Eu daria qualquer coisa (qualquer coisa mesmo!) para ficar na cama por mais dez minutos. Porém minha mãe tinha seu jeito de me tirar na cama na hora em que ela desejasse. Ela simplesmente retirava o cobertor de mim e abria todas as portas e janelas, porque sabe que eu odeio dormir com qualquer tipo de claridade! Acho que tenho que bolar algum plano para tirar meus dez minutos de soneca.
Eram apenas oito horas da manhã. Quando me aproximei do espelho tive um acesso de terror por todo meu corpo. O resultado de minha ira na noite anterior estava gravado em meu rosto. Meus cabelos castanhos pareciam ter sofrido uma passagem de furacão, meus olhos estavam pesados e cansados, cheios de remela. Enxaguei o rosto e me sequei com uma toalha. Tomei meus remédios da manhã e vesti uma roupa simples. Um short jeans azul, como uma camiseta branca listrada. Eu não tinha tempo - ou a preguiça não deixava - para arrumar meu cabelo, então eu tinha um truque. Eu usava uma touca para esconder tudo de uma vez. Coloquei meus óculos e me avaliei no espelho: "Dá para enganar!".
Estava pronto para encarar mais um dia inútil.
Quando desci para a cozinha, minha mãe ainda estava de pijama - ela nunca se importava de se vestir adequadamente - eu me aproximei da bancada que cortava a cozinha com a sala e me sentei no banquinho.
- Bom dia. - eu cumprimentei. Ela se virou para me ver. E sorriu.
- Bom dia querido. - ela voltou a coar o café, passou a mãos nos cabelos e inclinou a cabeça para me ver. - eu consegui uma entrevista no centro de medicina aqui da cidade. Talvez eu inicie hoje mesmo.
- Você não havia pedido transferência?
Ela fechou o sorriso.
- Eu pedi demissão, não queria preocupar você. Nós tínhamos que fazer essa mudança.
Eu fiquei ali, olhando para ela. Até quando ela iria fazer isso? Minha mãe era formada em medicina e desde a sua formação ele trabalhava em um grande hospital de Sou Park. Ela era uma médica excelente e sabia muito bem como cuidar das pessoas. A minha vantagem é que quando eu fico doente, de certo modo, eu não preciso ir ao hospital, um local que não gosto, porque é lá que as pessoas morrem e não me da nenhum conforto, apesar de eu declarar oficialmente o fim de minha vida. Mas minha mãe nunca escondia as coisas de mim, acontece que ela estava me protegendo. Isso não poderia ficar sempre assim. Eu estava crescendo. Ela não poderia tomar toda a decisão sozinha. Éramos apenas eu e ela agora, tínhamos que organizarmos nossas vidas se nós quiséssemos mesmo continuar seguindo em frente.
- Mãe - ela olhou para mim apreensiva. - Você devia ter me avisado.
- Desculpe querido. - ela retirou o café da pia e colocou a tampa, levou-o até a bancada e buscou duas xícaras. - da próxima vez vou consultar você.
- Acho melhor consultar antes de fazer uma mudança inteira. - eu disse ainda olhando em seus olhos.
Ela riu, colocando café nas xícaras.
- Sabe que tudo que faço é para...
- Me fazer feliz. - terminei. Eu ergui a mão e toquei seu rosto, ela estava quente e viva. - só em você estar aqui, eu já me senti ótimo. Sua presença me deixa feliz.
- Eu te amo. - ela disse.
- Eu te amo mais, mãe. - sorrimos. - quando é a entrevista?
Ela suspirou.
- Dentro de duas horas. - ela disse meio encolhida. - estou um pouco nervosa. É uma unidade enorme, parece bem interessante.
- Você vai conseguir. - eu a incentivei. - o hospital seria babaca se não aceitasse a melhor médica do mundo.

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Kian
RomanceTommy Jacobson sofre de depressão e transtorno de personalidade, depois que seu pai morreu. Traumatizado por esse motivo, ele se tornou alguém antissocial e instável, tendo dificuldades de manter a própria vida sem ajuda médica. Mas quando se muda...