Eu devia ter levado uma blusa para o frio. Já havia começado a sentir meus dentes batendo e os dedos das minhas mãos ficarem dormentes. Eu não sairia sem tomar uma decisão extrema. Só assim eu poderia realmente ganhar coragem para pôr o pé fora de casa.
O som era estridente. Da rua de minha casa eu escutava a batida. O som de uma guitarra solo puxando as cordas num agudo intenso. Eu sou muito fã de Rock, mas não sou fã de gente. E sei que lá haverá muitas delas. Eu poderia voltar, mas tenho que me encontrar com Kian e seu sorriso maldito. Porque devia encontra-lo? Para por um fim nisso tudo! Ou talvez simplesmente eu queira fazer um amigo de verdade. Kian não parecia uma pessoa como todas as outras. Ele era diferente, estranho, mas diferente. Talvez ele possa me ajudar naquela pequena ansiedade que tenta me vencer a todo o momento promiscuo da minha vida. É... o fato é que eu não sou muito bom no que estava fazendo.
Chego à praça e localizo Kian sentado no mesmo banco em que nos conhecemos. Ele estava sozinho, apenas olhando para a tela de seu celular e desviando o olhar apenas para ver se eu estava chegando. Foi nessa hora que ele me localizou e acenou.
- Eu falei cinco minutos! - queixou-se quando me aproximei.
- Eu vim, não vim? - resmunguei.
- Vamos logo Tommy!
Kian me pegou pelo pulso e me puxou em direção à estrutura, onde de longe eu conseguia ver algumas pessoas no placo. Não via barreiras, não via grades, nem uma entrada para o show. Estava a céu aberto, para oque der e vier. Todos que se amontoavam a volta do palco eram adolescentes, como eu. Mas logo vi algum pessoal mais velho abarrotado a um canto junto de um poste de iluminação. Lá na frente eu pude ver uma mão erguida e automaticamente a reconheci como a mão de Jake. E foi para lá que Kian me arrastou em meio à multidão.
- Até que em fim. - disse Jake quando nos aproximamos. - Jason vai fazer o solo daqui a pouco. Se você perdesse eu juraria que enfiaria sua cabeça no vaso sanitário no inicio das aulas.
- Como você é humilde Jake. Sai pra lá. - bufou Kian. Ele ainda segurava meu pulso com intensidade, me arrastou para perto deles. - se não fosse por esse camarada aqui eu não teria perdido nenhum pouco dessa joça!
- Você insistiu para eu vir.
- Há meia hora.
- Calem a boca e deixem a briga pra depois. - reclamou Jake. - Alias você não vai perder Jason no solo!
Jake se aproximou ainda mais do namorado e o agarrou, passando as mãos pelas suas costas. Kian foi forçado a soltar meu pulso. Foi um tremendo alívio, ali, ficaria uma marca. Era uma das coisas que eu odiava em amigos, eles me deixam marcas físicas e psicológicas. Todas mostravam o quanto à pessoa me magoou. Porém Kian nada mais fez do que me arrastar para o show, para tentar me divertir e apreciar essa banda desconhecida. Eu esfreguei meu pulso enquanto Jake e Kian se atracavam no amasso.
O vocalista da banda era loiro e magricela, segurava o microfone como se fosse devora-lo. Estava sem camisa e usava uma calça larga branco-prateada. Ele fazia movimentos com o corpo como se fosse uma serpente, indo de um lado para o outro do palco. Ridículo. Avistei o guitarrista, usava uma camisa preta comum e tinha um corte de cabelo legal, tinha o físico atraente para as menininhas, tinha um rosto ideal, que para mim, considero essencial para arranjar qualquer garota. O baixista era gordo e tinha uma barba pontiaguda no queixo, seus olhos eram azuis. O baterista erguia os braços e os abaixava com força para tirar o melhor som do tambor. Eu vi seus braços fortes, cheio de veias pulsando sobre a pele. Era o cara mais estranho que já vi na minha vida.
Tentei observar o local. A maioria que dançava, pulava, gritava e se contorciam eram pares. Menino com menina, menina com menina e menino com menino. Deu a entender que aquela banda de rock era ligada ao público gay. Naquele momento tive um ataque de surto.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Kian
RomanceTommy Jacobson sofre de depressão e transtorno de personalidade, depois que seu pai morreu. Traumatizado por esse motivo, ele se tornou alguém antissocial e instável, tendo dificuldades de manter a própria vida sem ajuda médica. Mas quando se muda...