A criança de Iohan.

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        John Danvers andava parcialmente invisível pelos corredores de Hogwarts. A escuridão da madrugada o ajudava a se esconder plenamente, visto que ainda treinava seu Feitiço da Desilusão. Parado, prendendo a respiração, o menino atrás de um grande braseiro aguardou que Dominique Weasley passasse. John podia jurar que a monitora da Corvinal, a qual sempre sondava aquela parte do castelo, poderia ouvir seu coração ribombando.

       Assim que John não via mais o rabo de cavalo ruivo chicoteando nas costas daquela quintanista, ele partiu em disparada. Chegou, enfim, ao corredor das grandes armaduras no sétimo andar. Seus sapatos estalavam no chão de pedra; o suor escorria em sua testa, desmontando o penteado de seu cabelo. Num puxão violento, o garoto levou para trás as mechas caindo em sua face. Se ele se atrasasse... John balançou a cabeça, afastando o pensamento para longe. Ele chegaria a tempo. Tinha que chegar.

        Finalmente, o menino deu um safanão com sua varinha numa das armaduras dispostas pela parede. Sua enorme base de pedra se arrastou para frente, lenta como se John tivesse a noite toda. Aflito, ele continuou a golpeá-la, ignorando o agudo som metálico que ecoava pelos corredores.

        Quando a base que apoiava a armadura revelou o diminuto pórtico de um túnel, John prontamente ali se lançou. Bateu com a varinha na armadura uma última vez, a fim de que ela o escondesse naquela passagem secreta descoberta recentemente pelo garoto.

        O que o levava a mais um problema que John evitava pensar. Alguém usou tal passagem naquela primeira noite de detenção; alguém que provavelmente escutou mais do que deveria. Foi assim que o menino se deu conta daquela armadura especial em primeiro lugar.

        Escorando-se, ofegante, na parede do túnel em breu, John escolheu deixar essas menores preocupações para o futuro. Após algumas longas inspirações, ele se sentiu seguro o bastante para o que precisava fazer. John tapou a vista com as mãos, se concentrou e sussurrou:

        — Nuntius Nubes.

        Tapar os olhos, mesmo que estivesse completamente só e quase invisível, foi força de hábito. Afinal, eles se reviravam para trás com o feitiço, ganhando um denunciante brilho esbranquiçado. Antes de sua consciência viajar para longe, John se lembrou de quando Rose Weasley quase o pegara no ato. Fora difícil andar no túnel até a Dedosdemel enquanto buscava pela mente do bruxo de vestes refinadas, nariz fino e cabelos grisalhos. O mesmo bruxo que John agora encontrava.

        — Você se atrasou — o homem grunhiu.

        John ainda sentia suas costas na parede de mármore de Hogwarts. Porém, o que via em nada parecia com o castelo. Sua consciência não era mais que um fraco rastro de fumaça acinzentada, rodopiando em volta daquela face fria. O bruxo tinha muitos nomes. Poucos o chamavam de Iohan de Vere; às vezes, ele era Donald Danvers; as crianças da Ordem da Fênix, tontas que eram, o apelidaram de Homem Encapuzado; já John balbuciava:

       — Pai, eu... — apesar de calado no túnel da passagem secreta, a voz estrangulada do menino ecoava pela casa onde Iohan estava. O olhar gélido do homem foi o bastante para que John repensasse suas palavras. — S-senhor. Desculpe, senhor, eu...

       — Relatório — ele cortou. Com sua visão nublada pelo feitiço, John podia ter um vislumbre do que Iohan fazia. Ele passava as páginas de um jornal, mas mal lia qualquer coisa. Observando a notícia da capa, John reconheceu a edição de mais de três dias atrás. Um jornal velho tinha a maior atenção do bruxo...

       — Eu consegui, senhor. — John mal podia disfarçar a súplica em suas palavras. — Ivonne Ward me deixou a par das informações do grupo. Eles vão continuar a tentar entrar na Ordem, senhor.

O Invasor de Hogwarts - ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora