Kian

Capítulo Dezoito

A música estava alta e nossas mentes dançavam em um turbilhão de pensamentos. Elsa, Aaron e Jason nadavam na piscina, jogando respingos de água uns nos outros. Kian e Jake estavam na cozinha preparando uma sobremesa que Jake aprendera quando criança com a avó. Lisa e Kate ainda estavam sentadas nas almofadas, Kate deitada de costas sorria de dito por Lisa, que ria junto com a própria piada. Eu estava sentado na muretinha, tocando a água de leve com a mão esquerda e conferindo constantemente meu celular com a direita, quieto e aliviado com tudo que passou aquela noite. Ver os rostos julgáveis das pessoas a minha volta era meu maior temor, minha própria destruição. Mas os rostos que via ali era completamente o oposto. Todos estavam sorrindo e nenhum deles me tratou de qualquer outra forma que não o respeito. E isso para mim, já bastava tudo.

NãoMaisSuspeito: Tá ai?

Eu havia mandando uma mensagem para Megan. Contar sobre mim as pessoas me dava medo e calafrios, uma agonia na boca do estômago. No entanto eu fiz, e estava animado quanto a isso. Megan era a única pessoa, além de minha mãe, que partilhei desse momento difícil em minha vida. Testemunhar a morte de uma das pessoas que mais admirava e não puder fazer nada a esse respeito, ainda muito pequeno. Megan, no entanto não voltou ao aplicativo desde a última vez que a vi online.

Até então tudo que era para ser um pesadelo se tornou um refúgio. Eu tinha amigos. Amigos de verdade que me chamavam para festas, por assim dizer. Eu tinha Elsa e seu namorado Aaron, e o amigo Jacob, que também não era de falar muito – que no caso era por falta de entender as palavras. Eu tinha Kate; uma menina doce, meiga e porcalhona, mas que era uma ótima pessoa, linda do jeito dela. Havia Jake, o garoto meio sinistro que outrora não fora com minha cara. Todos eles estavam ali agora mesmo, trocando risos e piadas. Sendo amigos.

Notei Lisa e Kate levantando-se das almofadas quando coloquei o celular no bolso. Kate fugiu para as cozinhas avaliar o estado da sobremesa, e Lisa veio sorrateiramente ao meu lado, sentou-se na mureta e de primeira olhou para as pessoas na piscina, depois me avaliou.

– Foi incrível hoje. – ela disse.

– É. Realmente, hoje foi incrível. – eu concordei.

– Falo de você. – Lisa sorriu, seus olhos eram grandes e brilhavam. – Foi incrível o que falou e trágico de certa forma. Jamais poderia me expressar desse jeito, eu talvez não suportasse. Eu sinto muito mesmo Tom.

Olhei para o chão como que de costume. Imaginar minha vida, o que aconteceu comigo desde que presenciei a morte de meu pai em outra pessoa é estranho. Seria que eu entenderia a pessoa que estivesse em meu lugar, eu me importaria com ela? Ou poderia pensar que os problemas dela não me interessavam e me afastasse dela como se ela fosse louca? Fechei os olhos fortes, imaginar algo assim era mais doloroso.

– É por isso que eu sou assim, acredito. – eu disse, e dessa vez olhando para os olhos de Lisa. – Minha médica disse que podemos viver com o passado para sempre, remoer aquelas memórias tão profundas que nos esquecemos de viver. Não percebi até hoje à noite, que estava carregando isso tudo comigo na esperança de que desaparecesse para sempre e eu melhorasse. Mas Kian tem razão, isso nunca vai desaparecer de dentro de mim. – Megan também me disse coisas assim, mas mencioná-la era retomar tudo de volta a dor.

– Escute. – Lisa se aproximou mais de mim, e olhou em volta caso alguém estivesse escutando. – Sabe por que eu não contei nenhuma história hoje à noite?

– Tenho meus palpites.

– Pode vir comigo? – ela se levantou e estendeu a mão. Segurei-a firme, a mão dela estava gelada e leve.