Voltei do parque com Gray no colo já que ele havia dormido no carro, agradecendo aos céus por ele ainda ser leve o suficiente para conseguir levado até o sofá sem que ficasse com dor nas minhas costas.
Karen estava resolvendo algumas coisas do trabalho, então não estava em casa. E sabe se lá onde Zach foi, pois não o vejo desde o incidente com o copo. Às vezes me preocupo com ele, e o fato dele ser um adolescente com personalidade forte mais me assusta do que conforta.
Me sento ao lado do garoto adormecido no sofá, e começo a fazer cafuné em seus cabelos loiros.
Gray é uma criança adorável.
Nunca desejei ser mãe. Isso se deve ao fato de eu não acreditar que seria uma boa cuidadora de crianças. Perdi o nascimento de meus sobrinhos e nem mesmo estive lá quando tive a oportunidade de os conhecê-los pela primeira vez.
Meu celular toca e vejo o nome de Simon na tela, o que tira de meus devaneios e me lembra que não fui ao trabalho hoje, como deveria ter ido.
Atendo a ligação, engolindo em seco.
— Sr. Masrani, oi! — Falo, um pouco constrangida.
— Olá, Claire? Está tudo bem? Não é de seu feitio faltar ao trabalho... — Pergunta, e consigo perceber um tom na entonação de seu sotaque.
— Sim, Sr. Masrani, só alguns problemas pessoais, mas nada demais. Pode deixar que amanhã eu estarei aí, sem mais faltas. — Falo dando um sorriso falso, mesmo que ele não pudesse ver.
— Certo, sabe que me preocupo com você. Se precisar de alguém para conversar, estarei aqui. — Finaliza e antes que eu pudesse agradecer, ele desligou.
Coloco o meu celular de volta na mesa de centro da sala, e ouço a porta abrir.
— Claire. — Zach me comprimentou ao passar por mim e por Gray, subindo as escadas logo após.
Não me lembro se a versão adolescente de Zach alguma vez me chamou de tia. Ele não consegue me chamar de tia, muito menos na minha frente. Isso me deixa triste, mas não posso o julgar, eu também não chamaria a mulher que quase não fez parte de sua infância de tia. Todas as vezes que Karen me ligava para saber se estava indo tudo bem, ele implorava para falar comigo mesmo que por alguns minutos. Naquele tempo, eu sempre andava muito ocupada com a faculdade, por isso nem mesmo dava atenção para minha irmã ou para meus pais.
"— Oi, tia Claire?! Advinha quanto tirei nas provas desse semestre?! B-! É meu maior recorde desde que entrei no ensino fundamental, estou melhorando. Acho que um dia vou me tornar igual você! Inteligente. — Ele dizia, com um provável sorriso imenso e sem os dentes de leite na boca.
— Aham, que legal Zach. A titia não pode falar agora, certo? Mas prometo que estarei aí no natal. — E eu respondia, sem um pingo de animação na voz."
Quando o natal chegava, eu não estava lá. Nem no jantar de ação de graças. Nem na páscoa. E nem ao menos em seus aniversários.
Deve ser esse um dos vários motivos para ele nem ao menos querer olhar em minha cara.
— Ei, por onde você andou? Estávamos preocupados! — Perguntei, ele se virou para mim, revirando os olhos.
— Você não é minha mãe, então eu não lhe devo satisfações de pra onde eu vou ou deixo de ir. — Responde, com um sorriso irônico. Como se ele desse explicações para Karen.
Ele estava certo, eu não era sua mãe. E não poderia ser considerada tia também. Pensar nisso faz meus olhos lacrimejarem.
Ele para na escada e suspira, voltando o seu olhar para mim.
— Desculpa, é só que... — Parou por um instante, olhando para baixo por um curto período de tempo. — Deixa pra lá, só me desculpa. — Finalizou, subindo para os quartos.
Algo certamente havia ocorrido. Não dá para saber o que se passa na cabeça de um adolescente com pais separados. Sei que Zach é um garoto incrível, e tenho certeza disso mesmo não tendo o visto muito desde que nasceu.
O jeito que meus pais falam dele... e Karen, ela é tão orgulhosa do menino mais velho.
Karen às vezes não consegue dar a devida atenção aos filhos por conta do trabalho, então talvez aí está mais um dos motivos para ele ser assim.
Gray se mexe no sofá e percebo que estava prestes a acordar.
— Bem, parece que alguém está cansado. Porque não vai dormir na sua cama, hein garotão? — Pergunto assim que o mesmo olha para mim, com os olhos entreabertos e prestes a bocejar.
Ele não diz nada, apenas concorda com um balanço de cabeça, se levantando e saindo do sofá.
Fico lá parada, pensando no que fazer. Me estico por todo o sofá.
Mesmo estando com a cabeça lotada de coisas, não deixei de lamentar como aquele sofá era o mesmo em que eu e Owen passamos boa parte de nossas vidas juntos. Compramos juntos quando nos mudamos para cá depois de terminar a faculdade. Eu nunca o troquei, provavelmente por ele estar sempre bem preservado e não ter motivo para eu o fazer. E era estranhamente confortável.
Por fora eu aparentava estar bem, mas por dentro a ansiedade me matava aos poucos.
Tento não pensar tanto no encontro no sábado, então ligo a TV para me distrair.
Como se eu já não fosse infeliz suficiente, o primeiro canal está falando sobre o estouro que Owen Grady está fazendo entre os adolescentes e adultos de coração partido, e de como as pessoas desejam que ele lance novas músicas, ou até mesmo um álbum, ao mesmo tempo em que se perguntam se All I Want foi dedicada para alguém especial.
Deus, como é possível que eu tenha descoberto isso agora?!
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All I Want (EM REVISÃO)
Fanfiction"But if you love me... why do you leave me?" Onde Claire Dearing escreve uma carta para Owen, seu ex-namorado, colocando tudo que sente para fora e dizendo que sente sua falta. Ou, Onde Owen Grady lê a carta e por algum motivo não manda uma resposta...