Capítulo Dezesseis

6 1 0
                                    


O sol deixava os cabelos de Megan iluminados. O loiro resplandecia e deixava seu rosto mais magro, belo e muito mais conhecido. Aquela garota era se não para mim a pessoa mais importante que me restou, depois de minha mãe. Agora, depois do que fiz com ela, não era nada se não um inconveniente temporário. Eu sei que não devia ter feito aquilo com ela e que não devia ignorá-la. Acontece que não havia outro jeito. Megan era para mim um lembrete vivo do que aconteceu.

– O que veio fazer aqui? – perguntei olhando a cidade lá em baixo. Viva e silenciosa ali de cima, como uma grande TV muda.

– Uau, nem mesmo um pedido de desculpas? – ela perguntou tentando encontrar meus olhos.

– Não me sinto culpado. – eu disse finalmente olhando para ela. – Minha mãe e eu tínhamos que sair de lá. – Eu fiz o que fiz, porque tinha que ser assim.

– Desaparecer sem deixar um recado? – Megan tinha na voz algo bravo, mas também receoso. – Faz ideia de como eu fiquei quando cheguei em sua casa e a encontrei vazia? Falo literalmente.

Eu não fazia ideia do que ela poderia ter sentido. Erámos amigos desde crianças e eu sempre tive dificuldades de conhecer os sentimentos dela. Era uma garota fechada e mal criada. Toda nossa relação, porém, era preenchida por um enorme vazio. Abraçamos um ao outro porque ambos não tínhamos ninguém.

– Eu disse que ia me mudar.

– Você disse. – Megan franziu os olhos. – Mas quando se recebe um aviso desses, é natural vir o "quando" junto.

Eu sei que estou errado.

Minha mente se apagou há muito tempo. Eu me importava com Megan, realmente. Dias e dias juntos nos corredores da escola, no pátio, foram dias tão ótimos. E embora essa relação fosse superficial, acabamos criando um laço de afeto e companheirismo. Éramos crianças e gostávamos de estar juntos. E conforme o tempo foi passando e fomos amadurecendo, percebemos que o que éramos já não era mais uma simples amizade, era algo bem menor que isso. Foi o que sempre achava.

– Me desculpe. – eu disse quase num sussurro.

– Como é? – perguntou Megan como se apenas o sussurro não fosse realmente necessário.

– Você pode me desculpar? – perguntei dessa vez, alto.

Megan apenas sacudiu a cabeça em afirmação, olhando meu rosto. O tempo nos concebeu um momento que já nos era familiar. Todas as vezes que eu me desculpava com Megan por qualquer discussão, ela afirmava com a cabeça e franzia os olhos. Naquele momento ela fizera exatamente a mesma coisa. Os velhos tempos vieram como um meteoro em minha mente e então a gente sorriu.

Megan me abraçou repentinamente.

– Senti sua falta.

Eu a abracei também, esperando que aquilo tudo fosse verdadeiro, pelo menos pela minha parte. Megan era uma velha amiga, uma conhecida de anos. Mas verdadeiramente não me fazia se sentir feliz. E o pior de tudo e o motivo de eu estar aqui, era porque ela sentia exatamente o contrário em relação a mim. E isso era um problema sério.

– Muita coisa mudou desde que eu cheguei. – eu disse olhando a cidade banhada de sol lá embaixo. – no entando, parece que tudo continua a mesma coisa.

– Talvez não fosse o lugar em que estava. – disse Megan. – Ás vezes somos só nós mesmos.

– Megan. – eu a olhei em repreensão. – Meu pai morava lá, você sabe. Sabe de tudo que estou falando.

KianOnde histórias criam vida. Descubra agora