"Procurando Atmosferas" é uma coletânea em que minhas inspirações e sentimentos correm pelas palavras escritas, refletindo os novos ares que busquei e decidi explorar. A cada capítulo, uma nova reflexão e, consequentemente, uma nova atmosfera.
#8 na...
(Você pode me dizer que estará aqui por todas as pequenas coisas? Posso me deitar aqui, em seus braços?)
Can I - Tedy
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Eu estava cega.
Eles passaram uma venda em meus olhos gentilmente, e eu não podia enxergar mais nada. Mãos invisíveis pressionavam meu peito, e eu não sabia respirar. Um nó em minha garganta me fazia engasgar.
De mãos atadas e sem nada ver, senti água me rodear, aos poucos. Para mim, parecia uma eternidade até que ela atingisse o nível do meu pescoço, porém minha mente dizia que não se passou mais do que alguns segundos.
A água me engolfou, e ainda presa, eu tentava buscar oxigênio. Eu sabia que não deveria ser capaz de continuar existindo e que já deveria ter me afogado, e isso me confundia, mas por algum motivo não ocorreu.
Depois de minutos lutando, eu consegui me guiar até a superfície, e emergir tossindo. O ar doía, rasgava meus pulmões e até pensei que seria melhor se tivesse continuado submersa. As mãos invisíveis ainda pressionavam meu peito, mas percebi que poderia abrir os olhos, a venda não estava mais ali.
Então o fiz.
Notei que continuava em casa, e toda aquela sensação que se engatinhava por minha pele, real e aterrorizante, havia sido algo que temia. Foi minha primeira vez experimentando ansiedade.
A partir daquele dia, a convivência com aquele monstro se tornou rotineira, mas não menos desgastante. Todos os dias eram pequenas lutas para me manter inteira enquanto pequenas ocasiões já disparavam em mim um sufocamento e o nó na garganta retornava e eu me via afogando.
O fato de não me dar muito bem com as pessoas não auxiliou nessa minha saga. Muitas vezes não era compreendida e isso ocasionava em problemas em confiar nos outros, por um lado sendo bom para desenvolver uma certa independência e saber cuidar de mim mesma.
Porém, eu estava cansada. Não conseguia cuidar de mim em cada processo, e respirar se tornava cada vez mais difícil à medida que a água me inundava, como se eu fosse um velho navio que naufragou em um rochedo, aos poucos cedendo às ondas que batiam em meu casco.
Isso foi até eu me encontrar com ele.
Naquele universo metafórico, ele seria um viajante dos sete mares que me encontrou no rochedo e achou que eu tivesse concerto. Eu sabia que não tinha, mas ele me fez acreditar.
Quando dei por mim, já havia deixado ele reformar as tábuas do meu convés e me puxar de volta para o mar para seguir viagem. Meu mastro foi reerguido e só percebi depois.
"Você promete?", eu lembro de indagar num sussurro uma vez. Era noite e ele me resgatava mais uma vez de me afogar. Recordo-me de seu semblante confuso e gentil me incentivarem a explicar. "Promete que vai continuar aqui?"
Ele sorriu.
"Prometo", ele sussurrou e passou um braço ao redor dos meus ombros. Respirou fundo e me encarou. Ele também tinha suas batalhas, e dizia que eu o ajudava a vencê-las, mas não me lembro de uma única vez em que alguém elogiou a generosidade que ele via em mim. "Você promete?"
"Prometo", respondi, abraçando-o na mesma intensidade.
Ali, eu tive certeza de que aprenderia a gostar do mar novamente. Eu não costumava me prender a promessas, mas àquela eu decidi dar uma chance.
Foi uma ótima escolha.
O tempo passou e eu aprendi a enxergar direito. Vi a generosidade em mim, assim como a capacidade de voltar a velejar pelo mar de experiências que por tanto tempo havia abandonado.
Aos poucos deixei de ser só o navio resgatado e me tornei sua capitã. Aprendi a guiá-lo pelas marés, e conquistei a confiança que me faltava. Ajudávamos um ao outro, e nossos navios lado a lado passaram a velejar juntos.
Hoje, posso dizer que já velejei por todos os cantos do mundo ao seu lado. E, de todos os naufrágios que por vezes nos acometeram, um ajudou o outro a não se afogar.
A promessa foi cumprida.
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E esse foi o texto de hoje! Eu quis retratar algo sobre ansiedade, mas acabou se tornando algo um pouco mais romântico (o que em algum momento aconteceria em um dos textos, porque, minha gente, como eu amo romance XD). O que vocês acharam?
Porém, vale dizer que eu não sofro de ansiedade, mas mesmo assim espero ter sido capaz de retratar os sentimentos que se passam com alguém que lida com isso. E também espero que consigam se recuperar de seus naufrágios, sejam eles sobre o que forem.