I'm out of my head, of my heart and my mind
'Cause you can run but you can't hide
(Eu estou fora da minha cabeça, do meu coração e da minha mente
Porque você pode correr mas não pode se esconder)
The Wolf — Siamés
Sempre achei que morar em uma vizinhança em que se caça o próprio jantar tinha suas vantagens, já que um tempo na floresta distrai qualquer um dos problemas. Porém, mudei de opinião quando me tornei a presa de algo que desconhecia.
Tudo começou em um momento comum da rotina, quando decidi caçar dois coelhos para finalizar bem o dia. Eu não estava muito fundo na trilha geralmente usada pelos caçadores, o sol não tinha sumido por completo e eu conhecia os arredores como a palma da minha mão.
Não tinha como me perder. No entanto, aconteceu.
Ao ver o que parecia serem os rastros de um coelho, deixei a empolgação tomar o controle e cedi total atenção ao que seguia. Não percebi a forma que o sol sumiu de repente, não vi as copas das árvores tamparem o céu.
Só ouvi o barulho de galhos secos se partindo, e senti meus ossos gelarem. Foi instintivo, como se soubesse que algo estava errado antes mesmo de processar a situação.
Ergui o olhar para mais adiante, de onde o som estava vindo, e me deparei com a presença de uma fera incansável. Um lobo de pelo cinza, talvez o maior que meus olhos tenham tido conhecimento, me fitava com orbes de ouro líquido, com os dentes arreganhados em um rosnado.
Meu coração falhou uma batida, e no processo de engatilhar a arma sustentada por minhas mãos trêmulas, ouvi o animal avançar. "Não há volta", pensei.
No desespero dos instintos que me pediam para sobreviver, puxei o gatilho. O estrondo do tiro foi seguido de um uivo que pareceu rasgar meus tímpanos, mas, pelos segundos seguintes, tudo que ouvi foi o silêncio.
E então, eu acordei.
Suor escorria pela minha testa enquanto sentava na cama, com dificuldade evidente para respirar. O som do meu coração ecoava por todo meu ser, mais alto que o tiro no sonho.
Procurei pelo copo de água no móvel de cabeceira apenas para encontrá-lo vazio. Um xingamento cortou minha garganta seca, e eu me obriguei a levantar, sentindo a iminência do perigo ainda pesar em meus ombros.
A imagem do lobo permaneceu atrás dos meus olhos quando decidi lavar o rosto antes de seguir para a cozinha. Eu ainda não entendia o motivo daquele pesadelo até que acendi a luz do banheiro e me olhei no espelho.
Meus olhos eram feitos de ouro líquido.
Eu tentei gritar. No lugar, saiu um grunhido animalesco.
No fim, não havia nenhum lobo, além de mim.
E depois de um tempo meio afastada, retorno com esse conto um pouco diferente. Espero que tenham gostado! ^^
Confesso que esse texto não se encaixa exatamente na minha zona de conforto por ter um peso maior, por assim dizer, mas continua com o legado das metáforas 🤣
Inclusive, o que acham que o lobo significa? Ainda estou tenando decidir, já que escrevi o primeiro rascunho desse texto há meses em um caderno qualquer, então não lembro exatamente minhas motivações por trás da história.
Enfim, muito obrigada por lerem e até o próximo capítulo! :3
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Procurando Atmosferas
Random"Procurando Atmosferas" é uma coletânea em que minhas inspirações e sentimentos correm pelas palavras escritas, refletindo os novos ares que busquei e decidi explorar. A cada capítulo, uma nova reflexão e, consequentemente, uma nova atmosfera. #8 na...