la vie de sourate

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Vai ouvir o solo da Rosé cacete.

Boa Leitura 💚🐦

— Lisa da pra abrir essa porta logo? — Jennie falava enquanto dava batidinhas na porta de aroeira.

— Me deixa em paz! — Sua voz soou abafada pelo corredor vazio e gelado.

— Ela não vai abrir. — Falei o óbvio vendo a morena revirar os olhos.

— Ela vai sim. — Bufou olhando para seu relógio de pulso. — Eu te dou dez minutos pra sair desse quarto e fazer seu trabalho! Tem doze acionistas na minha cola querendo minha alma pra comprar nem que seja um por cento de uma das suas empresas, então ou você saí, ou eu vou não comprar as passagens pra gente ir embora!

Sua voz prepotente colocou medo até em mim, ela não havia nem ao menos ficado vermelha após o dilúvio de palavras, sem pausa pra beber água. Com a mão direita espalmada, ela deu mais três batidas fortes na porta e girou em seus calcanhares olhando diretamente para mim. Eu juro que podia ver fogo em suas orbes.

Engoli em seco rezando internamente para que ela não fizesse nada comigo. “Oh deusa toda poderosa, tenha piedade de um mero robô.” Acreditei que a prece havia dado certo, pois ela foi em direção ao elevador, mas quando fui segui-la, ela me repreendeu.

— Você fica aqui robô! — Parei no mesmo lugar assentindo e levantando as mãos em rendição, encostei na porta do quarto novecentos e quatro, o da Manoban e fiquei ali apenas esperando.

Quando Jennie foi embora, me deixando sozinha naquele corredor solitário, pude escutar a voz de Lalisa resmungando enquanto andava pelo quarto.

— Tantos lugares no mundo e ela vem logo pra cá! — A ouvi dizer. — Será que está me perseguindo de novo?

— Eu acredito que não, mas é uma possibilidade. — Respondi tentando fazer com que ela abrisse a porta pra mim.

Tudo ficou silencioso por alguns segundos, mas logo ouvi o barulho do cartão destravando a porta e em seguida Lalisa a abriu.

— Você ainda está aqui... — Acredito que sua pergunta tenha sido retórica. — Jennie mandou você ficar aí? — Assenti vendo-a bufar. — Entra. — Exclamou entediada me dando passagem, não recusei indo diretamente para sua cama.

— Você não vai sair daqui?

— Já estou comprando nossas passagens pra Tailândia. — Deu de ombros me fazendo gargalhar. — Está rindo do que?

— Está fugindo sua ex. — A acusei.

— Não estou!

— Está sim! Por que quer tanto assim ir embora?

— Tenho um problema pra resolver. — Deu de ombros pegando um pirulito de sua bolsa e o colocando na boca.

— Que problema? — Eu parecia uma criança curiosa.

— Coisas da empresa. — Me cortou.

— Por que foi embora da festa? — Decidi voltar para o assunto.

— Porque ela é o tipo de pessoa que não vai olhar pra mim e passar direto.

— Por que? — Instiguei vendo-a bufar.

— Ela vai querer falar comigo, e eu não quero falar com ela!

— Por que não? — Revirou os olhos provavelmente já irritada.

— Não viu o cara do lado dela? — Perguntou, mas neguei. — Se chama Joseph, babaca. — Sorri vendo sua expressão de raiva. — É o ex ex dela.

— E você acha que ela está com ele?

— Ele mora na cidade vizinha, com certeza estão aqui por isso.

— Então você não quer que ela jogue na sua cara que está com alguém e você não?

— Não, não me importo com isso, só não quero falar com eles. — a vi clicar nas passagens e muda-las para outra data. — Nós íamos amanhã, mas prepare suas coisas, vamos hoje.

— Jennie não vai gostar nada. — Sussurrei.

— Não tenho medo dela. E ela não vai com a gente. — Foi até a porta abrindo-a pra mim.

— Pode ir arrumar sua mala, te encontro daqui a pouco. — A olhei sem entender. — Aé... Você é um robô. — Veio em minha direção pegando minha mão e me puxando para fora de seu quarto.

Ela arrumou minhas malas o que me fez rir internamente, Lalisa Manoban trabalhava pra mim agora... Quem me dera. Ela estava tão concentrada em não colocar minhas roupas de qualquer jeito na mala que nem notou quando um casal parou de frente pra nossa porta e os dois ficaram um bom tempo encarando-a enquanto eu só observava com um pirulito na boca.

— Lisa? — A mulher articulou. Vi Lalisa se tensionar e virar lentamente olhando para a mulher. — Você num quarto social? — Debochou.

— O quarto é meu. — Entrei na conversa, não deixaria ela falar assim.

— E você é?

— Ninguém, já estamos de saída. — Lalisa me atropelou já com minhas malas em sua mão.

— Poxa que pena, acabamos de chegar. — O loiro ditou também debochado.

— Acredito que isso não seja problema meu. — Ditou apressada em ir pra fora do quarto.

— Grossa como sempre não é Manoban, certos hábitos não mudam. — A mulher alfinetou fazendo-a parar no meio do caminho. Acho que agora o gigante acordou.

Quando Lalisa se virou, sua cara antes neutra tinha se tornado brava, seus ombros tensionaram e a vi estufar um pouco o peito quase imperceptivelmente. Olhei para o casal que parecia ter conseguido o que queria, o que eles estavam fazendo aqui?

— É, como por exemplo o seu hábito de me stalkear pra saber exatamente o hotel que eu estou e se hospedar no mesmo, não é? — Debochou se aproximando lentamente dos dois. O tal Joseph pareceu ficar surpreso, e Lalisa definitivamente usaria isso ao seu favor. — Oh você não sabia? Ela sempre teve essa mania, não duvido nada que ela tenha aparecido a poucos dias na sua casa pedido pra vocês se encontrem aqui. Quem está pagando a conta é você eu imagino, ela não gosta dessa parte.

Eu estava impressionada, Lalisa não era grossa, nem parecia estar magoada, ela falava na maior naturalidade como se estivesse em uma reunião. A morena a olhou raivosa sem acreditar que seu provável plano havia ido por água baixo. É, ninguém acima de Lalisa Manoban.

— Vamos logo Roseanne, ainda tenho negócios a resolver. — Estendeu a mão para que eu pegasse e não ousei demorar a fazer seguindo-a ate o elevador.

— Sua namorada é bonitinha. — O loiro exclamou insistente.

— Se ela fosse minha namorada você não teria nem ao menos lhe direcionado a palavra. — O cortou me puxando para dentro do elevador.

— Não me de as costas! — Sara exclamou fazendo Lalisa sorrir do lado.

— Não é tão legal quando é com você não é? — Murmurou alto o suficiente para que ela pudesse ouvir. — E Sara. — Chamou fazendo a mulher olha-la. — Eu não gosto de cachorros.

[...]

— Por que disse que não gosta de cachorros? — Indaguei curiosa quando estávamos no carro indo para o aeroporto.

— Por que eu não gosto. — A olhei incrédula. — O que? Eles dão trabalho, cagam e você que tem que limpar, destroem sua casa e ainda são carentes. Não consigo ver nenhuma vantagem.

— Você não gosta de nenhum animal?

— Gosto de gatos. — Deu de ombros se concentrando na estrada.

— Mas por que disse isso pra ela?

— Ela disse pra mim que não era minha cachorrinha quando terminamos. — Segurei um riso.

— Por que ela disse isso? — Indaguei risonha.

— Não sei. — A olhei esperando uma resposta melhor. — Não ria!

— Você devia ser uma péssima namorada. — instiguei para irrita-la vendo gotas de chuva começarem a cair no vidro do carro.

