#2 - mundo novo

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Demorei pra raciocinar que cai num buraco de coelho. Foi tão brusco, em um segundo eu já estava caindo, quando você cai não dá tempo de pensar, você está gritando a plenos pulmões e tudo que tem na sua mente é puro pânico.

Acho que apaguei, fiquei inconsciente, eu não sei. Só sei que acordei numa suíte simples, como se eu estivesse num hotel. Estava deitada numa cama de lençóis branquinhos, à esquerda, um sofá e uma tv. No sofá, que está de costas pra mim, alguém estava sentado. Só dava pra ver o cabelo loiro ondulado caindo pelas costas.

De repente ela se levanta e fica me encarando. Uns 12 anos de idade. Pele branca, olhos escuros, com uma maquiagem vermelha. Um vestido preto com detalhes vermelhos como sangue. Era longo demais pra ela, a cauda se arrastava no chão. A menina me olhou e disse:

- Humm, você acordou. Meu nome é Alice.

- Isso é um sonho? - Olho ao redor, desesperada. Tinha alguma coisa estranha nesse lugar, dava pra sentir no ar.

- Eu já pensei muito isso, na primeira vez que vim, uns 3 séculos atrás. - Respondeu a menina chamada Alice.

- Que lugar é esse? O país das maravilhas?! - perguntei, o sarcasmo escorrendo de cada palavra. Estava ficando irritada...estou perdendo meu aniversário porque aparentemente fui sequestrada por uma menina de doze anos.

A menina riu. Um sorriso horrível.

- Eu não diria "maravilhas". As coisas mudaram por aqui. Barreiras abertas, mundos misturados, está uma bagunça. Mas isto não te diz respeito, tolinha. -

Estou sendo insultada por uma menininha com metade do meu tamanho?
(Não levem a mal, eu sei que são só 2 anos de diferença, mas naquela hora pareceu muita coisa, principalmente com aquele tom arrogante em que ela falava)

— Quem você pensa que é? Respeite os mais... —

Antes que eu pudesse terminar de falar, cordas surgiram sem aviso e começaram a me amarrar na cama. E ficavam cada vez mais apertadas. A voz de criança dessa Alice parecia bem mais velha e rancorosa.

"Só porque estou presa no meu corpo de 300 anos atrás não significa que você é mais velha que eu, e mesmo se fosse, parece que você nem se quer é poderosa, nem consegue se livrar das amarras, uma magia tão simples! Adeus tolinha, vou dar um passeio. Você só sairá das cordas ou com magia, ou se você espantar o medo e a raiva, e ficar tão calma quanto à horas atrás, pois nenhuma magia dá certo se você não sabe controlar suas emoções. Se você for a certa, te darei a bebida pra diminuir e você viajará no meu chapéu." Dizendo isso, saiu pela porta da frente.
Ela nem tem chapéu. Foi a segunda coisa que eu pensei. A primeira foi: preciso sair daqui.

Eu lutei com as amarras, mas só fiz me machucar, pois elas apertavam cada vez mais. Até que eu pensei no que a mulher (agora acreditava que não era uma doce garotinha) disse, e resolvi me acalmar. Respirei fundo, fiquei bem parada, ouvindo as batidas do meu coração acelerado. Finalmente as batidas se acalmaram, e as cordas finalmente se afrouxaram. Não dá pra acreditar que funcionou. Saí com cuidado e abri a porta da suíte.

O que vi me deixou de olhos arregalados. Uma pequena ruazinha de barro, em volta plantas e flores GIGANTES. As flores conversavam entre si. Eu via abelhas do tamanho da minha mão, lagartas gigantes, mini dragões. Mas também vi castelos imponentes mais ao longe. Ruas mais bem-feitas, com praças e chafariz. Mais isso estava distante. Por enquanto, estava numa floresta colorida e falante. Essa seria uma descrição bonita, mas a verdade é que mais parecia um campo de batalha. As flores gigantes ofendiam umas as outras, tentando convencer umas as outras que ela mesma era a mais bonita e cheirosa. As abelhas grandes comiam mini-dragões, deixando rastros de sangue. Os dragõezinhos soltavam fogo pela boca, algumas abelhas jaziam mortas no chão, negras e soltando fumaça. As lagartas tentavam comer as flores gigantes, que num instante paravam de brigar e gritavam. Havia borboletas enormes, que observavam tudo de cima, imponentes. Elas pareciam ameaçadoras. Tinham outras criaturas que eu nunca tinha ouvido falar, mas todas pareciam entretidas em lutinhas sangrentas com seus respectivos predadores. Tudo parecia tão repugnante!
E não fazia sentido pra mim, eu abrir a porta de um hotel normal e dar de cara com uma floresta falante. Acho que pra qualquer pessoa isso não faria sentido.

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