All I Want (EM REVISÃO)

00 - prólogo.

O sol matinal batia em meu rosto, se alastrando sobre todo meu quarto.

O papel de parede branco se tornava ainda mais claro, tal como os lençóis desdobrados em cima da cama e a tiara de pano que segurava meus cabelos bagunçados.

Abro a primeira gaveta de minha escrivaninha, tirando papel e caneta de dentro. Não é todo dia que você cria coragem para tal coisa. Talvez fosse a saideira da noite passada. A ressaca imaginária que eu teria que inventar para usar como desculpa caso alguém (mais especificadamente, minha melhor amiga Regina) brigasse comigo.

Puxo a cadeira debaixo da escrivaninha, me sentando nela e pondo minhas mãos na superfície amadeirada da mesma.

Claire, realmente vai, quer, fazer isso?

Eu alertava a mim mesma sobre os perigos de estar fazendo aquilo. Mas outra parte de mim queria muito saber o que aconteceria se eu enviasse essa carta e obtivesse uma resposta.

Com a caneta em minha mão, e a outra sobre o papel, comecei a pensar no que exatamente eu escreveria.

Nada muito clichê, mas também nada muito sério.

Talvez fosse uma declaração de amor, ou talvez eu estivesse procurando intriga com um cara que nem deve lembrar que existo.

Ah, Deus, e como eu queria que lembrasse.

"Owen,

Desde que nós separamos, tudo que eu quero nada mais é do que ouvir você batendo na minha porta. Acho que se eu pudesse ver seu rosto mais uma vez, eu poderia morrer sendo uma mulher feliz, sério.

Pode soar meio imaturo da minha parte estar te escrevendo isso, principalmente quando temos internet e telefones celulares para escrever um e-mail ou mandar um SMS... mas queria fazer como nos velhos tempos. Mas quero que você saiba que quando nos despedimos pela última vez, eu morri um pouco por dentro.

Nunca havia experimentado nada tão surreal quanto nós dois. Por isso, desde quando eu te deixei ir, eu me deito sozinha na cama que costumava ser nossa e choro durante a noite inteira. E sem você ao meu lado, tudo parece que vai desmoronar a qualquer momento, entende?

Então, droga, se você realmente me amava, por que me deixou ir?

Espero que saiba que desde nosso término, eu venho rezado para ouvir você batendo na porta da minha casa e tomar meu corpo, como antigamente. Quando mesmo cansados da faculdade, ainda tínhamos energia para nos amarmos.

Tudo que eu precisava, e tudo que eu queria era ouvir você batendo na minha porta... E tudo que eu preciso é encontrar alguém. Alguém como você. Mas para mim, você parecia bom demais para ser verdade. Então não sei se algum dia conseguiria te deixar ir. Ou se vou encontrar alguém que eu ame igual amo você.

Olha, você trouxe uma parte de mim que eu nunca tinha visto. Costumava me fechar para a maioria das coisas, odiava ter expectativas em qualquer relacionamento que eu tinha, porque sabia que não durariam muito, até você chegar e provar que eu poderia gostar de alguém sem ter barreiras emocionais. Você pegou minha alma e purificou, entre muitas aspas. É surpreendente nunca terem um filme sobre nós, tenho certeza de que venderia muitos ingressos.

Eu realmente nunca vou entender. Sempre disse que me amava, que devíamos ficar juntos para sobreviver... mas na primeira oportunidade pegou suas coisas e foi embora? ;(

Enquanto escrevo isso, talvez até tenha molhado o papel com uma lágrima solitária, eu consigo repensar todo nosso relacionamento.

Vou tentar seguir em frente, e espero que você faça o mesmo. Eu espero encontrar alguém como você, mas que não desista de mim tão fácil como você desistiu. E quer saber? Eu espero mesmo é que você vá se foder! Idiota, retiro tudo o que eu disse sobre querer você de volta. Espero que você fique bem longe de mim. Adeus. E se você ler isto, finja que nem sequer mandei, amasse e jogue fora.

Sem amor, Claire."

Dobro a folha quatro vezes, como se fosse um mosaico, ponho em um envelope e o lacro com um adesivo.

O encaro, me perguntando várias vezes o que eu realmente pretendia fazer com aquilo. Os endereços foram colocados corretamente, embora eu achasse que ele tivesse se mudado, tive esperança de ainda morar no mesmo lugar.

Nada me impedia de enviar, por exceção de uma amiga furiosa e um coração partido...

Não. Não seja idiota, Dearing. Não envie esta carta de jeito nenhum. Vocês tiveram sua chance uma vez, deixe para lá. Nada dura para sempre.

Meu eu interior insistia num bem maior, então abri a mesma gaveta da onde havia tirado o material com que fiz a carta e a joguei lá dentro, a fechando rapidamente em seguida.

Não seja idiota, mulher! Essa é sua única chance de saber se seus sentimentos pelo Owen são recíprocos. Nem pense em pensar duas vezes ao envia-la. Tudo por um bem maior, não é? Pense num bem maior que seria receber uma resposta, um pedido de desculpas caloroso e ter nosso homem de volta? Eu sei que é isso que você quer. E sei porque sou você.

Quer saber? Eu não ligo. Regina me chutaria se soubesse, mas há algo tentador em ouvir meu coração partido... eu não posso evitar.

Abro a gaveta pela quarta vez, pegando a carta em minha mãos e apertando contra o peito.

Saio do quarto e desço as escadas de minha casa vazia, tão rápido que quase tropeço em meus próprios pés.

Abro minha caixa de correio, enfiando o envelope lá dentro, fechando e me encostando na caixa de correios, ofegante.

Percebo meu vizinho idoso regando as plantas do seu jardim, eu lhe lanço um sorriso. Provavelmente esqueci da máscara de argila em meu rosto, pois ele me lançou uma careta vendo meu rosto coberto por aquilo.

Poisé, a ansiedade. Eu realmente quero receber uma resposta.