#21 - Reescrito

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Olhamos para todos os lugares.
- Ela deve ter se escondido no quarto - disse Tinker.
- Também, com uma cena sangrenta dessa... - Concluiu Will.
Nos espalhamos pelos cômodos da casa não tão grande, e logo Tinker grita. - Aqui!
A chapeuzinho, encolhida no canto do quarto, com a cabeça enterrada entre os joelhos. Ela chorava muito.
Eu vou lá pra socorrê-la, mas seus olhos me atravessam. Ela não me vê. O seu olhar é desviado para os olhos azuis do querido Jonh.
- Calma. Porque estais chorando?
Enquanto isso, sussurro pra Tinker. "Porque ela não pode nos ver?" e a fada responde. "Ela foi cegada pela fada do campo..."
Enquanto isso, ela continua seu relato.
-Aquele lobo...ele era um homem, não era?
- Sim...
- Ele tinha óculos quadrado e barba longa?
Raquel encara a menina, desesperada pra poder interrogá-la, mas ela só tem olhos pro Caçador.
Pensando bem sobre isso...que horror. Nas histórias, eu sempre imaginava a chapeuzinho como uma pré-adolescente, mas esta, é apenas uma criança!
- Eu já havia cruzado com ele, no mercado aberto. Ele fazia mágicas para as crianças da minha idade, mas um dia, minha mãe me contou o truque...eu, eu o revelei. Ele parou de ganhar dinheiro com os truques, e disse que ia se vingar...oh, eu não o reconheci como lobo...e, isso tudo é culpa minha, meu Deus, como está minha avó? Se não morreu engolida, pode ter morrido de ataque do coração...
Tinker corre pra sala e derrama pó roxo sobre a cabeça da avó. Ela se esquece de tudo que aconteceu, e toma sopa tranquilamente, resmungando que está fria.
Enquanto Tinker cuida da avó, Jonh consola a garotinha, que dá um abraço na avó e diz que a ama, e a vovozinha fica lá sem entender muito bem mas gostando do carinho.
Me sinto estranha. No começo dessa loucura, eu, A Diana Certa, tudo girava a minha volta. Mas eu não fiz nada útil para salvar a chapeuzinho...pelo menos Raquel ajudou com seu entendimento médico. Me aproximo de Will. Ele sente o mesmo que eu...
Falando em Will, relembro o que ele falou. Agora já fizemos tudo o que precisamos...ficaremos presos aqui?
Ninguém sabia ainda, mas espiando pela janela, estava um garotinho de cabelo castanho encaracolado e um olhar travesso. O mais novo dos irmãos Grimm. Ele nos via, e anotava tudo num pegaminho, tudo mesmo. Talvez, se ele não tivesse tropeçado e deixado o pergaminho cair no riacho, talvez se o papel não fosse tão fino, ele poderia ter salvado as partes que eu, Will, Raquel e Tinker aparecíamos. Talvez, se o Grimm mais velho acreditasse nas histórias do pequeno sobre um casal de adolescentes de roupas estranhas e uma médica de cabelo pegando fogo. Sim, foi assim que ele nos viu, o pequenino de olhos brilhando que em breve fará uma enorme diferença pra humanidade.
Num estalo, tudo ficou vermelho, fumaça rubra entrando pelos nossos narizes.
Em instantes, estávamos no barco outra vez.

O Reino de Isleryn Onde histórias criam vida. Descubra agora