O Baixista - A5 livro 3

Capítulo 22

GABRIELA ORTIZ

-Eu sinto muito por eles. Ethan pode ser incontrolável às vezes.

-Não se preocupe. Eles te amam e querem o melhor para você, não posso culpá-los por se preocupar.

-Eles podem ser bem expansivos. - Drew sorri, seu foco totalmente na estrada diante de nós - Na realidade a boca grande grande de Eth nos rendeu muitas brigas.

-Vocês brigam entre si? Pareceram muito unidos para mim.

-Às vezes temos nossos desentendimentos, discussões e socos ocasionais. O que me refiro sobre a boca grande de Ethan é que na época de escola suas zombarias e piadas ácidas irritavam os valentões da escola. Ele era amigo de todos então raramente apanhava, mas acontecia de passar os limites. Quando começavam a bater nele, Jake, Vince e eu corríamos para tentar ajudar. Era uma loucura.

-Como terminava? - Acompanho a risada dele e pergunto sem conseguir esconder meu interesse. Imaginá-los tão jovens e brigões gera uma cena cômica na minha cabeça.

-Tia A sempre era chamada na escola. O diretor da escola sabia que ela era responsável por nós quatro e saímos de lá sendo arrastados pelas orelhas. Tia A é uma mulher pequena, mas pode ser muito perigosa.

-Ela parece ser uma pessoa especial.

-Ela é. Não seríamos nada sem ela. Quando meu pai voltava de suas viagens e começava a beber eu sempre me refugiava na casa dos Hutton. A irmã mais nova de Jake, Sophia, gostava de tentar penteados novos no meu cabelo e quando ela descobriu que era ruivo passou e me ver como uma boneca particular.

-E você não se importava?

-Claro que não. As irmãs de Jake são como minhas próprias irmãs. A mais velha nos convidou para sermos madrinhas de seu casamento. Consegue imaginar nós quatro com vestidos rosa de babados em uma cerimônia de casamento séria? Por sorte Eth desistiu da ideia de se maquiar, eu já me sentia estranho o suficiente com o corpete.

-Oh, Dios mio! - Gargalho alto, sem conseguir visualizar essa cena na minha cabeça, mas imaginando os quatro homens gigantes parados ao lado do altar, em seus vestidos cor de rosa e postura séria enquanto o casamento era realizado.

--Vai me dizer que nunca passou por algo assim?

-Nunca. - Respiro fundo, tentando recuperar minha postura e limpando algumas lágrimas que me escaparam durante a crise de riso - Desde que me lembro fomos sempre eu, minha mãe e minha avó.  Nunca tive contato com a família en Puerto Rico porque elas não queriam me expor. Por mais que eu as ame e elas me amassem também, minha origem não é muito bonita. Às vezes me sinto como o segredo sujo de todo mundo. Enfim, sempre vivi no país e estou bem aqui. Me desculpe, estraguei totalmente o clima.

-Você não estragou nada. - Drew segura minha mão, cruzando nossos dedos e nos erguendo para beijar o dorso de minha mão - Fico feliz em conhecer mais sobre você. Só um idiota não perceberia como você é especial, Gabriela e não quero esconder meu interesse, mas também não quero pressionar as coisas com você.

-Não me sinto pressionada. Isso é só... Tudo muito novo. A maior emoção da minha vida foi terminar a faculdade dos sonhos e começar a trabalhar. Acho que a vida amorosa não é a minha especialidade e por mais que eu tenha tido a minha cota de aprendizagem com livros de romance, a vida real é diferente e tenho medo de estragar tudo. Você é um cara muito legal e poderia facilmente conquistar o cargo de príncipe encantado da Disney.

-Isso definitivamente alimenta meu ego. - Drew dá-me mais um daquele sorrisos brilhantes e me sinto derreter contra o banco do passageiro. Não nos conhecemos a muito tempo de fato, não posso estar apaixonadinha por ele, nem faz sentido - Gosto que me considere um bom partido mesmo com meu passado de merda e minha cabeça fodida.

-Você não é culpado pelas merdas que seu pai fez, Drew. Ele era um adulto consciente de seus atos e escolheu ser um idiota.

-Sabe que com você é a mesma coisa, não é? Downing iludiu a sua mãe, fez promessas que não queria cumprir e ela escolheu acreditar. Eles são os únicos responsáveis por suas ações e você não deveria permitir que ele controle o que você faz ou não com sua vida. Se dependesse do meu pai eu teria desistido de tudo muitos anos atrás ou fugido de casa e sabe-se lá o que seria de mim hoje. Tia A me fez perceber que nós somos os únicos responsáveis por nossas vidas.

-Acho que meu maior problema seja que no fundo, por mais que eu tente negar, de alguma forma eu espero que ele me aceite, que queira ser meu pai e fazer parte da minha vida. Quanto mais eu sonho, mais meus encontros com ele provam que isso nunca acontecerá e machuca muito. Ser uma pessoa madura, bem resolvida e independente é muito mais difícil do que parece.

-Essa história de bem resolvida e independente é mito, Gabis. Ninguém é assim. Você não é um robô capaz de controlar seus sentimentos e fazer sempre o que é certo, você é um ser humano e deveria viver como um.

-E você? Você é um homem maduro, bem sucedido em seu trabalho e tem a vida que muitos apenas sonham em ter. Não se considera bem resolvido e independente?

-Nem um pouco. Tudo o que sou devo a Tia A, foi por ela que trabalhamos tanto para estar onde estamos, para proporcionar uma vida melhor e de alguma forma retribuir tudo o que nos deu. Tenho um passado fodido, minha família de sangue é totalmente desestruturada e tenho mais traumas do que posso contar. Quero um dia poder formar minha própria família e repassar aos meus filhos todos os valores que Tia A nos ensinou.

-Isso é muito bonito.

-E você? Quais os planos?

-Não tenho ideia. - Solto uma risada, quase desesperada pelo que vou revelar a seguir - Para ser sincera nunca pensei além da faculdade. Enfermagem era o meu grande sonho e depois que me formei comecei a trabalhar tudo ficou por aí. Acho que agora estou apenas vivendo um dia de cada vez.

-Andando com meu grupo você terá muitas emoções agora.

-Eu já estou tendo. - Sorrimos um para o outro - Não consigo imaginar o seria ter mais.