O Invasor de Hogwarts - ano 1

Adestramento da abóbora.

        Jean Finnigan se esgueirava pelo castelo com uma abóbora brilhante no lugar de sua cabeça. O que lhe servia de consolo era o fato de que ele não estava sozinho; vários alunos haviam acidentalmente comido aqueles Doces Cabeça-de-Abóbora, os quais foram maldosamente escondidos entre inofensivos bombons de chocolate. Durante a festa de Dia das Bruxas, fora até divertido ter sua cabeça transfigurada num legume pesado e entalhado com uma assustadora e iluminada careta. Entretanto, ao sair da festa e tentar chegar de fininho no sétimo andar, as coisas mudaram de perspectiva. Era difícil passar despercebido quando se é vítima de um doce da Gemialidades Weasley como aquele.

        — Quem você acha que fez isso?! — Lia questionou em voz baixa e repleta de curiosidade. Estavam escondidos entre estátuas do segundo andar, e Lia se colocava na ponta dos pés, aproximando-se da cabeça de abóbora de Jean sem se atentar a qualquer conceito de espaço pessoal. Não que Jean se importasse. O menino por muito pouco não fora sorteado para a Lufa-Lufa, e a parte lufana de seu ser gritava por um abraço. Era cada vez mais desconfortável sentir que sua cabeça era literalmente oca, apesar de iluminada. Jean ainda não sabia como ele se sentia sobre isso.

        — John me disse que vai demorar uma semana até que o efeito desse doce passe sozinho... — Iv sussurrou. Seus redondos olhos castanhos fitavam, impressionados, a situação de Jean. Vendo que o menino preocupadamente levou suas mãos até sua abóbora, Iv de pronto mudou de assunto: — Lia, sobre o que vocês querem tanto falar com a gente? Acho que John ficou chateado por ter sido deixado de fora...

        — Bem, dessa vez esse John Danvers vai ter que ficar de fora. São assuntos secretos! Sobre a você sabe! — Lia disse em tom de animada importância ao se inclinar e checar os arredores daquele corredor. A menina fora até a festa buscar os dois terceiranistas e Iv, a fim de que todos se encontrassem na Sala Precisa.

        — Lia, dessa vez "você sabe" significa o quê? — Iv cochichou ao pé do ouvido da amiga com certo desespero. Era difícil acompanhar todos aqueles códigos secretos de Lia. Antes que ela pudesse se explicar, foi interrompida:

        — Voltando ao assunto realmente importante: só um bruxo muito incrível distribuiria esse lançamento temático da Gemialidades por aí... — Tiago sorria maldosamente por cima do Mapa do Maroto estendido em suas mãos. Após estudar o pergaminho, ele continuou: — Pronto, não tem mais ninguém por perto. Vamos lá...

        — Tiago, por que você não me avisou que colocaria os doces lá? Eu não queria ser uma abóbora por uma semana — Jean tentava ralhar com o amigo, mas seu tom de voz brando sempre o traía.

        — Ora, mas foi engraçado, não foi?! — Ao guardar o Mapa do Maroto no bolso, Tiago voltou as palmas das mãos para cima.

        Ignorando a verdade incômoda que Tiago falara, Jean seguiu adiante, amparado de perto por uma Iv cheia de pena. A menina hesitou como se estivesse prestes a falar algo a Tiago, porém continuou sua caminhada e nervosamente se absteve de qualquer embate. Lia, por sua vez, não se conteve: passou pelo garoto com olhos semicerrados e altos estalos reprovadores de língua.

        Tiago seguiu o trio e bufou:

        — Ah, ele supera...

        Jean não se orgulhava, mas era verdade: ele não conseguia ficar chateado com Tiago por muito tempo. Talvez fosse porque Jean decodificara a linguagem tão mal compreendida do melhor amigo. Por exemplo, Tiago tentava meter a mão na boca esculpida da abóbora, perguntando entre risadinhas idiotas e desajeitadas:

        — Você sente alguma coisa nessa cabeça oca, Jean? Hein?! — E isso significava que Tiago, em seu próprio modo atrapalhado, pedia desculpas. Pelo menos, era o que Jean interpretava ao se desviar dos dedos do amigo durante toda a caminhada até a Sala Precisa.