A forma do meu coração

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"Sadness is beautiful, loneliness is tragical (A tristeza é bonita, a solidão é trágica)
so help me I can't win this war, oh no (Então ajude-me, não consigo vencer essa
guerra)
Touch me now don't bother (Toque-me agora, não se aborreça)
if every second it makes me weaker (se cada minuto isso me torna mais fraco)
You can save me from the man I've become (Você pode me salvar do homem que eu me
tornei)

Lookin' back on the things I've done (Olhando para trás sobre as coisas que eu fiz)
I was tryin' to be someone (Eu estava tentando ser alguém)
I played my part, and kept you in the dark (Fiz minha parte e guardei você no escuro)
Now let me show you (Agora deixe-me mostrar-lhe
the shape of my heart" (a forma do meu coração)

The shape of my heart – Backstreet Boys



Jimin

Já era noite quando enfim dei as buscas do dia como encerradas e voltei para casa. Meu coração doía insuportavelmente por estar sem o Howie. Ele já tinha vivido nas ruas antes de ser resgatado e colocado para a adoção, mas já fazia anos que ele morava comigo. Já estava acostumado a dormir comigo na cama, a viver em um lugar seguro e protegido. E eu nem poderia imaginar o sofrimento dele de estar de volta às ruas, especialmente em um mês de inverno como julho. Ele devia estar com fome, com frio, assustado. E se fosse atropelado? E se fosse atacado por um cachorro? E se alguma pessoa ruim lhe fizesse algum mal?

Eram infinitos 'se'. E a cada um deles, meu coração doía um pouco

Logo que abri a porta do meu apartamento, Jojo veio correndo aflita em minha direção. Ela tinha ficado lá para o caso de Howie voltar. Eu morava no terceiro andar, em um apartamento todo telado, por isso era bem improvável que ele conseguisse entrar. Mas tinha deixado o porteiro de sobreaviso, e ele me garantiu que ficaria de olho caso visse meu gato rondando nos arredores. Seria bom ter alguém em casa caso isso ocorresse. Quando minha amiga percebeu que a caixa de transporte em minha mão estava vazia, ela me abraçou com força, repetindo o milésimo pedido de desculpas.
—    Eu sinto muito, Jimin! Juro que pensei ter fechado a caixa direito, como pude deixar isso acontecer?
—   Tudo bem, Jojo, não é culpa sua.
Sendo bem racional eu sabia que não era mesmo. Ela tinha se assustado com o som dos tiros, poderia ter acontecido até mesmo comigo.
Sobre o ocorrido, ouvi mais tarde os rumores pelas ruas de que três ladrões invadiram uma farmácia, mas o segurança estava armado, reagiu, então teve troca de tiros e todo aquele terror generalizado. Uma senhora tinha sido baleada de raspão, mas passava bem. Graças a Deus, ninguém tinha morrido ou se ferido com gravidade, e os bandidos foram levados para a delegacia.
Tudo para mim estaria em paz, se não fosse o terror de pensar em meu gatinho perdido pelas ruas.
Jojo me puxou pela mão até o notebook aberto sobre a mesa de centro, enquanto falava sobre o que tinha feito:
—     Postei um anúncio com a foto dele em tudo que é rede social, mandei para páginas grandes da cidade, para grupos de proteção animal... olha quantos compartilhamentos já teve. Vão achar o Howie, meu amigo. Coloquei o número do seu celular. Vai ver como logo vai surgir uma mensagem de alguém dizendo que o encontrou.
Por instinto, peguei o celular e abri o aplicativo de mensagens o qual eu sempre evitava olhar no final de semana para não me estressar com grupo do trabalho. Tinham quase dez mensagens de desconhecidos lá. Aflito, abri uma por uma. A primeira delas tinha a foto de um gato que não se parecia nada com o meu (era amarelo, enquanto o meu era preto e branco). As demais eram quase todas de pessoas contando que ficariam de olho ou tentando me tranquilizar dizendo que tudo ficaria bem. Uma delas era de alguém dizendo que eu era uma irresponsável por ter deixado o meu bichinho fugir.
Talvez eu realmente fosse.
Olhei para o sofá, onde os pequenos Mingi e Taeho dormiam profundamente. No caminho até o meu apartamento, Jojo passou na casa dos sogros para pegar os meninos, já que não sabia que horas eu voltaria da minha busca. E já estava bem tarde.
—   Jojo, melhor você ir. Os meninos estão cansados.
—   Ah, claro que estão, correram o dia todo. Aliás, Taeho quebrou um dos seus copos, espero que não se importe.
Eu realmente não me importava. Não queria saber de copos ou de qualquer coisa material naquele momento. Meu único pensamento era no meu gato.
Olhei para a minha amiga e percebi o semblante dela de cansaço. E era difícil ver Jojo daquele jeito. Ela sempre fora a pessoa mais ativa e elétrica que eu conhecia, às vezes parecia incansável. Porém, no momento a carga provavelmente andava elevada demais. Ela tinha o seu próprio negócio: uma loja de roupas para festas, que estava crescendo e a qual ela pretendia em breve expandir abrindo outras unidades. O marido dela, Junseo, era médico e trabalhava em um hospital particular e também no único hospital público da cidade. Os dois mal estavam dando conta dos gêmeos e, agora, já tinham outro bebê a caminho.
Aquele era um dia que ela tinha para se distrair e, no entanto, estava agora às voltas com a fuga do Howie.
—   E hoje seria o seu dia de descanso, não é? Sinto muito por isso,
Jojo.
—   Não, Jimin. Foi tudo culpa minha. E não vou sossegar enquanto não
acharmos o Howie.

—    Já disse que você não tem culpa, e... Anda, vai pra casa. Precisa descansar. Já é quase meia-noite, não há nada o que podemos fazer agora.
—   Mas você vai ficar bem sozinho?
Balancei a cabeça em uma afirmação e forcei um sorriso, embora 'bem' não fosse exatamente a melhor palavra para definir como eu ficaria. Não dava para ficar bem sabendo que Howie estava sozinho nas ruas. Mas era verdade que não havia mais o que ser feito. E Jojo precisava descansar. Já tinha feito muito por mim naquele dia.
Peguei Mingi no colo, com cuidado para não o acordar, e Jojo fez o mesmo com Taeho. Descemos juntas pelo elevador até o térreo. O carro dela estava estacionado bem em frente ao prédio. Despedimo-nos com mais um abraço e ela me fez prometer que comeria alguma coisa e iria dormir. Eu duvidava muito que conseguisse pegar no sono pensando em Howie.
Quando voltei a entrar no prédio, parei no hall, só então reparando que havia um cachorro lá. Todo encolhido sobre um tapete colocado em um canto próximo às escadas. Havia uma guia presa à sua coleira, o que me fez pensar que deveria ser um animal perdido. Ou, o que seria bem provável: mais um abandonado. Havia uma rodovia importante ali perto e, por qualquer razão cruel e aleatória, várias pessoas achavam uma boa ideia deixarem seus cães ali pelo caminho e seguirem suas viagens.
Quanto mais eu conhecia as pessoas, mais concluía que os animais ditos irracionais eram sem dúvidas as melhores criações divinas.
Olhei para o senhor Han, o porteiro, e ele imediatamente explicou:
—     O pobrezinho estava sentindo frio lá fora, coloquei pra dormir aqui, pelo menos essa noite.
—   Fez bem, hoje está muito frio.
—   É, mas nem todos pensam assim. Tem moradores já reclamando do bichinho.
Revirei os olhos, já imaginando quem seriam os tais moradores. Tinha um velho chato do quinto andar, e o casal do apartamento de frente para o meu, que não suportavam animais e sempre implicavam com o Howie.

—   E o seu gatinho, Sr. Park? — Sr. Han voltou a falar. — Nada dele ainda?
—     Nada. Mas minha amiga colocou anúncios online, alguém vai achá-lo e entrar em contato.
—   Com certeza que vai! Pode deixar que vou continuar de olho.
—   Obrigado, Sr. Han. Boa noite!
—   Boa noite, Sr.Park.
Após apertar o botão do elevador, voltei a olhar para o cachorro. Pensei em como podiam existir pessoas capazes de abandonarem seus animais daquele jeito, à sua própria sorte. Enquanto tudo o que eu queria era ter o meu gatinho de volta.
Quando a porta do elevador abriu, eu entrei.
Agora, além de Howie, eu também volta e meia pensava no pobre cachorro que dormia na portaria. Esperava que nenhum dos vizinhos chatos voltasse a implicar com ele.

*****


Jungkook

Já fazia horas que ela estava ali. E aquilo me agoniava cada vez mais. A noite estava fria, já era quase uma da madrugada, e ainda assim Sunmi estava sentada no banco da varanda, com os olhos fixos no portão de casa e o olhar atento para a rua através das grades, na certa esperando que Panqueca voltasse a qualquer momento.
Achava pouco provável que isso acontecesse. Panqueca era apenas um filhote quando a adotamos, sempre viveu conosco. Do jeito que a conhecia, imaginava que, após correr assustada por horas, tinha se encolhido em algum canto que julgasse mais protegido e lá estaria. Apesar do tamanho, nossa cadela era bem assustada.

Pensar nisso fazia eu me sentir ainda mais culpado por não ter ido atrás dela logo que ela saiu correndo. Porém, naquele momento, minha prioridade era proteger a minha filha.
Respirando fundo, fui até ela, sentando-me no banco ao seu lado.
—   Está tarde, filha. Você tem aula amanhã.
—   Não vou pra escola. Quero sair pra procurar a Pan.
—      Não, você vai para a escola, já disse. Vou desmarcar meus pacientes de amanhã e eu mesmo vou procurar por ela. — Fiz uma pausa aguardando uma resposta. Como ela não disse nada, suspirei e voltei a repetir o pedido de desculpas. — Filha, sei que talvez você não entenda, mas... Eu faria tudo para evitar que você se machucasse.
—       Não adiantou muito, pai. Porque eu estou machucada, de qualquer forma. Da pior forma possível. Eu não posso perder a Panqueca assim.
—   Não vai perdê-la, querida. Eu vou encontrá-la, prometo pra você.
Agora vá dormir, você tem escola amanhã.
—   Vou mais tarde. Só quero agora ficar um pouco sozinha, pai. Por favor.
A tristeza na voz dela acabava comigo. Porém, atendi ao seu pedido e a deixei sozinha. Fui me deitar pensando no que faria caso não fosse capaz de cumprir a minha promessa de encontrar a nossa cachorra.

As Long As You Love MeOnde histórias criam vida. Descubra agora