#16 - País da Cinderela

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*Dedicado a Gi_Muccillo

A costa é enorme.

Coberta de coqueiros, a areia fina e branca. Algumas pessoas deitadas se bronzeando, outras no mar. Mas aquelas pessoas são diferentes, elas são... lindas.

Cada um com belezas diferentes: homens loiros, morenos, olhos claros e escuros...mulheres de cabelos loiros sedosos, ruivos brilhantes e morenas firmes. As crianças são incrivelmente fofas e seus olhos brilham de alegria enquanto brincam na água. Fico olhando, hipnotizada.

Will parece ter igual fascínio por aquela cena tão cotidiana porém deslumbrante.

- É aqui que você morava...?

Ele fala, admirado. Me viro, esperando a resposta.

- Não, essa é a parte rica. Eu moro na parte mediana, onde moram as pessoas normais.

- Normais? - Pergunto, já que as pessoas da praia não tem cara de 'anormais'.

- É...bem, vocês vão ver.

Nós começamos a andar. Eu usava uma camiseta marrom que Raquel custurou (ela custura pra desistressar), um short jeans da terra da Branca. Meu cabelo só penteei com os dedos mesmo. Will luta, rola no chão, faz mil coisas e o cabelo dele continua imóvel. Me imagine depois de um treino de espada... parece que meu cabelo ganha vida!

Comecei a reparar nessas coisas por que aquelas pessoas são perfeitas de dar inveja. Jonh era bonito, apesar das olheras, e Raquel sempre tem aquele ar imponente com a farda dos Guardiões. Ali ela e Will não precisavam de disfarce. O nosso barco parou um pouco antes das crianças que brincavam e elas nos encaravam. Descemos com a água no joelho e começamos a andar.

As crianças nos veem e riem, sendo repreendidas pelos pais. Já eles, nos olham acusadores, como se tivéssemos feito uma coisa muito errada. Eu fico nervosa, sem entender nada, e ao mesmo tempo exposta, com todos os olhares em cima de mim. Duas loiras conversam:

- Que ultrage, isso é um desreispeito ao nosso bom gosto. - E impina o nariz. A outra ri e começa a comentar sobre a roupa de Will:

- Aquela camisa está ao contrário, e a calça, surrada demais ! Oh, e aquele cabelo penteado pra frente, que ridículo. Cabelos masculinos devem ser penteados para trás, e femininos para frente, é simples ! - Ela fala, irritada. A outra ri muito quando fala:

- Não acredito que estou dizendo isso, mas o de olho verde mal vestido até que dá pra se salvar...

- O quê?!

- Olhe, ele é corajoso.

Will começava a lançar olhares igualmente raivosos. Raquel andava com elegância, e fizera questão de colocar o broche com o símbolo dos guardiões no vestido. Jonh olhava para o chão. Atravessamos a praia e chegamos numa rua de ladrilhos, com casas a beira-mar em volta. Casas parecidas com as do meu mundo. Fico aliviada por me livrar das pessoas da praia, mas... as poucas pessoas que andavam na rua também nos olhavam feio. Agora que vim perceber que usavam lindos vestidos vitorianos, apesar do calor, cobertos de joias e coques dignos de princesas. Que estranho, as ruas tão atuais e as roupas tão ultrapassadas...

Nós seguimos andando. Jonh está nos conduzindo para a casa dele quando...

Dez homens vestidos de armadura, capacete e espada muito longa, aparecem. Eles tem cheiro de mil batalhas vencidas. Nos olham da cabeça aos pés e gritam que Cinderela quer nos conhecer. "De novo", suspiro. Espero que seja melhor do que com a Branca.

Caminhamos por um tempo considerável. O país da Cinderela é grande demais...

Chegamos. O CASTELO é grande demais. Ele é enorme! Subimos escadas, atravessamos corredores, viramos a esquerda, subimos a outra escada e viramos a direita. Chegamos num corredor longo e fomos para a última porta, que deu num lugar de abalar qualquer estrutura. Imagine um salão enorme, enorme mesmo, com o teto super alto. Diversas mesas espalhadas pelo salão, mas no meio uma grande e comprida, com um lustre de cristal. Numa ponta, uma cadeira grande, parece até um mini trono. Sentado nele, está um rapaz forte e alto, com o cabelo castanho perfeitamente arrumado para trás e um sorriso de derreter qualquer coração... Ele era como...um príncipe. Ele se aproxima de nós com suas roupas ultrapassadas e nos aponta a mesa, que antes estava fazia,mas agora coberta de frangos assados com molho de maracujá, fileiras de carne banhadas ao vinho, arroz com passas, saladas de nozes e damascos, diversas frutas e doces maravilhosos. Nós nos sentamos, mas o príncipe sorri mais ainda e me para.

- Você não. Minha esposa quer falar com você...

Eu não consigo recusar. Nem poderia, afinal. Ele me leva para um quarto digno de rainha e vai embora. Nele, vejo uma mulher mais alta que Raquel. Ela está de costas e tem cabelos loiros com cachos caindo lindamente pelas costas. Usa um vestido de princesa, azul clarinho, mas cheio de rendas e detalhes. O mais impressionante: fadinhas minúsculas voam ao seu redor, colando uma fita ali, remendando uma costura ali, colocando um batom ali. Ela se vira. Sua pele é clara e perfeita. Sua boca é brilhosa, parece que as fadinhas colocaram gloss... Seus olhos são castanhos e profundos, e eles prendem meu olhar. Ela sorri.

- E aí, gostou da minha produção? Sim, eu sou perfeita, eu sei. Está vendo essas joias? Vieram diretamente dos Anões da Terra sem Tempo, cuja barreira não caiu. Você consegue imaginar como é difícil e caro chegar lá? Só eu poderia fazer umas coisa dessas, por que eu sou a Cinderela.

Fico de boca aberta. Ela continua.

- Sim Diana, não quer jantar com a gente depois do seu dia cansativo pelo mar? Ah, claro que quer. Mas você precisa de vestimentas adequadas!

Imediatamente dez fadinhas seguram um vestido do meu tamanho no ar e começam a me vestir. Elas me rodeiam, passam base na minha cara queimada, colocam rímel, e, por último, fazem o laço na cintura do vestido. Foi tudo muito rápido, mas quando me olho no espelho, estou magestosa... na verdade, nem parece eu.

Quando volto estão todos arrumados, e me esperavam para começar a refeição. Tudo tinha um sabor mais intenso que no meu mundo, e a comida nunca esfriava e nunca acabava.
Estava encantada.

Nós passamos a tarde comendo, e nunca nos saceávamos. Caldo escorria pelo canto da nossa boca, e eu quase ouvia um "tic tac" de relógio na minha mente, mas eu não queria pensar no tempo.
Eu não queria pensar em nada.

- Aanh, acho que deveríamos parar um pouco... - Assim que Raquel diz isso a sensação de fome voltava e voltávamos a devorar carnes, cereais, saladas, frutas e doces.

Até que sinto um calor na minha coxa direita, e o tic tac parece mais alto. Paro um pouco. Minha barriga queima, mas faço um esforço. Levo um braço por dentro do vestido e acho um bolsinho por dentro. Afundo mais a mão e a temperatura esquenta. Sinto algo redondo, duro e quente.

Puxo de uma vez.

E o que sai é uma semente de girassol com um fiozinho. Está tão quente que solta um fiapo de fumaça. Ao longe, Cinderela e o Príncipe me olham. Eu olho pra semente, pra eles e pra semente de novo. Coloco ela no pescoço e amarro, sentindo o calor no pescoço.

Quase imediatamente, a sensação de fome passa, e toda a comida desaparece. Will solta um grunhido triste, mas depois parece aliviado por estar livre da maldição. Jonh está confuso e Raquel irritada por ter caído na maldição tão fácil...

A semente esfria, o tic tac para. 

- Parabéns, você os salvou! - Cinderella sorri com os dentes perfeitos. - Essa semente é encantada. Só com ela  você chegará à caverna...mas você precisa prestar mais atenção no insignificante, só assim você entenderá o verdadeiro significado das coisas... - Ela sorri de novo e eu rio também. Talvez ela tenha algum encanto no sorriso, não sei. Só sei que ela estala os dedos, e nós desaparecemos em fumaça azul clara.
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