Capítulo 11

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DREW PETTERSON

-Então por que ele é o único animal que fala no desenho? - Ethan pergunta jogando uma bolinha contra a parede e pegando-a de volta antes de lançá-la outra vez - Os outros animais não falam. Pelos deuses, eles têm um cachorro falante e todo mundo acha isso normal?

-Cara, você precisa parar de ver desenho. - Jake responde deitado/jogado com Lexy em um dos sofás, seus dedos acariciando a barriga dela - Isso não faz bem para a sua cabeça.

-Gatinho, você será permanentemente proibido de assistir Scooby-Doo de agora em diante. - Maggie acaricia os cabelos loiros do noivo, que tem a cabeça deitada em seu colo enquanto brinca a bolinha.

-Não posso, gata. Sou o melhor babá que existe e agora teremos um pirralho no grupo, precisamos estar preparados!

-É um bebê, Eth. Não uma ameaça a Segurança Nacional, vai demorar um pouco até que ele consiga assistir qualquer desenho com você. - Lexy fala com uma risadinha.

-Todo o clima de amor e romance no ar ameaçam embrulhar meu estômago. - Vince faz uma careta e começa a disparar uma rajada de tiros contra mim em nosso jogo, mas sou rápido em revidar - Caralho!

-Aí está outro ponto. - Lexy engrossa sua voz, aprendemos que ela faz isso todas as vezes que tenta nos impor alguma coisa. Todos sabemos que acaba falhando, mas lhe damos algum crédito pela tentativa - Vocês terão que controlar suas bocas e não falar palavrões perto do bebê.

-Você sabe que sua criança escutará palavrões em algum lugar, certo? - Questiono sem desviar meus olhos da enorme tela plana na parede - Faremos um favor a todos se ignorarmos essa coisa de moral e bons costumes.

-Essa regra é impossível, principalmente se lembrarmos que a palavra favorita do Jake é "caralho". - Vince dá um sorriso malicioso e aproveito sua distração para massacrá-lo na partida -Filho da puta! Vamos outra vez, eu só preciso pegar um refrigerante.

-Pegue um pacote de chips para mim!

Ele concorda e faz seu caminho até a cozinha. Essa deveria ser uma noite da pizza e enquanto nosso jantar não chega eu preciso enganar meu estômago porque estou faminto. Pego a garrafa de água aos meus pés e todo um longe gole antes que eu mergulhe no paraíso dos salgadinhos.

-Alguém viu a Abby hoje? - Eth pergunta, sua bolinha bateu com mais força que o desejado na parede e voltou em alta velocidade contra o rosto de sua noiva. Para a sorte de seu relacionamento o loiro tem um reflexo invejável antes que ele esmagasse a cara de Maggie. Não consegui conter uma risada, porém ninguém mais pareceu notar então recebi um olhar feio e ele se virou para jogar aquela coisa novamente.

-Ela tem estado irritadiça nos últimos dias. - Lexy se aconchega mais contra Jake e não posso consigo controlar a pontada de inveja que sinto ao ver os dois casais juntos diante de mim - Descobrir quem contou à imprensa sobre Jake e eu tem deixado ela paranoica atrás de respostas.

-Nenhuma novidade até agora? - Vince pergunta ao se jogar no sofá comigo, entregando meu pacote de comida.

-Não. - Lexy balança a cabeça - Parece que os sites estão protegendo sua fonte, isso nunca aconteceu antes então é bem estranho.

-Você acham que foi o Patrick? - Ethan pergunta, virando a cabeça no colo de Maggie para nos olhar - Ele está trabalhando com nossa arqui-inimiga agora, não é?

-Eu não ficaria surpreso por ele ter escutado escondido atrás de alguma porta. - Jake faz uma careta - Ele e Kelly trabalhando juntos é bizarro, para dizer o mínimo.

-Parte de mim ficaria feliz se Patrick vendesse os podres dela para a imprensa. - Vince abre um sorriso malicioso - Ele ficaria rico.

-Ela terminou aquele noivado, não foi? - Pergunto.

-Não há confirmação de nada. Só boatos por aí. - Vince toma um gole de seu refrigerante e o coloca no chão antes de pegar o controle novamente - Vamos recomeçar, eu quero chutar a sua bunda.

-Tente.

-E aquela sua amiga do jantar, Drew? - Maggie pergunta despreocupada, eu aceitaria como um questionamento inocente se não soubesse quem é seu cara e como Ethan pode ser interesseiro demais na vida alheia - Não voltou a vê-la?

-Não, ela me deu o fora.

-Você não voltou? Ao menos tentou novamente? - Dessa vez, a dúvida partiu de Lexy.

-Eu sou um cara com modos. Ela não quer me ver de novo então não vou insistir. Preciso respeitar a vontade e o direito dela, achei que poderia rolar algo mais e me enganei. Não é como se eu fosse um maldito stalker perseguindo a garota.

-Isso não te lembrou do ensino médio, não é? - Eth me pergunta, o brilho divertido em seus olhos sendo substituídos por preocupação. Me remexo desconfortável no sofá - Faz anos, cara. Espero que não deixe isso te atormentar.

-O que aconteceu no ensino médio? - Maggie nos olha com curiosidade e dou de ombros, não é como se eu gostasse de falar sobre isso.

-Bullying.

-Não nos encaixávamos no esteticamente belo para o ensino médio. - Jake encolhe os ombros, não muito confortável com o assunto também - Dizem que crianças podem ser cruéis, mas se esquecem dos adolescentes.

Sou um cara grande desde que me lembro. Fui um bebê enorme, uma criança maior que as outras e não havia mudado muito quando cheguei ao ensino médio. Eu simplesmente não parava de crescer. Poderia ter usado o meu tamanho e investido no basquete, futebol americano ou hóquei, mas os equipamentos eram muito caros e eu tinha um pai de merda. Desconto minha ansiedade na comida desde criança, alguém de muito alto eu também era muito gordo. Admiro as pessoas que conseguem se amar assim, mas eu não conseguia, achava péssimo e me odiava. Com toda a frustração eu só comia mais.

No ensino médio as pessoas riram de mim, sempre zombavam e faziam piadas idiotas, alguns caras eram violentos também e eu ainda agia de maneira submissa - mesmo com todo o meu tamanho - porque tinha pavor do meu pai. Quando Eth, Vince, Jake e eu nos cansamos daquilo e começamos a brigar as pessoas passaram a diminuir um pouco a intensidade da merda toda. O problema foi que além de não gostar da minha imagem o excesso de peso me atrapalhava. Eu não conseguia dormir direito, tinha muita dificuldade de respirar e meu corpo já mostrava sinais de cansaço por aguentar todo aquela massa extra.

Tia A me arrastou para a academia com ela, no começo eu me sentia deslocado e perdido, as pessoas pareciam em forma enquanto eu era só um monte de peso extra. O processo foi lento, trabalho e exigiu muita paciência, mas aos poucos consegui trocar toda a gordura por músculo e diminui a frequência de comida na minha boca. Eu ainda como o que quero, quando quero, a diferença é que agora sou mais controlado que antes e consigo me olhar no espelho sem sentir repulsa pelo que vejo. Eu não precisava mais encarar o grande e gordo garoto assustado que temia os ataques de violência do pai, eu não devia mais nada a ele.

O Baixista - A5 livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora