capítulo 14

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O barulho do chuveiro parou de repente, me fazendo fechar com pressa a gaveta.

Eu estava com raiva, muita raiva. Mas mais que isso, também estava decepcionada.

Owen saiu do banheiro, com o mesmo sorriso que dera a alguns minutos antes ao sair do closet.

Era muito cínico.

Desta vez, me forcei a retribuí-lo. Eu me levantei, virando o rosto para não olhar o abdômen nu dele. O mesmo só tinha uma toalha envolta da cintura, e me segurei para não rir.

Eu não sei porque, mas por algum motivo, que eu desconhecia, aquela cena parecia engraçada.

Talvez fosse porquê ele tivesse se depilado, e se me lembro bem, não era de seu feitio fazer isso.

- Não aja como se fôssemos estranhos. - Eu o ouvi dizer bem baixinho quando passou por mim e entrou no closet. Retornando minutos depois, agora com uma camiseta regata e uma bermuda.

Isso só confirmou que ele não iria mesmo para uma reunião ou algo do gênero, como havia me dito. Caí entre nós, Owen nunca fora um bom mentiroso, e isto não era tão difícil de perceber.

Esse detalhe me fez pensar em como eu não percebi que ele não havia realmente jogado fora aquela carta. Coloquei a culpa mentalmente nos meus pensamentos naquele dia, que me empediam de observá-lo com atenção suficiente e detectar suas mentiras.

- Vamos? Meu carro está na garagem. - É claro que ele tinha um carro. E, quando descemos aquele prédio, percorrendo todo o caminho até o estacionamento (em total silêncio, porquê nenhum dos dois estava realmente disposto a iniciar uma conversa), eu fiquei admirada com o quão chique e moderno o carro era.

Eu esperei algo sofisticado (mesmo sendo algo de Owen), mas não tanto assim.

Aos meus olhos, parecia tão caro que nem ao menos distinguir qual era o modelo eu consegui.

Paralisei, ainda olhando para o carro branco a minha frente.

Voltei a me mover apenas quando Owen deu a volta e abriu a porta do banco da frante para que eu pudesse entrar.

Não captei o ato no início, o que fez nós dois nos encararmos, até ele apontar com a cabeça para dentro do carro.

Eu me sentia um tonta. Porque eu não conseguia agir normalmente perto dele, droga.

Ele se afastou para que eu me sentasse, e fiz exatamente isso. Coloquei o cinto, e nem percebi ele fechar a minha porta e entrar no carro também, no banco do motorista.

Eu estava no mundo da lua.

Por dentro o veículo era ainda mais chique do que eu poderia sequer imaginar. Tinha medo de que eu pudesse sujar o banco com meu suor.

- Ainda está doendo? - Owen lançou, quebrando o silêncio que ecoava por nos.

Eu o olhei, me auto perguntando ao que ele se referia. Ele olhava para minha barriga, e então entendi o que queria dizer.

- Ah, um pouco. Antes estava ardendo bastante, mas agora dá para suportar. Nada que uma pomada para assaduras não resolva. - Eu tirei sua dúvida, evitando olhar em seus olhos.

- Você está aérea, o que se passa nessa sua cabecinha? - Ele continuou, rindo ao mesmo tempo que deu três batidinhas em meu crânio. Fiz uma careta.

Não para parecer engraçado.

Owen estava agindo como se nada tivesse acontecido.

Eu pigarriei, na tentativa de fazê-lo voltar a atenção para o volante. Ainda estávamos no estacionamento, e ao mesmo tempo em que eu implorava para que ele desse a partida e me levasse até em casa, eu torcia para que demorasse mais um pouco.

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