Capítulo 1

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DREW PETTERSON

-O que quer?

-Desde quando usa seu cabelo ruivo?

-Desde que saí de casa. Cansei de pintá-lo por sua causa.

-Você está ainda mais parecido com ela.

-Acho que isso está além do meu controle. - Me recosto na cadeira, segurando o telefone de modo desleixado enquanto o encaro através do vidro - Um pouco tarde para brincar de paternidade. O que você quer?

-Olhe garoto, eu entendo que você não queria estar aqui, não tivemos a melhor relação do mundo e agora você está montado na grana. Se manter na cadeia custa caro e preciso de dinheiro.

-Pensasse nisso antes de matar alguém.

-Foi um acidente. - Revira os olhos, sua postura arrogante como sempre - Não estou a fim de virar puta de ninguém, preciso da porra do dinheiro.

-O que fez para te ameaçarem assim?

-Acha que fiz algo errado?

-Em tese você é meu pai e eu sei melhor que ninguém que você não presta.

-Que amor, estou honrado.

-Foda-se, conte logo ou não vai receber nada.

-Andei com uma má sorte no jogo e acumulei algumas dívidas.

-Quanto?

-Treze mil.

-Vou transferir o dinheiro e um pouco mais, você vai continuar fingindo que eu não existo e não vi me mandar carta nenhuma, ouviu bem?

-Quanto vai transferir?

-O bastante.

-Tudo bem, em quanto tempo consegue fazer isso?

-Considere feito. Faça a sua parte e não vai precisar se preocupar com nada.

-Tudo bem. - Ele relaxou na cadeira, o sorriso convencido em seu rosto que sempre me fez perder a paciência - Agora vamos falar sobre você.

-Não vamos falar.

-Você ficava melhor com o cabelo preto.

-Não é da sua conta.

-Ficar famoso te deu coragem, foi garoto?

-Não sou a porra de um garoto, só estou cansado de falar com você ou olhar para sua cara. Você já me pediu o que queria e eu já disse que vou fazer, não volte a me procurar ou você vai se arrepender.

-E o que pretende fazer? Seus amigos podem ficar desapontados com o bom garotinho deles.

-Entenda uma coisa, seu velho filho da puta, eu não tenho medo nenhum de você, não sou mais aquela criança que servia como seu saco de pancada.

-Repetiu essa fala por anos até finalmente ter coragem de dizer, não foi?

-Você passou mais de dez anos me fazendo o favor de desaparecer da minha vida, continue assim. Não é a toa que sua mulher te deixou, você é uma porra. - Me levanto e guardo o telefone de volta de no gancho.

Saio daquela penitenciária o mais rápido que consigo. Simplesmente olhar para ele me deixa enjoado e apavorado, tenho trabalhado muito para esquecer toda a merda to passado, para esquecer aquele filho da puta que tive o desprazer de chamar de pai um dia.

Foram anos aguentando toda a merda não só na escola, mas em casa também. Tudo parou quando ele foi preso, tia A me convenceu a parar de pintar o cabelo e começar a me exercitar para controlar toda a ansiedade. Escutá-la foi uma das melhores decisões que já tive. Quando nossa pequena banda decidiu se aventurar na estrada até LA mostrando nossa música em qualquer oportunidade que tivéssemos eu tinha acabado de raspar a cabeça e deixar meu cabelo natural aparecer.

Parece algo banal, mas quando se cresce escutando seu pai falar o quanto você é feio por lembrar a sua mãe - aquela que os abandonou quando você tinha três anos -, você tenta mudar tudo o que consegue. Por anos mantive meu cabelo o mais raspado possível para não chamar a atenção até eu ficar velho o suficiente para poder pintá-lo de preto - uma tentativa inútil de parecer o meu pai e fazer com que ele gostasse de mim -, só me fodi no processo.

Todos no grupo sofremos bullying na escola. No meu caso foi por ter crescido muito mais que os outros e ter um puta excesso de peso por descontar toda a minha frustração na comida. Quando comecei a fazer atividade física - acompanhando tia A na academia -, algumas estrias e cicatrizes pareciam ganhar evidência à medida que eu perdia peso, por isso comecei a fazer tatuagens. Vince e eu começamos a fazer escondido da tia A, é claro ou ela nos mataria.

Agora vivemos em LA, estamos lidando com algumas crises com nosso guitarrista Vince e seus problemas com álcool e drogas e com o baterista Ethan e sua irmã maluca que ressurgiu das cinzas por dinheiro. No caso de Vince ele foi internado e agora está bem, parecendo um ser humano novamente e com Ethan foi um pouco mais novelesco já que sua irmã tentou sequestrar sua namorada e acabou morrendo em uma batida de carro junto com seu cúmplice. Os dois estão enterrados agora e a namorada do Eth agora é sua noiva, sobreviveu e eles estão planejando um casamento.

Quando finalmente alcanço meu carro e estou atrás do volante, meu celular começa a tocar no porta-luvas. Pego o aparelho e vejo o nome de Ethan brilhando na tela.

-Hey.

-O mundo está praticamente acabando, cara.

-O que aconteceu agora? - Coloco a chave na ignição e me acomodo no banco.

-Jogaram na mídia que Jake e Lexy têm um relacionamento falso. A merda está pública agora.

-Isso é impossível.

-Não tão impossível se alguém escutou nossa conversa. Abby está louca aqui tentando encontrar quem foi o filho da puta que contou à imprensa, Lexy está surtando e Jake está puto.

-Vince? - Recém-saído da reabilitação, não é bom que nosso guitarrista fique exposto na mídia. Uma merda por vez.

-Na casa do Jake em San Mateo. Ele já ligou querendo saber o que está acontecendo e eu não tenho uma resposta completa para dar.

-Tudo bem, eu já acabei o que vim fazer aqui, estou voltando agora.

-Okay, a gente se fala.

-Até.

Hora de voltar para a realidade e me preparar para mais um grande show da mídia. Sem dúvida que tia A estará ligando para maiores explicações. Nós somos uma estranha família, uma banda e uma irmandade, qualquer coisa que aconteça a um dos nossos todos tomamos partido. É assim que funciona a A5.

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Andrew "Drew" Petterson - Baixista da banda A5

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Andrew "Drew" Petterson - Baixista da banda A5

O Baixista - A5 livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora