O Baixista - A5 livro 3

Capítulo 24

GABRIELA ORTIZ

-Eu preciso ir, você sabe. - Tento argumentar e nem mesmo consigo esconder o sorriso gigante em meu rosto antes que Drew volte a me beijar.

-É realmente uma pena. - Sua mão permanece em minha nuca, é claro que ele não está preocupado com meu horário de entrada.

-Não posso chegar atrasada estando no estacionamento do hospital, D.

-Tudo bem. - Ele se afasta, um tanto contrariado, a região dos lábios avermelhada e inchada pelo excesso de beijos. Ele é gato de qualquer jeito, ainda não consegui encontrar uma explicação para esse fenômeno - Venho te buscar mais tarde.

-Posso voltar à pé ou pedir um táxi, você não precisa se preocupar. - Pego minha bolsa e meu casaco no banco detrás.

-Querida, você passou o fim de semana na minha casa e está sem seu carro. Vim te deixar e posso te buscar também, prometo esperar aqui como um fodido stalker.

-Não vai mesmo te atrapalhar? - Pergunto desconfiada.

-Claro que não, vou comer na loja de Maggie e de lá vou para a Fiveland. Minha agenda está livre para te buscar no trabalho hoje.

-Totalmente livre? - Minha desconfiança duplica.

-Teremos uma reunião com nosso empresário hoje à noite. Big G quer ser atualizado sobre o andamento do novo álbum. Ele pode ser um bastardo filho da puta ocasional, mas é um ótimo empresário.

-E me buscar não vai te atrapalhar?

-Confie em mim, querida. Não vai. Em oito horas estarei aqui, pode começar a contar.

-Certo. - Sorrio e dou-lhe um último beijo antes de pular de sua picape - Até mais tarde.

-Até. - Dá-me uma piscadela - Qualquer coisa me ligue.

-Sim, senhor. - Fecho a porta com um sorriso bobo no rosto e faço meu caminho para dentro do hospital.

Foi o melhor final de semana que já tive! Sábado passamos o dia com a banda e posso afirmar - com um pouco mais de propriedade - que os caras são loucos e muito divertidos, as mulheres do grupo são umas queridas e adoraria ter encontro com todos, mesmo Abby, a assistente que parece pronta para matar alguém com seu tablet. Domingo Drew e eu ficamos apenas em seu apartamento... Curtindo a experiência.

Ainda não sei dizer qual é melhor. Conhecer os homens que por tanto tempo foram declaradamente a paixão da minha vida ou ter um final de semana incrível com o que eu mais amava deles. Sinceramente nunca estive tão sexualmente ativa na minha vida, mesmo com meus parcos namoros, e me sinto maravilhosa.

É incrível ver como Drew gosta de meu corpo sem se importar com meu peso ou o preenchimento do meu corpo. Não que para mim seja um problema, mas quando seu parceiro não está envolvido é... Desanimador? Brochante? Creio que brochante seja um bom termo. Com ele é diferente, Drew parece gostar tanto do meu corpo como é que não me sinto envergonhada de maneira alguma com ele.

Praticamente flutuando de tanta felicidade, cumprimento os seguranças da entrada e todos no caminho até a ala da enfermagem. Cantarolando alguma música romântica da A5 guardo minha bolsa e meu casaco no armário, vou para o refeitório das enfermeiras pegar um café antes de começar as rondas. Estive tão ocupada em minha felicidade, com unicórnios e arco-íris que demorei para perceber o clima deprimente no lugar.

-Oh, bom dia, Sally! - Cumprimento minha colega da ala cardíaca, ao perceber que ela está logo atrás de mim na cafeteira.

-Gabis, estive tentando te ligar a noite toda. Onde você esteve?

-Desculpe, eu estava com uma pessoa. O toque que tenho para o número do hospital não tocou então não me preocupe. Você sabia que eu estaria de folga no fim de semana, o que foi?

-George Williams teve complicações durante a cirurgia de peito aberto no sábado. - Seus ombros caíram e de repente toda a neblina de felicidade que me rodeava se dissipa em velocidade máxima.

-O que?

-Ele foi levado para o quarto, o quadro teve uma piora durante a noite e ontem os médicos praticamente acamparam em seu quarto. Ele não resistiu a mais uma noite. Fizemos tudo o possível, mas ele veio a óbito durante a madrugada de hoje.

A notícia caiu sobre mim como uma bomba. Na área da saúde perdas infelizmente não são raras. Claro, há áreas mais propícias que outras. Uma certeza que todos temos na vida é que um dia vamos morrer, mas lidar com a morte é difícil.

George Williams era um veterano da guerra do Vietnã que tinha um casamento sólido há mais de cinquenta anos, quatro filhos e pelo menos dez netos dos quais ele falava muito. Sua família era tudo que ele mais amava na vida, sobre quem ele tanto contava para toda a equipe médica e estavam constantemente visitando-o durante suas passadas neste hospital.

Sua partida faz-me, mais uma vez, pensar em como algo precioso como a vida consegue ser tão frágil. A concepção e o nascimento, gerar uma nova vida, é praticamente milagroso. Nós nascemos, crescemos, amadurecemos e envelhecemos. Nos apegamos a pessoas, criamos laços, criamos amizades, constituímos nossa própria família para nossos entes queridos sofrerem por uma perda tão dolorosa.

O senhor Williams, Will, era um senhor risonho e piadista, com muitas histórias para contar e lições de vida para ensinar. Agora tudo o que são lembranças e luto. A dor da perda um dia diminui, mas a saudade causada pelas lembranças permanecerá para sempre.

Esse dia de trabalho foi particularmente difícil. Todos os funcionários do hospital pareciam estar afundados em seu próprio luto, lidando com a perda que mesmo anos de profissão não conseguem amenizar o baque quando um paciente tão encantador e querido se vai. Você não tem direito a sofrer aqui dentro, você não pode sentir falta porque um paciente se foi, mas inúmeros outros restam precisando de ajuda. Há pessoas para salvar, para ajudar e confortar.

Essa é a dura realidade de um hospital. A discrepância entre comemorar um bebê sobrevivente de um parto difícil e sofrer pela perda de um paciente querido. Eu sabia que enfrentaria isso quando escolhi minha carreira na área da saúde, mas não importa quanto você se prepare psicologicamente, cada perda conta. Cada óbito pesa. Assim como cada cirurgia bem sucedida ou parto realizado alegra. É o ciclo da vida.