10 - Bem Vinda a Ilha do Sul

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Acordo com a voz do piloto dizendo que estamos prestes a aterrissar. Olho pela janela e vejo que já é noite, e algumas estrelas aparecem no céu como vários furos num tecido escuro. Enquanto o avião diminuía em altitude, prestes a pousar, eu pude ver que passamos pelo muro que rodeava a ilha, ele tinha como objetivo controlar melhor quem entrava e saída da ilha para a própria proteção dos moradores dela... Ao menos é o que dizem.

Desço do avião e ando em direção ao terminal. Ao chegar, espero na fila para selecionar algum local disponível no painel de distribuição de moradias para os recém-chegados.

Quando faltavam três pessoas para a minha vez, chega uma notificação no meu relógio. Quando abro a notificação, é uma mensagem anônima. Hesito por alguns segundos antes de abrir, na imagem aparece o desenho de uma fênix azul. Em algumas áreas das suas asas o azul fica mais fraco, formando algum tipo de frase quase ilegível.

O tipo de frase que não seria detectada pelas câmeras.

Tento ler o que está escrito sem chamar muita atenção. "Villa Nove, Rua sete, número 18". Seja quem for que fez isso, foi uma ação bem pensada. Ao chegar a minha vez no monitor noto que a Villa Nove fica no estado vizinho de onde eu estava agora. Os pequenos estados da ilha eram chamados de Villa e as ruas eram nomeadas por números.

Olho ao redor para ver se tinha alguém que parece estar me monitorando, mas ninguém parecia suspeito. Talvez um suspeito não tenha cara de suspeito. Digito o endereço correspondente no monitor e confirmo.

– Por aqui senhorita. – Um guarda me encaminha até os ônibus particulares que nos levarão aos nossos respectivos estados de escolha.

O ônibus era bem largo, de cor branca por fora com umas faixas azuis na vertical. Por dentro as paredes e assentos eram de cores escuras. Eram duas fileiras verticais de assentos ao longo do ônibus, com dois assentos na horizontal por fileira e luzes nos dois lados do ônibus. Meu assento era o primeiro da fila ao lado direito. O ônibus não ficou lotado e tinha vários assentos vazios, inclusive o que estava ao meu lado. Mas ficar sozinha não me incomodava, eu podia me sentar mais a vontade e observar a paisagem enquanto passávamos por ela. Fileiras de árvores formavam uma espécie de muro nos lados esquerdo e direito da estrada. As árvores me fazem lembrar a árvore no meu jardim, e do meu beijo com o Tony.

Lembrar-me da cena faz com que eu sinta uma pontada no peito. Por um momento penso que não é saudável pensar nisso, porque não poderei tê-lo desse jeito. Mesmo que eu o ame, eu agora era uma moradora permanente da ilha.

Mas pensar nele me fazia bem, e eu decido ligar mesmo sabendo que posso acabar chorando como uma criança.

– Ligar para o Tony. – Sussurro perto ao relógio para não fazer tanto barulho. A Rita rapidamente encontra o contato dele e inicia a chamada. O modo "ligação" aparece na tela e some logo em seguida. – Ligar para o Tony. – Tento outra vez, e o mesmo acontece. Talvez meu relógio esteja com defeito. Decido tentar enviar uma mensagem. – Oi Tony! – Sussurro as palavras a serem enviadas – Eu já estou na ilha, e estou a caminho de casa. – A palavra "casa" soa estranha. – Eu tentei ligar, mas não consegui então quando eu chegar, tentarei outra vez. Espero que esteja bem. – Digo tentando não parecer emocionalmente abatida. – Eu te amo. – Finalizo e clico na tela para enviar a mensagem. Suspiro como se tentasse expulsar a tristeza do meu peito, mas era impossível.

"Erro de envio" Aparece na tela. Faço uma cara confusa, mas por fim desisto de tentar falar com ele e deixo para fazer isso quando eu chegar a algum lugar.

Enquanto eu não podia falar com ninguém, tento expulsar o pensamento triste. Vou afastá-lo o quanto eu puder, porque em algum momento eu teria que me conformar que eu não posso mudar isso. Tento espantar as lágrimas dos meus olhos, e vejo na janela o reflexo do motorista de óculos escuros e barba, que parecia me olhar através do espelho. Quando percebeu que eu o olhei, ele se virou e falou algo.

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