Espiões no castelo.

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        Quando todos já haviam ido dormir, quando tudo já estava quieto e escuro, Fred II se revirava na cama. Era uma daquelas noites em que a insônia o assombrava. O menino apoiou o pescoço na nuca, suspirou e se pôs a encarar o teto do dormitório. Seus músculos dos braços reclamaram, doloridos pelo jogo acirrado que tivera naquele dia. Fred franziu os lábios. O que seu pai diria se o visse assim? O menino estava fora de forma... sequer conseguira nocautear Louis como gostaria. Quem diria que furar tantos treinos daria nisso? Balançando os pés cruzados, Fred deixou que os pensamentos voassem.

       "Que fome desgracenta", foi o que ele concluiu. 

       Numa longa e cansada expiração, Fred se ergueu e delicadamente abriu as cortinas da cama. Soltou um leve risinho ao dar de cara com um Jean esparramado, dormindo de boca aberta na cama vizinha. Adorável.

        Dando-se conta que seria uma situação para lá de estranha se Jean acordasse e desse de cara com Fred, ele desfez seu sorriso bobo. Ajeitou brevemente os cabelos amassados de travesseiro, pôs sua veste preta por cima dos pijamas e seguiu dormitório afora. As dobradiças da porta, cheias de parafina de vela graças à Fred, o encobriam de sair sem denunciantes rangidos.

          Assim que pôs os pés para fora da moldura da adormecida Mulher Gorda, o terceiranista se alongou. Seria uma daquelas noites... Fred tinha que se preparar.

        Escondido entre as sombras, o menino seguia silenciosa e pensativamente pelo sétimo andar. Os problemas que ocupavam sua cabeça voltavam à tona, principalmente ao chegar naquele tão familiar corredor das grandes armaduras. Uma delas, a qual Fred carinhosamente apelidara de Rubens, começara a mexer uma das mãos num rangido metálico e enferrujado. Os ombros de Fred se retesaram, alarmado com toda aquela barulheira, mas seu coração se derreteu quando viu o cumprimento que a estátua lhe fazia.

        — Grande R! Como andam as coisas? — Fred, olhando para todos os lados, sussurrou num sorriso nervoso. A armadura, sem nem esperar que o garoto a tocasse com sua varinha, já deslizava para frente e revelava sua passagem secreta na parede. Fred arregalou os olhos, respondendo ainda em vozes baixas: — Ah, não precisa! Não se preocupe comigo. Até mais, Rubens! Te trago um óleo da próxima vez pra essa armadura, cara!

        Um pouco triste por ter que recusar a boa vontade de Rubens, Fred seguiu em direção às escadas. Seu velho companheiro de madrugadas conhecia muito bem aquele caminho. Com certeza ele esperava para dar o bote em Fred do outro lado daquele túnel, cujo destino era o gêmeo de Rubens, Erivaldo. Não era uma armadura tão simpática, talvez por não gostar do nome que Fred o dera, talvez porque o corredor de armaduras do terceiro andar não era tão popular quanto o do sétimo. Além do mais, Fred tinha quase certeza que seus primos perceberam a movimentação de Rubens na noite em que ele os espiava. Aquele túnel secreto foi comprometido.

       Não fora a intenção de Fred. Ele calhou de estar de passagem, e jamais imaginaria que a vida de primeiranistas fosse ser tão interessante... Tudo bem, tudo bem, Fred na verdade estava deliberadamente espionando sua própria família. Mas as intenções eram as melhores! Aqueles pirralhos se meteram com coisas que não deveriam. E Tiago e Jean também... Fred demorou alguns dias até superar o fato que os dois melhores amigos o escondiam tanta fofoca e intriga. Pela indignação que subia seu peito enquanto se lembrava disso, Fred provavelmente ainda não havia superado.

        Bufando pelas escadas, o terceiranista chegou àquele discreto pórtico na altura do sexto andar. Ele adentrou o corredor estreito, longo e úmido, nem um pouco convidativo, virou à direita e seguiu indefinidamente. Mesmo que apenas fracas velas flutuantes aqui e ali o salvassem do completo breu, Fred segurava o impulso de acender um Lumos. Ele precisava chegar mais perto da cozinha sem ser visto pelo seu velho amigo.

O Invasor de Hogwarts - ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora