Capítulo trinta e seis

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Kenna

Chego perto do guerreiro que não vi antes e acho estranho Ronald não está por aqui. Olho em volta procurando por ele.
— Qual seu nome? — pergunto ao guerreiro de aparência estranha. Ele é alto, não tão forte, o homem tem uma grande cicatriz em seu rosto.
— Brook!
— Sou...
— Sei quem a senhora é.— ele responde.
— Brook sabe onde Ronald está?
— Ele teve que voltar ao clã.
— Porquê? — questiono surpresa.
— Ronald teve que resolver algumas coisas.
— Quando ele foi?
— Já tem dias.
Andei tão distraída que não percebi que Ronald não estava mais aqui.
— E você ficou no lugar dele? — pergunto.
— Sim.
— Entendo.
— Precisa de algo?
— Na verdade, sim.
— Diga.
— Voltaremos ao clã amanhã. — informo.
— Amanhã? — ele não parece ter gostado de ouvir.
— Sim, algum problema?
— Nenhum.
— Ótimo, avise os outros por favor.
— Certo.
Já estava subindo as escadas para ir ao quarto quando escuto alguém chamar meu nome. 
— Madre Josely — cumprimento-a.
— Venha comigo.
— Sim, senhora.
Sigo-a até a cozinha, ela ordena que me sente. Enche duas canecas com chá.
— Soube que irá partir.
— Sim, eu vou.
— Está certa disso?
— Estou.
— Se for agora, não poderá voltar! — ela diz.
— Não pretendo voltar.
— Aqueles homens vão também?
— Sim.
— Ainda bem, não quero mais nenhuma jovem sendo desonrada por aqui.
— Eles nunca iriam desonrar nenhuma delas.
— Eles são homens, ou seja, não são confiáveis.
— Se você diz.
Vou beber um gole de chá, mas o cheiro me dá enjoo.
— Não vai tomar? — madre Josely pergunta.
— Não estou com vontade.
— Seus seios estão maiores.
— O quê? — pergunto com vergonha.
— Kenna do tempo que está aqui, quantas vezes suas regras vieram?
Meu corpo enrijece, porque não sei responder. Lembro-me que minhas regras vieram quando eu ainda estava no clã, mas até agora elas não voltaram.
— Não pode ser. — sussurro.
— Está carregando um filho sem ter um marido! — ela me acusa.
— Mas… minhas regras vieram quando eu ainda estava no clã.
— Veio muito ou pouco?
— Havia um pouco de sangue nas minhas pernas, mas depois não vi mais. — falo baixinho.
— Algumas mulheres sangram às vezes mesmo estando esperando um filho.
— Eu… eu não sei o que dizer.
— Não é comigo que tem que conversar e sim o pai dessa criança!
— Eu vou, amanhã mesmo partirei.
— Muito bem!
— Posso me retirar?
— Sim, vá.
Subo as escadas ainda não acreditando que posso estar esperando um filho, uma criança está em meu ventre. 
Entro no quarto, deito-me e as lágrimas escorrem sem que eu perceba. Penso que talvez Alexander não vá me perdoar por eu ir embora, esperando um filho dele.
Assim que eu chegar no clã, ele será o primeiro a saber, só espero que Alexander fique feliz com a notícia.

