#40 - Pausa para o chá

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E então vem o choque térmico.
Nunca senti tanto frio na minha vida.
Olho desesperada pra Alice, e antes que eu precise falar qualquer coisa, ela percebe o erro de ter me teleportado para um lugar frio com as mesmas roupas de antes, e faz surgir um vestido branco e quentinho em mim, com várias cartas de baralho estampadas, e um sobretudo vermelho escuro. Também surgem meias e luvas brancas, e um par de botas pretas de cano alto. Agradeço. Ela continua com o mesmo vestido vermelho-sangue que passa dos joelhos, mas deixa os braços e as canelas à mostra. E ela não se incomoda com o frio. Não se incomoda com nada.
- Alice...onde estamos?

- Não percebeu ainda? Olhe em volta. MINHA MARAVILHOSA TERRA NATAL! LONDRES! INGLATERRA!

Ao praticamente gritar essa última frase, faz um olhar louco, alucinado. Ela claramente não está bem.

Olho-a por uns instantes, sem saber como reagir. Muita gente ouviu o que ela falou, e olhou de um jeito muito estranho para nós por um tempo, mas voltaram pra fazer o que cada um estava fazendo.

- Quantas línguas você fala? - Pergunto a ela, pois ela falou em português, e estávamos na Inglaterra.

- Apenas inglês.

Olho pra ela sem entender.

- Você está falando português nesse exato momento.

- Eu uso um feitiço, para que tudo que eu falar, as pessoas ouçam em seu idioma. E tudo que as pessoas falarem, eu ouça no meu.

- Você tá brincando...

- Em Isleryn também é assim. Você obviamente fala uma língua diferente dos habitantes de Isleryn. E lá você ouve tudo em seu idioma, e vice-versa. Eu apenas fiz o feitiço funcionar nesse mundo também. Caso contrário, teríamos problemas.

- Isso é tão...inacreditável.

- Não importa o quanto do inacreditável eu te mostrar, quantos mundos diferentes você ver, parece que você nunca vai entender que tudo, absolutamente tudo é possível quando as leis de vários mundos se misturam. Não existe nenhum limite para a realidade. Qualquer ideia, qualquer pensamento aleatório se torna completamente passível de acontecer. Quando você finalmente aceitar isso, mais preparada você estará para o que está por vir.

Não sei o que responder. Simplesmente não sei.

Na rua, vejo os famosos ônibus vermelhos de dois andares.

Espere, aquilo em cima de um dos ônibus era um pássaro Dodô?

Caso você não saiba, o dodô é um pássaro pré-histórico já extinto. Acho que ele aparece naquele desenho, A Era do Gelo. Mas nesse caso, o que eu vi tinha mais ou menos um metro de altura, e estava em cima de um ônibus que estava passando na rua. Logo o perdi de vista.

- As criaturas de Isleryn estão aqui também?

- Elas estão no mundo todo. Mas, especialmente em Londres. Foi aqui que a magia de Isleryn entrou pela primeira vez.

Seguimos andando até um pequeno restaurante. No caminho eu vi sapos na altura do meu joelho, insetos gigantes e alguns pássaros estranhos. Admito que tive medo (Não importa quantas coisas macabras eu já tenha visto, sapos gigantes sempre vão ser assustadores), mas eu não comentei nada. Tenho que aceitar o inacreditável.

Alice bateu três vezes na porta de vidro, e disse: "O dia está ótimo para um baile, mas nunca se esqueça dos seus sapatos de cristal"

A porta rangeu, e abriu, como se um ser invisível a tivesse aberto.

Nós entramos no restaurante mal iluminado. Mesas de madeira escura, um aquário vazio. Com água, mas sem nenhum peixe.

- Cheshire meu querido, pode aparecer. - Diz Alice.
- Sempre estragando minha entrada dramática. - Diz alguém, e pela voz, eu poderia dizer que essa pessoa estava rindo enquanto falava.

O Reino de Isleryn Onde histórias criam vida. Descubra agora