

O amor o transforma, já que o medo também faz parte de um certo equilíbrio, mas apenas como parte ilusória, uma venda que decidimos colocar para o que se apresenta diante de nossos olhos. E o que antes era um caminho obstruído, pode se tornar uma ponte.

Uma ponte que me guiaria a uma nova atmosfera, um novo horizonte a se desbravar. Nem todos eram fáceis, com longas caminhadas ou situações a se encarar de frente no caminho, mas eu podia sentir que, a cada primeiro passo, eu entendia melhor essa dualidade.

Essa dualidade que me mostrava que, de todas as minhas facetas, a maior delas era quando eu me via consciente da coexistência de todas as minhas características em constante expansão diante de cada nova aventura.

Eu era um inteiro, não limitada ao passado ou às expectativas do futuro, mas completamente consciente de um agora em construção. Por isso, com um inspirar confiante, eu dei o primeiro passo na direção da estrada daquela nova atmosfera.

Até conhecê-la como parte integrante, iria desejar futuros distantes que um dia seriam meu presente e entrar em acordo com passados que ainda me faziam de abrigo. Porque em um passado não muito distante, eu comecei desejando me tornar um girassol, e esse pequeno desejo foi o que iniciou toda uma nova história.

 Porque em um passado não muito distante, eu comecei desejando me tornar um girassol, e esse pequeno desejo foi o que iniciou toda uma nova história

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E esse é o texto de hoje! O que acharam? 

Eu espero que tenham gostado, pois essa vai ser uma das últimas "atmosferas" que trarei por aqui. Ainda não falarei todas as palavras que marcam o fechamento dessa coletânea porque ainda tem um pedacinho para ser mostrado, porém, é isso, Procurando Atmosferas será finalizada em breve. Confesso que estou animada e nostálgica na mesma medida para isso, e mal posso esperar para o finalzinho desse ciclo. 

Então, no texto de hoje quis colocar um pouco desse sentimento, essa mistura de animação e nostalgia, pegando elementos da coletânea que estão presentes desde o início e os mesclando numa reflexão mais geral, porque com esses textos, ao escrevê-los, aprendo muito de mim mesma e da reflexão que tenho perante a vida. 

Bom, por hora é isso, obrigada e até o próximo capítulo! 💕

Procurando AtmosferasOnde histórias criam vida. Descubra agora