O Telefonema

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"Let me tell you the story (Vou te contar a história) about the call that (sobre o telefonema que) changed my destiny..." (mudou o meu destino...)

The Call – Backstreet Boys

Jungkook

Acordei com uma sensação estranha. Como se algo macio roçasse pelo meu rosto. Ainda em um processo de retomada de consciência, acreditei que fosse Panqueca, que às vezes pulava em minha cama e apoiava o focinho em meu rosto pela manhã. Pensando nisso, despertei por completo, abrindo abruptamente os olhos e me sentando na cama, olhando para os dois lados, procurando pela cadela que não estava ali.
Provavelmente, havia sido apenas um sonho, embora uma leve sensação de algo parecido com dormência ainda se concentrasse em minha face esquerda.
Levantei-me da cama, tomei um bom banho e saí do quarto. Escutei um barulho no quintal e olhei pela janela da sala, vendo que Sunmi saía nesse momento pelo portão, com sua bicicleta, usando uniforme escolar. Apesar da distância, percebi a expressão abatida no rosto dela. E isso fez com que a culpa voltasse a me atormentar. Preparei uma xícara de café bem forte e deixei-a sobre a mesa de centro na sala, enquanto sentava-me no sofá e usava o celular para ligar para o meu consultório, pedindo à minha secretária que desmarcasse os pacientes do dia. Eu não gostava de fazer isso, mas precisava me dedicar a encontrar Panqueca.

Feito isso, eu saí, e passei algumas horas pelos arredores, procurando pela minha cadela. Tudo tinha acontecido a poucas quadras de onde morávamos, por isso eu tinha a esperança de que ela tentasse voltar para casa. Falei com os vizinhos, pedindo que ficassem de olho e me procurassem caso tivessem alguma notícia dela. Nesse processo, alguém me falou sobre colar cartazes – algo que eu já havia pensado – e sobre divulgar em redes sociais – algo que nem se passara pela minha cabeça. Eu não era um grande amante da tecnologia e ainda era do tipo de cara que ligava para os amigos e marcava algo quando queria conversar com eles, e não que enviava mensagens através de aplicativos de internet. Porém, é claro, a ideia era ótima, além de muito eficaz.
Horas mais tarde, voltei para casa. Sunmi logo voltaria do colégio e eu queria garantir que ela se alimentaria bem. Enquanto a aguardava, sentei- me no sofá da sala e abri o notebook, disposto a fazer uma postagem com uma foto de Panqueca no meu Facebook. Logo que abri a pagina, dei de cara com uma postagem curiosa compartilhada por um de meus pacientes: era a foto de um gato malhado, junto a um texto que dizia que ele havia se perdido de sua dona durante a troca de tiros ocorrida devido ao assalto no dia anterior. Pelo visto, Panqueca não tinha sido o único animal que fugiu assustado durante o tumulto do Centro.
Deixando aquilo de lado, fui para o meu perfil e comecei a preparar a postagem com uma foto recente de Panqueca, dados sobre o local de onde ela fugiu e a cor da coleira que estava usando. Incluía as informações de contato quando ouvi um barulho vindo da cozinha. Levantei-me e fui até lá, deparando-me com um prato com restos de torrada caído no chão.
—    Panqueca? — perguntei por puro reflexo. Sabia que não poderia ser ela. O portão de casa estava fechado, ela não teria como ter entrado, ainda que encontrasse o caminho de volta.
Olhava ao redor tentando entender o que poderia ter derrubado aquele prato, quando senti novamente uma sensação parecida à que tive em meu rosto logo que acordei. Dessa vez, no entanto, era em minhas pernas. Olhei para baixo e me assustei com o animal que roçava na minha calça.
Era um gato.

*****

Vi quando ela entrou em casa caminhando nas pontas dos pés, como uma criminosa preparando um roubo. Ali eu tive ainda mais certeza: ela já sabia.
Continuei onde estava, parado bem na porta da cozinha. A casa estava toda fechada e com as luzes apagadas, e a única iluminação vinha da porta da sala que fora aberta por Sunmi, fazendo com que a luz solar iluminasse seus passos escada acima e permitindo com que eu pudesse espioná-la sem que ela me visse. Minhas suspeitas foram confirmadas quando, após alguns minutos, ela voltou a descer, olhando atenta no chão como quem procura por algo. Ao chegar na sala, ela acendeu a luz e sobressaltou para trás ao enfim me avistar, levando as duas mãos ao peito.
—     Ai, pai! Meu Deus, assim você me mata de susto! O que está fazendo aí? Não deveria estar no trabalho?
—    Como eu disse ontem, desmarquei meus pacientes para procurar pela Panqueca.
—   E aí, alguma notícia dela?
A forma chorosa como ela fez a pergunta quase me derrubou. Quase.
Não me permiti esquecer que a questão naquele momento era outra.
—   Não, nenhuma notícia. Mas e você, o que está procurando?
—   Eu? ...Nada.
—   Desceu as escadas olhando tão atenta para o chão, parecia procurar alguma coisa.
—   Er... Meu chinelo. Você viu por aí?
—   Está aqui na cozinha. Venha pegá-lo.
Ela assentiu e veio em minha direção. Quando passou por mim pela porta da cozinha, parou ao se deparar com o gato que tranquilamente dormia bem em cima de nossa geladeira. Ela me olhou, nitidamente pensando em algo para dizer. Mas fui mais rápido, perguntando em um tom irônico:

As Long As You Love MeOnde histórias criam vida. Descubra agora