#18 - Caverna dos Quatro Ventos

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No segundo seguinte, estávamos num lugar totalmente diferente.

A grama baixa, balançando com o vento. Mais adiante, uma floresta, e no meio dela, uma montanha. Provavelmente, em cima dela estaria a tal caverna, exatamente como Tinker falou.

Falando nisso, cadê Tinker?

- Ei, Raquel. - Todo mundo me olha. - Cadê Tinker?

- Não sei - Raquel franze a testa. Jonh parece preocupado, e Will tenta se lembrar da última vez que a viu. Eu só espero uma conclusão...

- Ela estava conosco quando descemos do barco... - Will começa. - Será que quando os cavaleiros nos pegaram, eles aprisionaram Tinker?

- Não vi ela na hora da comida. - Jonh fala, rouco. Ele parecia melhor, e é verdade que ele realmente se apegou à fada. E eu também...

- A Cinderela tem uma coleção de fadinhas que a ajudam. Talvez algumas sejam amigas de Tinker...sei lá, talvez ela tenha resolvido ficar por lá.

- E ela ficou sem se despedir? - Raquel fala.

- Não é impossível.

Respiro fundo. Nós continuamos a andar, até que eu acho um X vermelho na grama, com uma placa do lado. A placa dizia:

ENTERRE AQUI ↓

- Enterrar o quê? - Raquel fala.

- Ou quem - Will completa, me fazendo rir.
Sementes são feitas para serem enterradas, querida.

É a voz da Cinderela na minha cabeça! Não gostei, é estranho (e ruim) ter os pensamentos expostos pra ela. Mas eu fiz o que ela falou, arranquei a semente e enterrei, deixando o fio cair. Primeiro, nada aconteceu, mas a planta começou a crescer numa velocidade espantosa, o caule ficou largo. Ela cresceu e cresceu. A última pétala do girassol gigante, acabava no topo da montanha, como uma rampa para os convidados. Primeiro foi difícil escalar o caule da flor, mas depois nós andamos tranquilamente pela "ponte", pois o caule ficava mais largo e plano. As pétalas eram duras, nada macias como o que eu imaginei. Chegamos todos na montanha fria, e foi fácil ver uma pequena caverna envolta por névoa. Fomos direto pra lá. Tinham pedras preciosas enterradas nas paredes, e delas saiam luzes.
Minhas pernas já estão cansando, mas continuo andando.
Atravessamos a caverna e não vemos nada demais por um tempo, até chegarmos em um lago. Próximo a margem, um leão de pêlo negro repousava, dormindo tranquilo em cima de um baú.
É um teste. A Cinderela falou.

A verdade é que era bem tentator, três desejos, três quaisquer desejos...

A luz dos diamantes refletia no lago, que brilhava intensamente.

Como farei isso? Penso.
Você não fará. O quê?
Você errou. Você foi testada e não passou no teste...

Me arrepio. Já? Mal chegamos! Onde foi que eu errei?!

Ela não responde. Eu aviso meus amigos sobre o que Cinderela falou, e eles ficam preocupados. Jonh se aproxima de um diamante e fica lá. Primeiro não ligamos, mas ele parece concentrado, então ficamos curiosos.

- O que você tá vendo aí?

- Você, à alguns minutos atrás!

Nós corremos para ver e o diamante refletia uma imagem...minha, pouco antes do girassol crescer. Eu me vejo:
Uma garota bronzeada, de cabelo castanho liso e lábios vermelhos, e (oh!) um vestido de princesa, tirando um colar de semente e semeando-a...até ai tudo bem. O diamante dá um zoon no fio que fica no chão do gramado, agora molhado por causa dos pingos de chuva.

Ela me disse algo sobre prestar atenção no insignificante. Putz, como eu sou burra!

- É isso aqui? - Will me mostra o fio entre seus dedos.

- Você pegou? - Falo, descrente.

- Claro! Era seu.

Meu coração dá pulinhos de alegria. Will é a melhor pessoa, meu deus. Ele me salvou!

Eu pego o fiozinho e ele parece bem normal. Raquel o puxa o cordão fino da minha mão, corre e joga no leão negro.

- Você está louca?

O leão acorda e ruge pra nós. Estamos tão próximos que posso sentir seu hálito quente. Ao mesmo tempo, o cordão vai se expandindo, virando uma corda enorme que começa a envolvê-lo. Ele faz força, ruge, faz de tudo, mas a corda continua bem apertada. Jonh, de longe o mais corajoso de nós, se aproxima e pega o baú. Trancado. Ele me dá e o baú se abre ao meu toque, revelando a Lâmpada Mágica.

Tenho que admitir que não foi bem o que eu esperava. Era uma lâmpada, se é mágica eu não sei, mas ela está suja e enferrujada. Quando pego ela mancha meus dedos de fuligem. Estávamos quase saindo quando...

Esperem.

E não é a voz da Cinderela. Quem fala é...é o leão.

Me soltem.

- Não! - Jonh fala, ,mas Raquel fica de frente pro leão. Eu agarro minha espada, achando que ela vai desamarrá-lo, mas para meu espanto ela se senta e começa a bater papo.

- Você vai nos machucar?

- Não prometo nada.

- Então o que quer conosco?

- Ajudar. Eu sei das coisas. Vou... orientá-los. Eu sou a chance de vocês, uma nova pespectiva, uma nova forma de ver tudo. -

Ficamos em silêncio, só esperando a decisão de Raquel. Finalmente, ela o solta, e todos nós levantamos as espadas, apreensivos. Suor escorre da testa de Jonh.
E o leão se aproxima de nós com a boca aberta, estou prestes a acertar um golpe de espada na lateral do seu corpo quando ele simplesmente lambe o rosto de cada um de nós, como um cachorrinho faria.
Sinto a gosma no meu rosto. Que nojo.
De repente eu vejo tudo, e entendo tudo com clareza. Eu simplesmente sei o que fazer. Sei qual é o meu papel, como Tinker diria.

Vai ser um caminho difícil, mas nada melhor que meus amigos e uma nova pespectiva para enfrentar as coisas mais horríveis e loucas que virão pela frente.

Mesmo que o preço seja alto...

Continua...

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