— Eu não era uma namorada ruim! — Arqueei a sobrancelha. — Eu arrumava tempo pra sair com ela, e sempre mandava alguém comprar flores pra entregá-las no trabalho dela em meu nome.

— Isso pra você é ser uma boa namorada? — Soltei incrédula.

— Não é?

— Você não parecia se importar com ela, nem com os sentimentos dela quando disse aquilo lá no hotel. — Acusei.

— Mas eu não me importo.

— Então você nunca amou ela. — Minha fala pareceu pesar em sua consciência. Ela ficou um tempo inerte até que a buzina de um carro que vinha em nossa direção a trouxe pro mundo real.

Ela rapidamente girou o volante para o lado escapando por pouco do acidente, sem pensar muito, abriu o vidro e xingou o cara que estava na contramão e numa velocidade absurdamente alta. Quando voltou ao seu estado normal, sua cabeça estava encharcada agora, a chuva não havia a perdoado.

— Quem corre na chuva? — Ditou raivosa. — Se esse carro não fosse bom teria deslizado pra fora da estrada! — Continuou resmungando.

— Por que não ouvimos uma música? — Liguei o rádio, mas me arrependi logo em seguida.

“En raison du mauvais temps, tous les vols ont été annulés indéfiniment.” O locutor falava fazendo a morena bufar.

— O que ele disse?

— Os voos foram cancelados por causa da tempestade.

— E agora? — Perguntei fazendo-a ficar com mais raiva ainda.

— Estamos no meio do nada. — Avaliou a estrada deserta. — Deve ter algum hotel por aqui, não vou dirigir quatro horas pra voltar pra onde estávamos.

Senti sua bolsa vibrar e quando a abri pude ver que Jennie estava ligando, ofereci o telefone a ela, mas ela pediu para que eu atendesse e colocasse no viva voz.

“Lalisa onde você está? Os voos foram cancelados!” Exclamou preocupada.

— Estou na estrada, onde fica o hotel mais próximo daqui? — Indagou olhando para os lados.

“Você está numa estrada de chão?” Sua voz parecia tensa, seja lá o que for, acho que Lalisa não ia gostar nada.

— Sim, por que?

“Só tem um albergue por aí.” A vi arquear a sobrancelha.

— Um albergue?

“É o único lugar de hospedagem que eu conheço nessa estrada. A não ser que você queira voltar.”

— Já estou voltando. — Falou manobrando o carro. Jennie bufou e desligou a chamada.

Ficamos em silêncio por um bom tempo.  Mas esse silêncio foi quebrado por um policial que havia parado nosso carro pra dizer que a estrada estava interditada. Ele havia nos dado o caminho de uma pousada que ele jurava ser de qualidade e não tivemos outra opção a não ser ir para a bendita pousada.

No caminho todo Lalisa resmungava, principalmente da qualidade da rua agora, se é que podíamos chamar de rua. Estávamos em um campo empoçado, o carro se movia com muita dificuldade e eu estava surpresa, como ela ainda não havia furado um pneu.

Era possível ouvir, além do barulho da chuva, o pneu se arrastar pela lama, um barulho que incomodava qualquer um. Esse barulho aumentou e de repente o carro foi pra baixo. Acho que havíamos caído em um buraco.

— Não, não não não não! Que porra! — A mais velha ditou batendo suas mãos no volante.

— Nós caímos num buraco?

— Sim caímos. — Respondeu irritada abrindo a porta e saindo do carro.

A observei tentando tirar o carro do buraco achando graça, ela não conseguiria sozinha. Mapiei o lugar vendo algumas casas não tão distantes, então saí do carro e fui em sua direção.

Lalisa estava tão concentrada que nem ao menos notou, quando cheguei encharcada no pequeno vilarejo, bati na primeira porta sendo recebida por um senhor baixinho e barrigudo, com a barba mal feita e um chapéu estranho. Ele tinha uma espécie de cachimbo na boca e falava embolado, provavelmente não entenderia minha língua.

