Cabeça de Leão.

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        — Olha, eu não acho que você vai morrer hoje, não... — Iv observava a palma da mão tremelicante do amigo. Ela franzia o cenho, mudava o ângulo, mas nenhuma das linhas significava morte ou desgraça para a menina. Eram todas só linhas. Tentando ao máximo ser gentil com as preocupações de Alvo, Iv questionou: — Quem foi que te disse isso, Al?

        — Meu primo Louis! É o irmão mais novo da Victoire. Ele é terceiranista, tira notas super altas em Adivinhação... — Alvo arregalava os olhos e engolia em seco. De supetão, ele estufou o peito e disse, a voz ainda estrangulada: — N-não que eu me importe, sabe? Pff... morte... Eu adoro morte! Q-quero dizer... não de um jeito estranho, nem nada parecido...

       — Ah, tudo bem... — Iv respondeu baixinho, segurando o riso. Ela precisava de muito esforço para encarar apenas a palma do amigo, não as faces incorrigivelmente coradas dele.

       Estavam no Saguão de Entrada, o Salão Principal em suas costas. A enorme porta para os jardins jazia aberta, banhando o local com a luz daquele dia de sábado ensolarado. Os alunos saíam animadamente do café da manhã. Afinal, chegara o primeiro jogo do ano letivo.

       O folgado uniforme de Quadribol da Grifinória por pouco não afogava Alvo. Com a mão livre, o menino apontou por cima do ombro, onde o time da Corvinal se concentrava no Saguão.

       — Er... Bem, o Louis está bem ali. Tem certeza mesmo, Iv?! Ele pareceu tão veemente... E eu senti uma coceira tão esquisita quando coloquei o uniforme... Será que foi um sinal?! P-porque tudo bem se for um sinal... Não me importo...

       Iv observou quem Alvo apontara. Um rapaz que os olhava abaixou os óculos de proteção da testa até os olhos, os cabelos loiros para o alto de um jeito caótico. Acenando displicentemente para Iv, a qual ainda segurava a palma de um Alvo a surtar, Louis pôs a vassoura nos ombros. Como quem tinha tudo sob controle, ele calmamente levou o time da Corvinal até os jardins do castelo.

        Iv suspirou. Pobre Alvo... ele fora tripudiado. Afinando levemente a voz numa tentativa de não soar desagradável, a menina questionou:

        — Então... seu primo disse que você vai morrer? O mesmo primo que vai jogar contra você hoje? E que quer que você perca... Então adoraria te ver nervoso...— Iv abaixava o queixo, fitando o amigo em expectativa, ao passo que Alvo afirmava séria e energeticamente para todas as suas frases.

        De supetão, algo a ocorreu. Antes de dar tempo para que a assustada mente de Alvo processasse aonde ela queria chegar, Iv questionou timidamente:

        — Al, porque você veio perguntar pra mim sobre seu futuro?

        O menino piscou. Então, coçando a nuca, ele balbuciou:

        — Ah... é que eu ouvi falar da borra de café turco e... E você sabe, né... Achei... achei que você soubesse... Er... ler o futuro, coisa e tal...

        Com um leve sorriso congelado no rosto, Iv escutava as falas desconexas de Alvo. Soltando a mão do amigo devagarinho, a menina quase podia escutar as falas repetitivas e irritantes de sua avó. Dentre tantas mil precauções e condições que Sra. Ward a dera a fim de que viesse para Hogwarts, ela ordenou que Iv fosse discreta, pois certos bruxos não seriam amigáveis caso soubessem sua origem. Mas Iv nunca entendeu o motivo de tanta preocupação. Na verdade, aquela era uma frase que definia a vida de Iv com a avó. Aquela mulher estava sempre preocupada, como se tudo fosse para os ares a qualquer momento e Iv morresse com um mísero espirro. Sra. Eylül Ward raramente fazia qualquer sentido.

O Invasor de Hogwarts - ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora