Capítulo Quatro

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A noite era fria e linda, como os olhos dela.

Saímos para o lado de fora depois que dançamos algumas outras músicas. Confesso que estou meio tonto e zonzo com a mínima quantidade de álcool que eu ingeri. Não sou muito fã de bebida e nunca beberia até ser dopado, mas acontece que não tenho limites e não conheço as dimensões que tudo proporciona quando se está bebendo.

Uma vez sai com um grupo de amigos (colegas de classe) para uma festa num galpão perto do colégio. Megan e eu adorávamos sair juntos e se divertir sempre que podíamos. Neste dia meu pai chegou até mim e disse: "Quando eu tinha sua idade, eu saia e bebia feito louco, quando acordava na manhã seguinte, eu não sabia quem eu era". Eu ri por um momento e depois perguntei: "Está querendo dizer que é para eu beber feito louco?". Ele sorriu bondosamente: "Isso é exatamente oque estou querendo evitar. Mas não se pode não fazer oque te deixa feliz. Por isso eu bebia".

Então quando eu e Megan partimos para encontrar os outros, eu tinha em mente algo que meu pai gostaria que eu fizesse. Quando chegamos lá, eu me sentei em um dos bancos que ficavam nos cantos da festa e não bebi nenhuma gota de álcool, porque isso me deixava feliz.

Naquele momento em que havia ingerido álcool suficiente para me deixar tonto, eu finalmente percebi que meu pai foi feliz em todas as festas.

Kian e Jake estavam a uma distância significativa, sentados em um banco. Jake passava o braço pelo pescoço de Kian enquanto encostava seu nariz em seu cangote. Kian estava falando algo para ele, bem baixinho. O amor poderia ser lindo se eles não fossem tão melosos.

Lisa estava sorrindo ao meu lado. Estávamos sentados a outro banco de frente aos garotos. Falávamos sobre a estrutura velha de J. Q. Robins, eu havia concordado quando Lisa falou dessa maneira, sei lá o motivo. Havia pessoas andando e conversando a volta, para mim, nenhuma delas era um incômodo.

- E então, quando os conheceu? - eu perguntei apontando para Kian e Jake.

Lisa colocou os cabelos para trás das orelhas. Ela usava brincos brandos e luminosos que combinavam com seu tom de sua pele.

- Bom. Conheço Jake desde o jardim de infância, crescemos juntos. Eu que tive que atura-lo quando ele ainda sofria da fase "hetero". Quando um dia no meio de uma briga, Jake de tanta raiva soltou que estava a fim do garoto que estava brigando, e deu um selinho nele. Resultado! Um olho roxo e um dente quebrado.

- Isso é terrível.

- Oque, por ele ter beijado o garoto ou ter levado uma surra?

- Os dois. - eu disse. - primeiro, ele estava errado achando que se beijasse o garoto, ele retribuía. Sabe, nenhum valentão admitiria que gostasse de garotos no meio de seus seguidores. Segundo, o garoto não precisava agredi-lo, porque mesmo se ele gostasse de Jake, iria se sentir mal.

Lisa concordou com a cabeça.

- Depois desse dia ninguém na escola tratou Jake da mesma maneira. E isso foi muito para ele. Quando começou a ficar com garotas, todas elas tinham certo receio de que ele só ficava com elas para ser aceito. Mas não, eu conheço Jake suficientemente bem.

Eu me lembrei da vez que o Jake reclamou quando Kian falou que o show daquela banda estranha era para o público homossexual. Lembrava recentemente Jake discordando que não era homossexual.

- Então ele é bissexual?

- Tenho a devida certeza. - Lisa sorriu. - ele foi como um irmão para mim. Acredito que Jake é feliz com Kian.

Olhei novamente para eles. Estavam apenas de mãos dadas. Eu em nenhum momento da minha vida pensaria que fosse ter algum amigo gay ou bissexual ou como queiram ser chamados. Jake e Kian não pareciam um casal gay. Sinceramente parecia dos homens postos um ao lado do outro, só que muito próximos. Acredito que devo deixar minha crença de que todo gay é afeminado, e passar a olhar para Kian e Jake de uma forma mais humana.

KianOnde histórias criam vida. Descubra agora