— comment puis-je aider? — Eu que não entendia a língua dele.

— Meu carro está quebrado! — Tentei fazer mímica vendo-o me olhar sem entender nada. Suspirei apontando pra estrada e ele logo entendeu.

— Mission de réparation de la voiture de l’âne étranger! Nous y voilà! — Entortei a boca sem entender nada, ele fechou a porta na minha cara...

Bufei revirando os olhos e indo pra próxima casa, mas antes que pudesse bater na porta, ele apareceu atrás de mim com uma capa de chuva e ferramentas. Sorri correndo até o carro com ele em meu encalço.

— Lisa eu trouxe ajuda. — Me olhou surpresa vendo o homem ao meu lado que sorria como um idiota.

— Quem é ele? — Indagou desconfiada.

— Ele mora aqui perto.

— Je suis venu pour aider à réparer votre voiture! — Ele balançava a cabeça aparentemente feliz.

— Ma voiture n’est pas cassée! C’est coincé. — Ótimo, eu estava sobrando ali.

— Laisse moi aider. — Entrou no buraco junto com Lalisa tentando empurrar o carro para fora, mas eles não conseguiram. — Je pense que nous devrions l’essayer demain. Dormez chez moi aujourd’hui!

— Oui — Estendi a mão para que Lalisa conseguisse sair do buraco, ela aceitou quase me puxando pra dentro junto come ela, mas conseguiu sair.

— O que vamos fazer agora?

— Dormir na casa dele.

Raul, o dono da casa, tinha duas filhas, elas cederam um quarto para que pudéssemos dormir, Lalisa e eu havíamos tomado banho e agora a morena andava de um lado para o outro tentando achar sinal pra fazer uma ligação.

— Você deveria ir dormir, não tem um poste sequer na rua. — A alertei.

— Não posso ficar aqui por muito tempo, preciso de um mecânico.

— Amanhã arrumamos o seu mecânico!

— Eu preciso ir pra Tailândia hoje Roseanne! — Levantou sua voz.

— Hoje não dá, não tem avião. — A vi bufar jogando seu celular na cama e sentando brutalmente nela. — Ficar com raiva também não vai mudar nada. — Lembrei de Harry, ele sempre me dizia isso. “Ficar com raiva não vai mudar nada Rosie.”

— Por que as coisas só dão errado quando eu preciso que deem certo? — Murmurou retoricamente.

— Se você ficar com pensamentos negativos elas vão dar mais errado ainda.

Não notei o que ela falou depois, pois meus olhos fecharam sem meu consentimento e eu havia apagado, em meu sonho, eu estava com meu irmão, feliz vendo o jogo do Dallas enquanto bebíamos uma cerveja barata.

Por falar em cerveja fazia tempo que eu não bebia uma boa cerveja, Lalisa só bebia álcool de rico, super sem graça.

— Ei! Roseanne, acorda logo! — Eu sentia alguém balançar meu corpo de um lado pro outro. — Será que ela está descarregada? — A ouvi falar e abri os olhos na hora. — Finalmente!

— O que houve?

— Temos que chegar no aeroporto em uma hora. — Me levantei.

— Já tirou o carro do buraco? — A vi negar com a cabeça.

— E então como vamos embora?

Eu juro que me surpreendi, Lalisa trocou seu carro importado por uma scooter velha que fazia um barulho muito estranho, sua careta de dor ao entregar as chaves do C5 trocando por uma vino 125 era hilária, mas eu também choraria de dor caso tivesse que fazer essa troca.

Acelerando o máximo possível a Tailandesa fazia de tudo pra chegar o mais rápido possível no aeroporto, me fazendo questionar mais ainda sobre o compromisso que ela tinha.

Antes eu pensava que era só pra fugir de sua ex petulante, mas agora parecia ter algo a mais, ninguém troca uma suv por uma motoquinha por um motivo bobo.

Eu pretendia descobri o que era.


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