13 - Sintomas

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–... Ele queria o meu relógio, mas eu tive a ideia de distraí-lo jogando uma pedra e correr. – Conto a história do tiro de raspão e as meninas me olhavam atentamente. Já tínhamos acabado de comer nossa salada de batata e cenoura com arroz. O espaço de almoço da liga era bem extenso. O barulho das conversas das outras pessoas que estavam ali fazia a nossa conversa virar quase um sussurro. – Eu ouvi o disparo, e quando a bala me acertou eu caí no chão e a porta se fechou.

– E depois? Ele foi embora? – Pergunta Katy.

– Bem... – Eu não deveria contar dos soldados para elas, do contrário levantaria mais suspeitas sobre quem eu era. – Eu o vi cair no chão. Acho que levou um tiro, mas eu não voltei lá para ver. – Elas fizeram uma cara indiferente, porque sabiam que pessoas morrendo por aqui, não era um acontecimento raro.

– Eu nunca precisei matar alguém... – Diz Katy, pensativa. – Não sei qual seria minha reação depois disso. Acho que mesmo sabendo que foi necessário, para me proteger ou algo assim, eu me sentiria meio mal.

– Eu também nunca precisei matar ninguém, mas se minha vida estivesse em risco acho que não me sentiria culpada por me defender. – Ally acrescenta. – Elle, hoje você disse que viu uma garota durante o treino?

– Sim... – Respondo. – Eu não sei o que aconteceu, na verdade...

– Ok. Não precisamos falar sobre isso. – Diz Katy. – Mas e agora? Já que está aqui, vai começar a frequentar o centro de treinamento conosco? – Ela pergunta com um tom de voz animado.

E me tornar um soldado? Ela só pode estar brincando.

– Eu não sei se sou boa nisso. – Digo balançando a cabeça.

– Ninguém é. – Katy rebate. – Eu era a pior lutadora do meu grupo quando cheguei e hoje, quase um ano depois, sou uma das melhoras da liga inteira...

– Pior que é verdade. – Ally confirma.

– Não é sobre o quanto você acha que é boa no que está fazendo e sim sobre o quanto você está disposta a melhorar. – Katy diz, tentando me incentivar. Eu tento pensar a respeito, mas entrar para o exército da liga não me parece o tipo de coisa que eu faria. Durante toda a minha vida, eu tentava evitar situações de risco, e estar na linha de frente de uma guerra não soava muito seguro.

Mas agora já não estou mais na minha vida comum. Eu estou na ilha, e a ilha não é segura. Tudo mudou sem que eu tivesse o controle e talvez eu também devesse mudar. Esse novo contexto caótico exigia que eu ao menos soubesse me defender.

Por fim... Penso que esse pode ser um recomeço...

– Ok! – Eu digo enfim. – Acho que vale a tentativa.

– É assim eu se fala! – Katy comemora. – Agora que somos amigas, nos conte um pouco sobre você? – A palavra "amiga" me causa um sorriso.

– O que querem saber? – Pergunto.

– Sua família, sua vida antes daqui... Coisas desse tipo. – Diz Ally.

– Hum... Eu morava com a minha mãe e o meu irmão, numa casa de dois andares perto do parque na Imperial. – Digo, escolhendo as palavras. – Era uma vida boa, eu tinha meus amigos, tinha... Uma espécie de começo de um relacionamento amoroso...

– Você tinha um namorado?! – Pergunta Katy entusiasmada.

– Não chegamos a namorar, ele era o meu melhor amigo. O nome dele é Tony. – Sorrio ao falar nele ao mesmo tempo em que sinto uma pontada no peito por me lembrar dele. – Nós sempre estávamos juntos e ele é a pessoa que eu mais confio no mundo. – Sinto meus olhos ficarem marejados, e pisco algumas vezes para espantar as lágrimas. Aqui não, Ellena. – Mas na minha ultima noite na Imperial, rolou um beijo e...

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