— Acorde querida. — abro os olhos, vejo Debby sentada na beira da cama.
— Acabei cochilando.
— Josely conversou comigo.
— Ela te contou?
— Sim, um filho é uma dádiva.
— Mal consigo acreditar.
— Então, se acostume logo.
— Eu irei.
— Estou feliz por você, Kenna.
— Obrigada, madre Debby.
— Trarei um caldo que acabei de preparar. 
— Não precisa.
— Querida, não me faça amarra-la e força-la a comer. Então, o que prefere, comer sozinha ou que eu amarre-a?
— Está bem, traga o caldo comerei sozinha.
— Ótima escolha.
Alguns minutos depois, escuto batidas na porta, imagino que seja Debby. Mas quando abro a porta, surpreendo-me.
— Isla! 
— Como vai? — ela pergunta irônica.
— O que faz aqui?
— Vivo aqui agora.
— Desde quando? 
— Cheguei algum tempo, sua querida madre Josy me deu abrigo e conversou sobre o perigo do mundo lá fora. — ela revira os olhos.
— Você é a mulher que chegou a pouco tempo.
— Eu mesma.
— Por que veio?
— Sabe, mesmo você não estando no clã ainda me causa problemas. Então, vim acabar com você antes que decida voltar!
— O quê?
Isla me empurrar para dentro do cômodo, e fecha a porta.
— Não imagina como foi fácil entrar aqui. — ela ri.
— Como chegou aqui?
— Tive uma ajuda.
— Quem?
— Brook. — o guerreiro estranho.
— Porque ele te ajudou?
— Ele gosta de mim, que tolo. Eu nunca ficarei com ele, porque, meu grande amor está me esperando no clã.
— Então vá para ele!
— Eu vou, mas primeiro, acabarei com você. — ela rosna.
— Isla já estou aqui, é só você voltar e ficar com Alexander. 
— Você não entende — ela se exalta. — Ele me mandou embora! EMBORA! Mas eu tenho certeza que quando ele souber que você está morta ele me aceitará de volta.
Isla retira uma adaga do vestido. 
— Alguém me ajude! — grito. 
— Não tem ninguém aqui em cima, essas jovens tolas estão lá embaixo tentando chamar a atenção dos homens.
— Madre Debby subirá daqui a pouco, então, saia agora.
— Não vai não, deixei ela quietinha na cozinha.
— Você matou ela? — pergunto com medo da resposta.
— Ela não me deixou escolhas, tive que fazer.
— Oh! Debby era tão boa, e não merecia.
— Chega desse lamento!
Isla vem para cima de mim, consigo me defender quando ela tenta me furar com a adaga.
— Não fuja! — Isla está totalmente fora de si, sou derrubada no chão, ela bate no meu rosto. Revido os, tapas, chuto-a na barriga. 
Isla consegue acertar a adaga no meu rosto, sinto o sangue escorrer. 
Ela puxa meu cabelo tentando-me manter no lugar, mordo seu braço e tento correr.
— Você me mordeu! — ela grita.
Sou jogada no chão novamente, bato minha barriga, sinto uma dor forte. Grito de dor quando Isla crava a adaga no meu ombro direito e depois em minha barriga duas vezes.
— Não! — grito.
Começo a me sentir fraca.
— Preparada para dizer suas últimas palavras? — ela sussurra ironicamente perto do meu rosto. Ela passa a adaga no meu rosto devagarinho sem fazer mais nenhum corte. Isla começa a gargalhar, deixando as mãos do lado meu rosto.
— Desculpe-me. — digo.
— Pelo quê? 
— Por isso. — no seu momento de descuido, pego a adaga da sua mão e passo em seu pescoço com força. O seu sangue escorre no meu rosto, consigo tira-la de cima de mim. Fico ali vendo-a perder a vida.
Reunindo o resto de força que ainda tenho, levanto com dificuldade, e saio do quarto.
— Alguém! — chamo. 
Minhas pernas estão bambas, a dor na minha barriga é enorme.
— Alguém! — consigo gritar quando chego perto da escada.
Piso em falso e acabo caindo escada abaixo.
— Kenna! — escuto alguém gritando meu nome de longe.
Minhas pálpebras pesam.
— Fale comigo, por favor! — alguém toca meu rosto.
Estou sonhando, pois, Alexander está me segurando em seus braços.
— Kenna responda-me!
Alguém está tentando me acordar, não quero que esse sonho acabe.
Tudo a minha volta está escurecendo, Alexander está sumindo, tento correr na sua direção, consigo abraça-lo apertado, ele sorri, acaricia meu rosto depois beija meus lábios. Então, somos cercados pela escuridão que estava a nossa volta.
    ~~~~ 🗡️~~~~
Madre Josely

Eu e Mariah cuidamos dos ferimentos de Kenna, os dois cortes da sua barriga foram grandes e do rosto nem tanto, mas acredito que deixara cicatrizes.
Kenna perdeu muito sangue. Mariah termina de limpar as pernas da jovem, pois também escorreu sangue. Sei que ela ficará desolada quando acordar e souber que perdeu o filho que carregava no meu ventre.
Já é a segunda fatalidade que acontece por aqui. Primeiro foi quando fomos atacadas, saqueadas, quando conseguimos superar tudo. Acontece a segunda fatalidade, Kenna está desacordada, toda machucada, por pouco não está morta. 
Tenho vontade de chorar pela jovem, e por Debby que está morta. Encontrar seu corpo sem vida no chão da cozinha foi horrível, e me deixou mal.
— O que faremos agora? — Mariah pergunta, me tirando dos pensamentos.
— Só nos resta, aguardar.
— Já mandei aqueles guerreiros irem buscar o laird dele.
— Ótimo, quando mais cedo ele chegar, mas tempo terá.
— Para quê?
— Se despedir.
— O quê? Acredita que Kenna não acordará?
— Sinceramente não sei, mas olhe bem para ela. Kenna está tão serena, parece já ter se entregado.
— Então, espero que o laird dela consiga vir.
— Eu também.
 Espero que esse homem seja capaz de trazê-la de volta, realmente espero que o amor que sente por Kenna seja grande. Porque se não for, ela não terá forças para voltar sozinha.

Feita para o MacCabe [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora