Capítulo quatorze

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— Qual o motivo dessa cara? — Kyle pergunta pela segunda vez.
— Nada.
— Fala de uma vez! 
— Como anda as buscar? — mudo de assunto.
— Os homens sairão amanhã novamente.
— Bom.
— Encerre as buscas, eles não irão acha-la e você sabe disso.
— Essa será a última busca.
— É provável que a jovem esteja morta.
— Eu sei, mas vamos tentar uma última vez.
— Você quem sabe.
— O inverno está chegando — falo. — Amanhã sairei pelo clã para ver se estão precisando de algo.
— Pelo que soube, todos estão as saindo bem, algumas pessoas já guardaram lenha.
— Bom saber.
— Agora diga qual o motivo do mau-humor, não pensei que não percebi sua tentativa de me fazer esquecer.
— Kyle...
— Diga de uma vez! — a curiosidade de Kyle me irritava às vezes.
— Talvez esteja na hora de Kenna ir embora.
— Quê?
— Isso mesmo, sei que ela vem ajudando muito Claude, mas penso que seja melhor ela voltar morar com as madres.
— Porquê?
— Eu quero.
— Mas que… — Kyle se exalta. — Já entendi o que está acontecendo aqui.
— E o que seria?
— Você quer mandar Kenna ir embora por medo.
— Medo?
— Isso aí! Você tem medo dela!
Gargalhei alto.
— Eu com medo de Kenna? 
— Sim, você vê nela tudo o que perdeu, toda a inocência que tiraram de você. — fico tenso. — É isso, você tem medo, porque ela faz você se lembrar da sua mãe. 
— Nunca ouvi você dizendo tanta bobagem igual agora.
— É isso, você se lembra dos momentos felizes que tinha quando criança, e que foram tirados de você.
— Chega!
— Se não é medo é inveja o que seria bem pior.
— Mandei parar.
— Você só não está percebendo uma coisa.
— E o que seria? — rugi.
— Que você está se tornando Grow!
Nessa hora vejo tudo vermelho, quando dou por mim, soco o rosto de Kyle.
— Nunca mais diga que me pareço com aquele mostro! 
— Com essa atitude só afirma o que eu disse.
— Kyle… eu não quero machuca-lo, mas se você não sair daqui agora não respondo por meus atos.
— Só estou tentando, acorda-lo. — ele limpa o sangue que escorre do seu nariz. — Kenna sorri você rugi, ela canta você há manda parar, Kenna brinca com sua filha e você vai lá e proibi, agora quer manda-la embora.
— Não preciso de conselhos que não pedi.
— Certo, não está mais aqui quem falou.
— Maravilha.
— Vou deixá-lo sozinho.
— Foi a melhor coisa que disse hoje.
Kyle sai da sala, deixando-me sozinho.
Sei que bater nele foi de mais, me exaltei, mais ele também provocou. Não existe ofensa maior do que ser comparado há Grow.
Penso no que Kyle falou, talvez eu tenha feito tudo o que ele disse, tenho sido grosseiro com Kenna sem motivos.
Não sei explicar, mas ela desperta algo em mim, que não sinto há muito tempo, algo que eu gostaria de deixar trancado para sempre, antes que ele ganhe poder e se solte. E só conseguirei doma-lo, se ela não permanecer por perto. Desde a noite da cozinha, venho evitando-a de propósito, se ela está em um cômodo eu permaneço em outro distante, quando ela veio informar sobre Isla, me segurei ao máximo para não puxa-la para mim. 
Se Kenna soubesse o desejo que venho sentido por ela nos últimos dias, ela fugiria correndo para bem longe. 
Um dos motivos que me impedem de reivindica-la, é Tiera. O que ela pensaria de mim se soubesse o que venho pensando de sua irmã, Tiera sentiria vergonha. 
Também sei que Kenna foi ensinada a só se entregar ao seu amor, e eu não serei esse homem. Tenho desejo por ela, mas não que dizer que iria pedi-la em matrimônio, nem que iria conseguir ama-la um dia, por isso, não posso e não irei me aproveitar da sua inocência, mesmo que eu queime por ela.

Entro no quarto de Claude, ela já está adormecida. Dou um beijo em sua testa.
— Papai?
— Pensei que estava dormindo.
— Estava lhe esperando.
— Por quê?
— Você vai mandar titia embora?
— Quê? — como ela sabe.
— Você vai mesmo não é?
— Claude...
— Não quero que ela vá.
— Ela não ficará aqui para sempre.
— Ela poderia.
— Acredito que não.
— Quando ela se casar com o amigo dela, tia Kenna pode viver aqui no clã.
Como assim?
— Que história é essa?
— Ele gosta dela.
— Quem?
— Carlton.
— Como você sabe que ele gosta dela?
— Titia pensa que eu não sei, mas eu sei que os dois se encontram. — responde quase dormindo. — Ele pode pedir tia Kenna em matrimônio, para que ela fique.
O sentimento de posse foi crescendo.
— Julgo que não.
— Porque não?
— Durma.
— Você não quer que ela se case com Carlton? — não.
— Ela quem decide!
— Então, porque você ficou bravo?
— Não fiquei.
— Se o senhor não quer que ela se case com ele, peça tia Kenna em matrimônio. — sua resposta, me surpreende.
— Isso não vai acontecer, tire essa ideia da cabeça.
— Tá bom, terei que criar outro plano então.
— Que plano? Qual?
— Juntar tia Kenna com tio Kyle. — ela murmura antes de dormir.
Isso também não vai acontecer, em hipótese alguma.
Quem sou para impedir quem ficará com Kenna, talvez Kyle seja melhor! Ele iria, protege-la, e ama-la. Uma dor no peito me atinge. Imaginar Kenna feliz nos braços de Kyle me traz um sentimento ruim. 
Balanço a cabeça, tentando colocar os pensamentos em ordens, preciso beber e dormir, amanhã será um novo dia e essas loucuras que pensei irão sumir.

Feita para o MacCabe [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora