GABRIELA ORTIZ
Eu me sinto cada dia mais infeliz. As palavras que disse para Drew ficam se repetindo em minha mente e não sei se estou enlouquecendo ou com muito peso na consciência. Nunca fui o tipo de pessoa que acredita em "almas gêmeas", "minha metade", "amor verdadeiro" ou coisas assim, mas já não encontro outra explicação para os sentimentos estranhos que tem me cercado na última semana.
É assustador que eu esteja sentindo falta dele. Só o vi duas vezes! Como, eu pergunto, como en nombre de Dios estou sentindo falta daquele homem? Tivemos um jantar divertido, algumas horas de conversa, não posso sentir falta da sua presença ou da sua voz. Isso nem faz sentido! Seu sorriso fácil, até dócil, seus olhinhos brilhantes, seus perfeitos cabelos ruivos e seu porte de guerreiro escocês. Talvez eu só precisasse de um abraço dele, sentir aquele corpo todo trabalhado contra o meu por alguns segundos e logo passará.
Argh! Seu olhar quebrado quando lhe pedi para se afastar e não me procurar novamente assombrará meus pensamentos até o fim da minha vida. Tudo isso porque sou complicada demais. Meu cérebro grita que estou fazendo o certo, que Drew Petterson não é para mim enquanto alguma coisa no fundo da minha alma diz que estou sendo uma idiota. Uma idiota fazendo o certo e sofrendo muito por isso.
-Qual o motivo por essa expressão de dor? - Senhor Williams, um dos meus pacientes preferidos da área cardíaca, questiona com um sorriso fácil no rosto.
-O senhor não tocou na sua comida. - Coloco minhas mãos na cintura com um olhar repreensivo. O senhor Williams tem uma saúde frágil e por ter presença praticamente constante no hospital nós desenvolvemos uma boa amizade. Apesar de sua personalidade teimosa demais pra o próprio bem.
-Eu não quero essa coisa sem sal. A comida não é importante de qualquer forma, quero saber o motivo por essa cara de coração partido.
-Eu não tenho um coração partido.
-Não?
-Não, eu tenho muito trabalho acumulado e o senhor não quer comer.
-Eu não caio nessa desculpa. Sou um veterano de guerra, docinho, não uma criança subornável.
-Eu concordo, seria muito mais fácil lidar com seus bisnetos.
-Quem partiu sem coração, querida?
-Eu mesma. Conheci um cara incrível e o chutei para fora, não posso falar com ele e esclarecer tudo por que há uma outra parte da minha vida que não pode ser envolvida na confusão.
-Uh, isso parece uma história interessante.
-Não vamos fofocar hoje Will e definitivamente não sobre a minha vida amorosa. Coma a sua comida.
A contragosto o velho senhor empunha seu garfo e remexe um pouco na comida antes de levar até a boca. Ele parece uma criança contrariada, não pude conter o sorriso ao sair de seu quarto e continuar com meu trabalho. Foram mais três horas e meia correndo de um lado para o outro do hospital, preenchendo documentos, auxiliando consultas, realizando checkups e lidando com os procedimentos básicos antes de finalmente terminar meu turno. Os tênis esportivos tornam tudo menos doloroso para meus pés, embora dias mais agitados acabem me destruindo da mesma maneira.
Peguei meu casaco, minha bolsa e chaves antes de sair pelas portas automáticas direto para o estacionamento. Tenho pegado alguns turnos extras para manter minha mente ocupada e evitar o mártir causado por minha grosseria com Drew, o problema é que meu excesso tem cobrado muito do meu corpo. Nesse momento eu só preciso de um banho, comida e minha cama.
Me aproximo do meu carro quando percebo o mesmo veículo cinza que vem me perseguindo na última semana, uma raiva descomunal dominou meu corpo e marchei até lá. Estou cansada disso, não quero mais pensar em Drew, em uma semana mi abuela está de volta e eu não quero mais lidar com toda essa merda. Chega.
Bato meu punho contra o vidro do motorista e o cara com óculos escuros dentro no carro não demora em baixá-lo. Estou tão irritada com isso, colocar alguém para me perseguir é desnecessário e por uma semana é absurdo!
-Senhorita Ortiz?
-Diga ao seu chefe para parar com isso, não o quero mais ao meu redor. Ao contrário do que ele pensa minha vida não gira ao redor dele, isso é imaturo, idiota e infantil. Avise também que se isso voltar a acontecer serei obrigada a chamar a polícia e acredite, eu não tenho medo de digitar os três números. Entendido?
-Sim, senhorita.
-Ótimo! - Me viro em meus calcanhares e marcho de volta para o meu carro. Se o homem me seguir até em casa não apenas chamarei a polícia como também estou pronta para atacá-lo com minha bolsa antes das autoridades chegarem.
Durante todo o trajeto até minha casa eu não vi a coisa cinza pelos espelhos e me senti mais aliviada. O problema foi que ao parar no meu prédio havia um maldito carro preto parado na calçada, mesmo que a cor tenha sido na intenção de "discrição", aquela marca cara estava totalmente fora dos padrões do bairro.
Tomei meu tempo para sair, peguei minha bolsa e verifiquei se estava tudo certo ali, saltei para fora do carro e o tranquei. Balancei o molho de chaves na mão e caminhei tranquilamente até o homem encostado no carro preto. Ele se desencostou da lataria, como se estivesse pronto para me seguir até o apartamento como sempre fazemos, mas não tenho a intenção de deixar essa conversa se estender e se ele está temendo fotógrafos por aqui é um problema exclusivo dele.
-Seu capanga o ligou, não foi? - O sorriso amargo cresceu em meu rosto quando o idiota percebeu que eu não tinha planos de entrar com ele.
-Sim, ele ligou.
-Não quero mais pessoas me seguindo, não é a primeira vez que você faz isso e na próxima chamarei a polícia. Não ligo para suas ameaças e sinceramente não poderia me importar menos.
-Eu não confio em você.
-Idem. Se aos vinte e seis anos não procurei a imprensa o que sugere que o faria agora? Tenho meu emprego, minha vida, não preciso de você ou qualquer merda assim.
-Meu filho não estava sob holofotes antes, essa é a diferença.
-Nunca falei com seu filho e continuará assim. Não volte a me procurar, finja que eu não existo e continue a me ignorar como antes. É um favor que você faz a nós dois.
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O Baixista - A5 livro 3
RomantizmEssa história é de minha autoria, ou seja, DIREITOS AUTORAIS. É sempre bom lembrar que plágio é CRIME! Há coisa melhor do que drama e clichê? Mas é bom avisar, nosso mocinho tem um enorme coração e você acabará caindo de amores. Casamento relâmpago...