A perna tremelicante de Alvo seria capaz de abrir um furo no chão do Expresso de Hogwarts, não fosse pelo súbito agarrão de Lia em seu joelho. Os tensos olhos castanho-claros da menina o passavam o já familiar recado de: "Dá um tempo, faz favor".
Alvo suspirou pesadamente, apoiando a testa no vidro frio da janela. Do lado de fora, ele via a pequena Estação de Hogsmeade com alunos indo e vindo, empurrando seus baús para o trem. A fraca e fina neve natalina serpenteava e dançava, o vento brincando com cachecóis e cabelos. Todos tão felizes e despreocupados... lerdos como se dar bobeira em Hogsmeade fosse a coisa mais normal do mundo.
— O trem já tá saindo... Vai ficar tudo bem. — Lia disse baixinho, e Alvo imaginou que ela tentava se convencer tanto quanto tentava entrar na cabeça dele. Alvo não a olhava, contudo. Seus olhos não desgrudavam de cada canto daquela estação que ele podia enxergar. Lia adicionou, dessa vez em tom menos sério: — Bruxos das trevas não trabalham nos feriados. Tá na lei deles.
Alvo brutamente se virou à menina sentada ao seu lado. Foi por muito pouco que ele não a lançou um feliz e esperançoso: "É sério?!". Por sorte, foi salvo de passar por esse papel vergonhoso. Rose, sentada em frente aos dois naquela cabine, abaixou o livro e atirou:
— A gente tem que revisar o plano.
Alvo teve que conter o impulso de jogar a prima pela janela do trem. O pior era que aquela não era a primeira vez que tal delírio selvagem atravessava a mente do menino. Aturar as obsessões de Rose por mais de um mês fora brutal. Alvo só queria evitar seus problemas e preocupações em paz, mas quando ele menos esperava, lá estava Rose saindo até do ralo para falar sobre o Homem Encapuzado. Graças às janelas da Torre da Grifinória serem tão pequenas, Rose não saíra voando.
— Vai, Rose... fala do plano... — Alvo respondeu entredentes, o estresse quase estourando a veia que pulsava em sua testa. Para o desagrado de Lia, a perna do menino voltava a balançar e bater contra o chão.
— Vocês têm certeza? A gente tá fora dos terrenos... É perigoso... — Iv, do outro lado de Lia, atirou de supetão em sua voz fina. Piscando para a ruiva, ela continuou: — M-mas se você quiser, Rose... Pode falar.
Só de olhar para Iv, o menino sentiu suas bochechas corarem. Ele ainda não havia engolido o fato de que ela e John Danvers começaram a namorar logo após Alvo ter conversado com Iv. Todas as noites daquele último mês, o menino ia dormir atormentado pelo pensamento de que, se ele não tivesse aberto sua maldita boca para perguntar, os dois sequer teriam puxado o assunto de namoro. Ele, Alvo Potter, havia sido o grande vilão de sua própria história...
Alvo se sentia ainda mais vilanesco por ficar feliz com a falta de Iv no Natal da Toca. Não que ele não quisesse Iv por perto, longe disso. Porém, já que ela passaria o feriado com os avós, Rose concordara com os secretos e insistentes discursos de Alvo de que não fazia sentido algum chamar John para a Toca. O que poupava o garoto de passar seu feriado sem Iv e com o namoradinho esquisito e chato e irritante dela... Seriam duas derrotas pesadas demais para o fraco coração de Alvo lidar.
Salvando o menino de cair no abismo do pensar em demasia, o Expresso de Hogwarts soltou um chiado torturado. A taquicardia logo se apoderou do peito assustado de Alvo. Num solavanco e mais apitos, estavam finalmente em movimento. O menino inspirou fundo ao olhar para a paisagem da janela se tornando um borrão, as lágrimas de alívio engolidas com firmeza. Ir para casa era tudo o que Alvo mais precisava.
Talvez ele não sentisse sozinho tudo o que sentia. Porque Rose, numa postura surpreendentemente suave e com a vista perdida na janela, murmurou:
![](https://img.wattpad.com/cover/234470431-288-k685695.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Invasor de Hogwarts - ano 1
FanficAlvo Potter e Rose Weasley chegaram à Hogwarts. Era um ano letivo comum, ou o mais comum que se poderia ter numa escola de magia. Porém, quando os primos e seus amigos se embrenharam na Floresta Proibida, tudo virou de ponta-cabeça. Quem era aquele...