Capítulo 2

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GABRIELA ORTIZ

-Buenas noches, mi amor.

-Buenas noches, abuelita. - Desligo o telefone e pego meus fones de ouvido. Desconheço algo melhor que falar com a minha avó depois de um longo dia de trabalho, é como um bálsamo para a minha alma.

O dia no hospital hoje foi exaustivo e mesmo que meu corpo esteja implorando por uma noite de sono preciso continuar minha rotina de caminhada. Sou uma garota grande, não foi algo exatamente no meu controle, já que as curvas começaram a surgir sem permissão alguma e quando notei já estava muito longe do padrão Victoria Secret.

Não que eu esteja fazendo essas caminhadas querendo perder tanto peso, faço em prol da saúde e bem estar, por mais estranho que isso possa parecer para algumas pessoas eu estou muito contente com o meu corpo. Algo de bom no meio do caos que chamo de vida.

Sempre fui a garota esforçada correndo atrás dos seus sonhos, lutando para ter minha independência e minha estabilidade. Fui criada pela minha mãe e minha avó, duas imigrantes determinadas a ter uma vida melhor nos Estados Unidos. Infelizmente minha mãe se apaixonou por um idiota e eu sou sua filha bastarda, mas essa não é a questão aqui, anos depois ela acabou encontrando um trágico fim durante um assalto que deu errado.

Passei o restante da minha adolescência com a minha avó que está atualmente na República Dominicana visitando seus parentes. Graças ao seu apoio e incentivo eu consegui me formar na faculdade e atuar na área de enfermagem, coisa que sempre sonhei em fazer. Eu gosto de ajudar as pessoas e meu trabalho me permite isso.

Meu pequeno drama começou quando fiz exames de checkup e tive algumas pequena alterações que podem ser facilmente corrigidas com atividade física. Eu assumo que tenho uma vida sedentária, mas quando se enfrenta uma rotina tão agitada ao final do dia você só deseja um banho e cama.

Com um pouco mais de prática posso evoluir das passadas para o trote e quem sabe, se eu conseguir me manter fiel aos exercícios, começo a correr. Eu não duvido que minha mãe estaria rindo desse pensamento agora, ela era intensa demais e odiava qualquer coisa que exigisse "de vagar e com cuidado". Ela era maravilhosa. Um pouco do consolo que me resta além das fotografias é o meu próprio reflexo. Mi abuelita diz que eu pareço demais com a minha mãe para o meu próprio bem.

Infelizmente não tenho sua personalidade. Não sou uma pessoa adepta a riscos, festas e movimentada vida social como ela era. Gosto da rotina de casa-trabalho e quando preciso me distrair um pouco saio para comer fora com a minha avó. Uma vida considerada entediante para muitos, mas é perfeita para mim.

Convicta de que estou pronta para o próximo passo, reúno todo o fôlego que consigo e começo a trotar pela calçada que divide a praia da avenida. A esta hora é um lugar vazio e perfeito para gente como eu - que prefere a paz e o silêncio da própria companhia.

O problema foi que eu estava ocupada demais com minhas reflexões sobre exercícios e vida para reparar que havia um obstáculo grande do chão, talvez  uma barreira ou uma mureta colocada no local errado. Eu bati contra a coisa, meu pé virou em um ângulo estranho e não apenas caí de bunda no chão como rolei igualzinha a um barril. O espetáculo foi vergonhoso para qualquer orgulho e posso dizer que meu ego está destruído.

Não apenas o meu ego, já que sinto ardência em meus braços e ainda estou preocupada com o estrago que fiz no pé. Resmungando de dor consigo me sentar e tocar meu tornozelo, aparentemente nenhum sinal de osso quebrado e isso é ótimo. Provavelmente foi apenas uma torção e preciso ir para casa passar a noite com gelo na perna, também preciso desinfectar quaisquer rasgos em meus braços e tomar um banho para tentar recuperar os fragmentos do meu orgulho.

O Baixista - A5 livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora