Aquele

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"I guess you were lost when I met you (Acho que você estava perdida quando te
conheci) Still there were tears in your eyes (Ainda havia lágrimas em seus olhos) So out of trust and I knew (Tão desconfiada e eu sabia)
No more than mysteries and lies (Nada mais de segredos e mentiras)

There you were, wild and free (Lá estava você, selvagem e livre) Reachin' out like you needed me (Chamando-me como quem pede ajuda) A helping hand to make it right (Uma mão para ajudar a ficar tudo bem) I am holding you all through the night" (Abraçarei você a noite toda)

The one – Backstreet Boys




Jimin

Aquela quarta-feira, definitivamente, não tinha começado bem. O que me deu uma boa dica de que o restante do dia seguiria o mesmo ritmo. Acabara por adormecer profundamente na mesa do escritório – coisa que nunca acontecia comigo, mas provavelmente um reflexo das últimas noites mal dormidas por conta da preocupação com o Howie. Além de acordar pela manhã já atrasado para o trabalho, estava com uma dor insuportável nas costas e no pescoço em decorrência da posição nada confortável na qual adormecera. Para me atrapalhar ainda mais, a cachorrinha tinha feito xixi pela sala inteira e ainda precisei correr para limpar tudo. Espalhei jornais pelo chão, na esperança de que ela entendesse que ali seria o local ideal para usar como banheiro, a alimentei, tomei um banho, vesti a primeira roupa que apareceu na minha frente e saí. Estava um tempo chuvoso, o que fez com que o trânsito ficasse mais lento que o normal. No fim das contas, meu atraso na chegada ao trabalho foi de quase duas horas.

Logo que cheguei e consegui me organizar para começar o meu expediente, resolvi dar uma olhada rápida no celular para verificar se havia chegado alguma notícia sobre o Howie. Foi então que notei que, para completar o azar do meu dia, havia esquecido meu telefone em casa.
Acabei ficando na empresa até depois do horário, para compensar um pouco o meu atraso na chegada e o dia que tinha saído mais cedo para me encontrar com aquele enganador. Voei para casa sabendo que apenas teria tempo de pegar um casaco (a temperatura continuava a cair) e, claro, limpar a sujeira que a cachorra provavelmente fizera nos lugares errados, ignorando totalmente o jornal que espalhei pela casa.
—     Desça já desse sofá, menina! — ordenei enquanto adentrava o apartamento.
Ela desceu, mas provavelmente não foi para atender à minha ordem, mas para vir me recepcionar na porta, abanando o rabo.
—    Sinto muito, mas vou ter que te deixar sozinha por mais algumas horas — informei enquanto fazia carinho em sua cabeça. — Mas volto logo, prometo. Agora venha, vou colocar mais um pouco de ração pra você enquanto dou uma limpeza rápida nessa sala.
Quando cheguei ao pote de comida, no entanto, constatei que se mantinha cheio, do mesmo jeito que eu deixara quando saí. Ela vinha comendo muito pouco, e isso me preocupava. Devia estar sentindo falta de sua antiga casa.
Pensei novamente em como eu gostaria que aquele homem tivesse dito a verdade e fosse realmente o tutor dela. E isso fez o meu ódio por ele aumentar. Acho que seria capaz de voar no pescoço dele caso o encontrasse novamente.
Limpei tudo, troquei de roupa e peguei meu celular esquecido na mesa do escritório. Desanimei-me ao constatar que ele estava zerado, sem carga alguma. Teria que sair sem ele mais uma vez.
O interfone tocou e, já sabendo que era Jojo passando para me buscar, apenas me despedi da cachorrinha, peguei minha mochila e saí.
Lá ia eu para um nada emocionante programa para uma noite fria, quando tudo o que eu mais desejava era ficar em minha casa, embaixo das cobertas. De preferência, com Howie comigo. Infelizmente, nada disso seria possível.

*****


Jungkook

Tudo estava criteriosamente programado para que eu pudesse sair do consultório com tempo suficiente para chegar ao clube com calma, talvez ainda comprar algo para comer, encontrar meu pai na arquibancada (porque ele provavelmente tinha guardado o meu lugar) e ainda acompanhar a entrada das jogadoras em campo, fazendo coro de gritos com o nome da minha filha. Era um jogo importante e eu queria aproveitar bem cada minuto dele. Porém, havia um obstáculo em meio a isso. Um completamente imprevisto. E ele se chama Arthur.
Meu paciente quase septuagenário tinha decidido voltar, não apenas sem ligar antes para marcar, como também no exato momento em que eu liberava aquele que deveria ser o último atendimento do dia. E se o Senhor Arthur chegava em um local batendo o pé de que seria atendido, não havia qualquer pessoa ou mesmo divindade que o fizesse mudar de ideia.
Esse atendimento extra acabou tomando quase uma hora a mais do meu tempo. Quando enfim pude sair do consultório, a chuva tinha dado um tempo, mas os reflexos dela no trânsito ainda podiam ser sentidos. Levei mais tempo que o padrão para conseguir chegar ao clube. Deixei meu carro no amplo espaço que servia ao mesmo tempo como estacionamento e praça de alimentação. O cheiro delicioso dos lanches servidos pelos food trucks dali era tentador, mas eu não poderia perder nem mais um minuto. Ouvi os gritos vindos do campo, o que denunciava que a partida tinha acabado de começar. Eu tinha perdido a entrada das jogadoras, mas não me permitiria perder nem um minuto a mais. Travei as portas do carro e virei-me subitamente para seguir para o campo. Nisso, levei um forte esbarrão, seguido por um banho de algo gelado. Quando olhei para a pessoa que trombara comigo, mal pude acreditar que seria realmente ele.

—   O que está fazendo aqui? — perguntei, nada sutil. Ele levantou o rosto, só então parecendo me reconhecer.

*****


Jimin

Pouco antes...
Provavelmente, eu nunca na vida sentira tanta vontade de matar a minha melhor amiga como naquele momento. Em quinze anos de amizade, era inconcebível que ela ainda não me conhecesse bem o suficiente para saber o tipo de cara que poderia vir a ter alguma remota chance comigo. E eu nem estava falando de aparência física. Eu simplesmente detestava homens pegajosos, e o tal primo do marido dela era exatamente um sujeito neste perfil. A ponto de ser chato. Incrivelmente chato.
Por falar em chatice, outra coisa detestável nele era o tom constante de ostentação em seus assuntos. Em uma breve conversa de dez minutos com ele (ou deveria chamar de monólogo?), eu já sabia que ele era médico cardiologista, que sua casa tinha uma enorme piscina, que passara as últimas férias em Cancun... até a marca e modelo de seu carro. Eu não tinha perguntado sobre nenhuma dessas coisas. Na verdade a única pergunta que fiz a ele foi sobre as horas, já que estava sem o meu celular.
Tudo isso, aliado à noite extremamente mal dormida, contribuía para aumentar o meu sono.
—     Jura que achou que isso fosse uma boa ideia? — sussurrei à Jojo, que estava sentada na arquibancada à minha direita, enquanto o chato estava à minha esquerda.
Ela sussurrou em resposta:
—    As crianças estão com os avós, Junseo e eu vamos dar uma esticada depois daqui, e eu estou ao lado do meu melhor amigo. É claro que foi uma ótima ideia.

—   Espero que me deixe em casa antes dessa 'esticada' e nem ouse a permitir que esse mala me ofereça carona.
—    Sério que tá tão ruim assim, Jimin? Jurava que ele fosse super gente boa. E, apesar de não ser exatamente um galã de novela, ele é bonito.
—    Vai ver com você ele supostamente é gente boa porque nunca tentou te seduzir. Sinto que a qualquer momento ele vai me passar até mesmo os valores dos extratos bancários dele.
—   E são altos. Sua mãe com certeza aprovaria.
—   É só o que importa a ela. Mas nós dois somos muito diferentes, você sabe disso. Eu não fico buscando homens ricos para me relacionar. Na verdade, nem ando buscando homem algum.
—    Não foi com a intenção de que vocês tivessem algo sério nem nada parecido.
—   Nem sério, nem casual. Esse cara é insuportável!
—   Foi mal, juro que não achei que ele fosse tão desagradável.
—   Talvez nem seja tanto assim. A verdade, Jojo, é que estou cansado. Essa noite eu acabei dormindo de qualquer jeito na mesa de trabalho. Estou louco para chegar em casa e dormir na minha cama.
—   Amigo, se está tão mal, posso te levar em casa.
Óbvio que eu não pediria algo assim. Claro que, se estivesse com o meu celular, eu mesmo pediria um Uber para ir embora. Mas, como não estava, podia esperar o jogo chegar ao fim. Aliás, já estava prestes a começar. As meninas já começavam a entrar em campo.
—   Não se preocupa, Jojo. Só preciso de alguma coisa para me manter acordado. Um café, energético, qualquer coisa do tipo.
—   Podemos ir lá fora para comprar algo.
—   Não, deixa que eu vou. Você está grávida, sossega aí.
—   Desde quando grávidas não podem andar, Jimin?
—     É cansativo ficar subindo e descendo arquibancadas, até pra mim. Então sossega aí que já venho.

Sequer comuniquei ao meu 'acompanhante' que iria ao pátio comprar algo, para não correr o risco de ele insistir em ir comigo. Porém, acho que ele nem percebeu que eu me afastei, pois já estava com o celular em mãos, filmando a filha que entrava em campo. Desci as arquibancadas e segui para o estacionamento, onde ficavam os food trucks. Passei por todos à procura de café ou energético, mas como não achei nenhum dos dois, acabei optando por uma Coca-Cola. No maior copo que tivessem para servir. Segui segurando o copo sem tampa com uma mão, enquanto com o outro enfiava o troco da compra na minha bolsa, aquelas laterais. Até que meu caminho foi subitamente bloqueado por alguém, em quem me choquei de forma abrupta, derrubando, assim, todo o meu refrigerante. Cambaleei para trás com o esbarrão e por pouco não caí.
—   O que está fazendo aqui? — ouvi a voz que perguntava de forma nada cordial.
Quando levantei o rosto, levei um choque ao reconhecer aquele
sujeito.

As Long As You Love MeOnde histórias criam vida. Descubra agora