Eu abri os olhos em minha cama. Depois da noite de ontem me sentia péssimo. Eu não sabia que apenas uma noite qualquer iria me destruir. Quero é ficar ali deitado encarrando o teto até me trazer um desejo sarcástico de sono. Eu estava de cueca, porque vomitei em minha roupa toda. Tomei um banho rápido e pulei na cama com uma sensação de peso e ânsia. Minha mãe já estava dormindo e eu não queria incomoda-la, mas o bilhete não estava mais lá. Havia outro no lugar escrito: "Divirta-se, meu anjo".
Levantei-me para apenas tomar meus remédios, cinco comprimidos ao todo e um copo de água da torneira do banheiro. Me encarrei no espelho e meus cabelos estava bagunçados. Resolvi penteá-los quando alguém bateu a porta.
- Querido? Está acordado? - perguntou minha mãe.
- Sim. - respondi.
Ouvi a entrando no quarto e fechando a porta, ouvi quando a cama rangeu quando ela se sentou.
- Queria falar com você.
Eu encarrei a mim mesmo no espelho. Minha mãe nunca aumentou a voz para mim, ela era sempre calma e tranquila em todas as discussões, era assim também com meu pai. Eu sabia que ela iria falar sobre a noite passada, e eu não queria a deixar preocupada. Fui até a porta e me encostei a ela mantendo-me na visão de minha mãe.
- Sim. Do que gostaria? - perguntei tentando parecer calmo.
- Se divertiu ontem à noite? - ela perguntou. Uma pergunta simples para qualquer adolescente simples, mas no meu caso; diversão era algo que eu desconhecia.
- Acho que sim. Kian é um cara legal.
- Hmm. - ela olhou em volta no meu quarto.
- Oque foi?
- Você chegou tarde ontem. - ela disse, seus lábios tremeram. - fiquei preocupada.
Caminhei até o lado dela e me sentei pronto para a encarrar nos olhos.
- Mãe. - eu sei que tudo que passava pela minha cabeça naquele momento não sairia pela minha boca. - Foi legal ontem. Quando eu cheguei você já estava dormindo. Conheci outras pessoas no show. Tudo ocorreu bem.
Ela pareceu mais aliviada com minha resposta. Não sei direito porque ela sempre agia assim, quando eu passava muito tempo com pessoas desconhecidas. Ela sempre me falou que a juventude era algo a ser explorado. Porque então agia assim?
- Sabe que tudo que eu quero...
- É a minha felicidade. - eu a interrompi. - Mãe, está tudo bem mesmo.
Ela abriu um sorriso de um canto a outro.
- Megan ligou hoje cedo. - ela disse, oque respondia a tensão dela. - queria falar com você, mas estava roncando como um leão. Então achei melhor deixar pra lá.
- Ela não vai desistir né?
- Essa garota gosta mesmo de você. - minha mãe sorriu.
Eu não fazia ideia do porque eu fiz aquilo. Não falei com Megan quando me mudei. Isso naquele momento não me fez me sentir tão mal. Agora sinto como se todo o meu peito fervesse em agonia, sentia algo borbulhando dentro de mim como se eu quisesse gritar o nome de Megan e lhe pedir desculpas.
Abracei minha mãe inesperadamente. Seus braços me confortavam e era o único lugar na terra em que me sentia seguro. Como se nada pudesse me ferir. Quando sinto os braços dela me apertando com um carinho desejável eu me sentia forte, sempre um pouco mais forte.
- Chris vai me levar a um tour pela cidade. Gostaria de vir? - perguntou ela.
- Ah mãe. Tudo que eu mais quero é dormir e nunca mais acordar.
Eu não sabia como aquelas palavras afetavam minha mãe. Mas acho que ela entendia o seu significado.
- Vai ser bom querido. Podemos ir ao Subway e deixo você pegar o maior!
- Você quer acabar com minha boa forma?
Nós dois rimos juntos.
- Tudo bem. - disse por fim. - eu vou.
- Vou levar o Pubi. Chris adora cachorros.
Eu a encarrei por alguns segundos avaliando seu sorriso. Eu definitivamente não queria saber oque ela pensava, mas seria bom, sim, pra ela formar e planejar um futuro. É o que as pessoas comuns fazem.
- Fala sério. Logo o Pubi? - perguntei sorrindo.
