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Depois de arrumar as malas, tudo que eu precisava fazer é: Fazer alguma coisa até que venha o amanhã.
É geralmente aquele momento de calma antes de uma coisa grande acontecer. Num casamento, a noiva passa o dia todo se arrumando, mas depois de pronta, ela espera. Parece que a vida dá esse momento como uma espécie de "Ok vou te dar alguns minutos para que você se acostume com isso". Parece um tempo longo, mas não é longo suficiente para fazer alguma coisa realmente importante. Como ir ao meu restaurante preferido, ou visitar os pontos turísticos da minha cidade mais uma vez.
Talvez o tempo seja apenas um pedaço da eternidade. Um belo dia alguém começou a contar: Um... Dois... Três... E assim ele nasceu. Para algo criado, ele é bem rebelde. Há um mês eu não tinha certeza se teria que me mudar, mas agora eu tenho. A certeza fez com que meu modo de ver a cidade, minha família, meus amigos, mudasse. Fez com que eu aproveitasse cada gota de momento que eu posso ter aqui antes que ele escapasse pelos meus dedos. Mas o tempo?... Ele apenas continua como se nada tivesse acontecido. Ele simplesmente segue. Antipático e friamente, passando por cima dos acontecimentos.
Alguém cai e machuca o joelho. Doze de março.
O machucado infecciona e agora tem que usar alguns remédios. Treze de março.
A infecção se espalha, e agora a única solução para que não piore será amputar a perna e colocar uma prótese. Quinze de março.
Simples assim.
Antes eu era uma garota normal que estava no ultimo ano do ensino escolar. Depois eu descobri que meu pai morto estava vivo. Descobri que terei que deixar minha família e amigos para ir para um lugar que nem sei como é.
Será que algum dia eu chamarei algum lugar da Ilha do Sul de casa? Será que quando eu finalmente encontrar o meu pai, será como eu tenho imaginado? E desde que comecei a pensar sobre isso, se passaram cinco minutos.
Faltam quatro horas e cinquenta minutos para a meia noite. Quatro horas e cinquenta minutos para o amanhã.
– Checar lista de mudança. – Digo, e a Rita apresenta uma lista. Já estava tudo ok. – Concluir. – Estou com tudo pronto pra ir.
– Mas que depre é essa, Elle? – Mark chega ao meu quarto animado demais – A gente ainda tem bastante tempo pra fazer umas coisas legais.
– Tipo o que? – Eu falo desanimada.
– Tipo o que você quiser! Vai! Qualquer coisa! Se quiser um hambúrguer de outro estado eu ligo para o Tony e ele vai buscar. Podemos pedir pizza e umas bebidas, o que acha? – Ele começa a fazer cócegas em mim.
Eu tento segurar o riso, afinal não estou muito no clima de rir, mas ele consegue me forçar.
– Ok, ok. – Digo me rendendo. – Vou tomar um banho enquanto você providencia isso tudo ai. – Faço um circulo com o dedo indicador.
– Beleza! – Ele se levanta e sai.
Quando chego à sala, vestindo meu pijama e ainda secando o cabelo com uma toalha, ouço a campainha.
Jogo a toalha na cadeira e abro a porta.
– Alguém pediu uma pizza? – Diz Tony já entrando com pizza e uma sacola com varias garrafas.
– Alguém pediu um hambúrguer com fritas? – Megan entra com uma sacola grande da nossa lanchonete preferida.
– Gente, o que é isso? – Pergunto surpresa.
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Os Exilados
Science FictionNo futuro pós-colonização de Marte, onde 80% das pessoas possuem habilidades sobre-humanas, ser parte da minoria pode ser fatal. Ellena é uma jovem que teme a terrível deportação para a Ilha do Sul, lar dos sem-habilidades. Mas quando alguém do pass...