O Querer (II)

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Diving in

While the currents fast

Gotta leave the past, it's in the past

Yeah, I won't look back

(Mergulhando enquanto a corrente está rápida 

Preciso deixar o passado, está no passado

Sim, eu não vou olhar para trás)

WILD - Here we go

A areia molhada se juntou em minhas mãos, escapulindo por entre meus dedos quando a apertei, incrédula com a ideia de que havia atingido terra firme

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A areia molhada se juntou em minhas mãos, escapulindo por entre meus dedos quando a apertei, incrédula com a ideia de que havia atingido terra firme. Depois de nadar tanto, a sensação de finalmente ter chegado a algum lugar em que pudesse me estabilizar, sentir-me perfeitamente de pé, pareceu como o melhor dos presentes.

Então, eu me levantei, com a roupa molhada grudada ao corpo, quantidades relevantes de sal lutando para entrar em meus olhos e os lábios ressecados. Os pés descalços naquela mesma areia que segurei, o coração aliviado, absorvendo o barulho das ondas atrás de mim.

Eu estava exausta, sentindo cada músculo resmungar em necessidade por uma trégua, minhas vistas cansadas do sol constante implorando por uma sombra que eu via mais a frente. Eu estava ávida para responder a esses pedidos, e logo o faria.

No entanto, primeiro eu levantei a cabeça para ver além. Afinal, onde eu havia chegado?

E foi aí que eu percebi que os sons do mar não vinham somente de trás, mas sim de toda a minha volta, cobrindo de azul até onde a vista alcançava. O pânico me invadiu ao perceber que eu estava em um espaço menor ainda do que o que eu tinha anteriormente.

Se antes eu poderia evitar até mesmo a areia da praia, aqui eu não poderia andar mais de quinhentos passos sem topar com ondas quebrando novamente. Era uma pequena faixa de terra, com um coqueiro qualquer.

Eu me sentia presa ao papel de um pirata, em uma daquelas histórias em que ele era sentenciado a passar seus últimos dias em uma pequena ilha no meio do oceano. Sem recursos além de alguns cocos que um de três coqueiros lhe forneciam.

A única diferença é que eu quis fazer aquilo. Eu quis sair da terra que conhecia e me submeter ao acaso.

E era por isso que eu evitava mudanças, elas me colocavam em situações em que me sentia desprotegida. Daí, quando eu acreditava que tudo estava acabado, percebia que era só o primeiro de muitos outros passos a serem tomados.

Passos que eu não conhecia, que levariam a um destino mais desconhecido ainda. Porque, diferente do pirata, eu não encontraria um mapa do tesouro que traria uma reviravolta a minha história.

Com um suspiro derrotado, passei as mãos pelo rosto, tirando o máximo de sal dos olhos que conseguia, enquanto era consumida pelo calor do sol. Onde eu fui me meter? O que faço agora? Fico aqui estagnada por uma eternidade sem lugar para ir?, cheguei a me perguntar.

Cada pedaço de pele recoberto por areia, tocado pelas ondas e cansado do esforço me fez questionar se aquilo valeria a pena. E eu pensei em mil formas de me convencer que não valeria. Porém, também me lembrei que, antes, eu estava convencida de que aquele mar teria tubarões prontos para me atacar, apenas para me enganar no fim.

Acontecia que aquele era o meu mar, e eu decidi atravessá-lo. Decidi conhecer aquela parte de mim, intrínseca e profunda demais a minha existência para ficar exposta em situações normais.

Com uma certa coragem renovada, analisei novamente o horizonte azul, encontrando mais ao longe, camuflada pela oscilação constantes das ondas, uma outra faixa de terra parecida com a que eu estava agora. Não era só água até onde a vista alcançava.

Talvez fosse assim por todo o caminho, com mais tempo solta no desconhecido, lutando contra a força de certos pensamentos, do que em pontos onde conseguisse saber onde estava pisando. Talvez eu chegasse a uma praia diferente e percebesse que, dali em diante, as coisas fariam mais sentido se eu procurasse a mudança ao escalar uma montanha.

Nada era certo. No entanto, assim que eu descansasse o suficiente, a primeira coisa que faria seria pular na água de novo.

Era possível que a busca se alterasse, mas naquele segundo, eu queria descobrir aquela porção de desconhecido. Eu queria viver aquela parte apenas para dizer que havia vivido.

Eu queria começar a jornada por aquele caminho. Queria me livrar das amarras de sal antes de me livrar das amarras de pedra. Na realidade, não importava a ordem, só a decisão de começar.

Porque, no fim, eu quero ser livre.

E essa foi o texto que deu continuidade a Marés, no fim eu acabei não escrevendo a continuação no mesmo fim de semana, mas acho que valeu a pena porque o resultado final desse texto me agradou muito mais depois de dedicar mais atenção a ele

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E essa foi o texto que deu continuidade a Marés, no fim eu acabei não escrevendo a continuação no mesmo fim de semana, mas acho que valeu a pena porque o resultado final desse texto me agradou muito mais depois de dedicar mais atenção a ele.  O que acharam? Completou bem?

Eu quis trazer o que ocorre depois que o eu lírico aceitou a mudança, porque muitas vezes a coragem e determinação são grandes no início do processo e nos esquecemos como no meio dessas escolhas nos perdemos um pouco. No entanto, momentos de reflexão são essenciais para continuar, eu acredito.

Bom, mas é isso! Espero que tenham gostado e até o próximo capítulo! 💕

Procurando AtmosferasOnde histórias criam vida. Descubra agora