- Você só ainda não percebeu que ele é o melhor cachorro do mundo.
Ela se levantou e me deu um beijo. Depois que ela saiu do quarto eu voltei a deitar na cama, meu cabelo ainda todo despenteado. Não vou falar que não gosto dele assim, porque não seria verdade. Todos os meus pensamentos voltavam a Kian, Jake e Lisa e suas incríveis qualidades de serem completamente deslocados em si próprios, e oque cada um tinha em relação comigo. Kian era muito extrovertido e vivia sorrindo, Jake mal dizia uma palavra e me fazia pensar todo o momento sobre aquela cena com a garota chamada Maria, Jake era bissexual! Além de perceber que ele me odiava. E havia Lisa. Meus pensamentos voavam como folhas ao vento ao pensar em seu rosto. Algo lindo e exuberante. Ela tinha um humor complicado, de repente estava feliz, outrora uma assassina de olhares frios. Algo que chama minha atenção.
Quando resolvi me levantar da cama, sinto que devia ligar para ela. Ou mandar uma mensagem pelo AppBood, sei que ela responderia. Esperei um tempo para resolver colocar uma camisa e um short e pegar o meu celular. Fui até o número dela e fiquei olhando para ele. Meus dedos tremeram, meu coração palpitou. Meus olhos cerraram e brilharam de lágrimas. Eu não poderia fazer isso sem entrar em pânico. Oque eu iria falar para ela? Desligo o celular e o jogo na cama querendo que ele desaparecesse da minha linha de visão. Eu estava zangado comigo mesmo. Oque era basicamente natural. Logo vinham as perguntas: "Oque ela vai querer com você?". "Você é feio e muito esquisito". "Não cara! Nenhuma garota vai querer você!". Sentei-me na beirada da cama e fiquei olhando para o piso. Branco e limpo demais - minha mãe era perfeita - mais isso não ajuda em nada, ficar pensando.
Levantei-me e peguei a calça da noite anterior. A moeda ainda estava ali. Eu não gostava dela, me fazia sempre se lembrar de meu pai. Uma tortura que minha mãe carregava desde que ele morreu, agora havia me dado. Eu sabia que a história da sorte era um completo absurdo. Meu pai não era idiota, mas acreditava e dizia que funcionava sempre. Eu não poderia fazer isso com a Lisa, mas se fiz com Kian, porque não valeria a pena tentar? "Coroa".
Joguei a moeda para cima e a vi rodando velozmente no ar e subir como um jato de água, ela perdeu a força começou a voltar. A energia cinética se transformara em energia gravitacional, não havia como eu evitar, pois gostaria que aquela moeda ficasse girando ali no ar, para sempre.
Agarrei-a e a coloquei sobre a palma de minha outra mão. Eu poderia ter uma amizade com Elisabeth? Essa amizade poderia se tornar algo a mais? Ela poderia se interessar por mim? Eu mal a conhecia, eu queria a conhecer, mas não quero feri-la. Não valia a pena ser amigo dela e não a nada que eu mais queira do que ficar longe de pessoas que se apaixonam por mim ou que eu poderia me apaixonar. Ela detestaria se isso acontecesse. Porque eu sei que a qualquer minuto eu a magoaria e a destruiria.
Qualquer sinal de amizade desapareceu quando olhei para o lado caído da moeda. Não era coroa. Fechei minha mão em punho e abri a gaveta mais próxima do criado-mudo. Coloquei a moeda com força e fechei-a com o pé, tão forte que senti o criado-mudo rangendo. Tinha mais raiva de mim agora do que antes. Porque aquilo era só uma maldita moeda!
A porta se abriu e Pubi entrou com seu rabo balançando e sua língua para fora. Ele estava quebrando a principal regra: ficar longe de mim. Mas naquele momento eu o vi como o único e verdadeiro amigo desde os tempos sombrios. Era ele quem sempre estava comigo. Eu o peguei no colo e ele começou a lamber meu rosto. Foi nessa hora que percebi o quando minha mãe tinha razão.
- Ei calma aê. - eu estava sorrindo. - vamos dar uma volta garotão.

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Kian
RomanceTommy Jacobson sofre de depressão e transtorno de personalidade, depois que seu pai morreu. Traumatizado por esse motivo, ele se tornou alguém antissocial e instável, tendo dificuldades de manter a própria vida sem ajuda médica. Mas quando se muda...