– Com que frequência isso acontece? – perguntou Doutora Melissa Becker na sala de minha casa, uma mulher exuberante que tratava de problemas sociais. Espero que ela tenha encontrado casos piores que o meu.
– Nem sempre. – respondi.
– Uma vez por semana, duas?
– Escute. Quando acontece, eu não sei. – eu disse, porque definitivamente era verdade. Mas Melissa era uma mulher muito persistente.
Dr.ª Melissa deixou a prancheta de lado e se inclinou para frente, olhando em meus olhos com uma tonalidade de realeza. Ela tinha aquele poder, de fazer as pessoas se sentirem melhor. Usava óculos e tinha um cabelo com um corte à altura da orelha, era gordinha e se vestia como uma atriz de cinema.
Há sete anos Melissa vinha me tratando. Eu tinha encontros com ela quase todas as semanas. Ela sempre vivia tentando me colocar para cima. Ela sabia da minha real situação e me apoiava em tudo. O fato de mudarmos de cidade não fora problema, era uma das razões de eu gostar dela. Ela nunca deixava um paciente antes de ele ter melhorado.
– Não é porque você não reconhece, que não tenha acontecido de verdade. – disse ela toda desafiadora. Seu olhar sempre penetrante.
– Eu só disse que não me lembro de quando acontece.
– Mas, com que frequência?
Eu perdi meu raciocínio.
– Ah, sei lá. Umas duas vezes por semana.
– Viu. Nós chegamos a algum lugar.
Tentei não dar uma risadinha, mas não consegui. Ela retribuía, sempre retribuída desde pequeno.
– Achei que isso tinha parado.
– Às vezes quando a pessoa piora, tudo volta em dobro. Você deve aprender a se acalmar. Está tomando os remédios que eu pedi?
Assenti com a cabeça, embora não queria tomar aquela droga. O máximo que aquilo me deixava, era com dor de cabeça e uma sensação horrível no estomago e um gosto ruim na boca. Mas era oque me deixava ileso de problemas futuros. Odiava as coisas obvias.
- Você diz que não se lembra do que aconteceu?
- Eu não me lembro. Foi como antes.
– Depois que seu pai morreu você quer dizer? – ela me perguntou. Ouviu aquelas palavras de outra pessoa me afetava. Eu poderia ignorar essa sensação.
– Sim.
– Então continua ouvindo vozes?
– Correto.
– Oque elas dizem?
Tentei pensar, mas não conseguia entender oque elas falavam.
– São sussurros, pessoas em agonia e sofrimento a minha volta. Elas me pressionam e me pedem coisas.
Melissa já havia ouvido de mim tudo aquilo, mas parecia querer saber mais sobre meu atual estado.
– Faz dois anos que isso parou. Tem algum motivo que o leve a ter esses sintomas novamente. Alguma coisa recente aconteceu?
Eu queria falar sobre minha “explosão de sentimentos raivosos do mundo”, mas não conseguia liga-los a Lisa, nem a Jake ou Kian. Então fiquei quieto esperando que Melissa falasse novamente.
Então Dr. Melissa pegou a prancheta novamente e segurou a caneta entre os dedos. Mordeu a ponta dela e apontou para minha direção. Ela se acomodou mais na cadeira e disse:

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Kian
RomanceTommy Jacobson sofre de depressão e transtorno de personalidade, depois que seu pai morreu. Traumatizado por esse motivo, ele se tornou alguém antissocial e instável, tendo dificuldades de manter a própria vida sem ajuda médica. Mas quando se muda...