11 - Um Livro Aberto

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Bem... – Diz meu pai limpando os dedos após comer toda a pizza do seu prato. – O que quer saber? – Ele se debruça sobre a mesinha do quarto e direciona sua atenção a mim.

Tinha muitas coisas que eu queria saber, que eu nem sabia por onde começar. Eu mal acreditava que ele estava ali na minha frente. Talvez eu devesse começar a perguntar sobre o plano, perguntar como eu poderia ajudar e até qual era o tamanho do seu exército... Mas por fim, acho que só tinha uma pergunta que eu realmente queria fazer.

– Porque nunca nos disse que estava vivo? – Pergunto, e ele parece pouco surpreso com meu questionamento. – Passei a maior parte da minha vida acreditando que meu pai estava morto, e agora descubro que estava vivendo esse tempo todo em outro lugar. – Eu tentava manter a calma das minhas palavras, e olhava nos olhos dele. – Se estava bem, por que deixou que pensássemos o contrário? Que nós sofrêssemos com a sua morte e vivêssemos a maior parte da nossa vida sem um pai?

Ele abaixa a cabeça, parecendo pensar em como responder. Acho que de todas as perguntas que ele pensou que eu fosse fazer essa não estava em primeiro lugar na lista, mas ele sabia que em algum momento ela surgiria.

– Querida... Há muitas coisas que você ainda precisa saber, e vou tentar explicar tudo para você. – Ele diz. – Mas antes de tudo, eu quero que saiba que saiba que tudo o que eu fiz e também escolher esconder isso de vocês, foi para protegê-los.

Aceno um sim, demonstrando confiança em suas palavras.

– Para começar, eu não podia voltar... O governador Matthew Sanz encomendou meu sequestro naquele dia do "assalto". O plano era forjar a minha morte e me interrogar por todos os crimes federais que eu sabia que colocaria todos os envolvidos na prisão, inclusive ele. – Ele se endireita na cadeira – Mas o soldado que ele mandou para fingir meu assassinato era meu aliado, e também sabia sobre os crimes de Sanz. Então ele me contou tudo antes daquele dia, dando-me tempo o suficiente para planejar uma fuga.

Ele contava detalhadamente os acontecimentos, como se estivesse preocupado que eu os entendesse perfeitamente.

– No tempo em que estive na Imperial fiz vários aliados... Acho que tenho esse talento de conquistar a confiança das pessoas. – Ele sorri. – Eles me ajudaram a preparar a minha fuga. Depois que fui para o hospital, esse soldado disse a Matthew que por um engano acabou me matando e uma das médicas amiga da sua mãe aplicou um soro que diminuía meus batimentos cardíacos e minha respiração, fazendo com que realmente parecesse que eu havia morrido. Ela também providenciou um atestado de óbito falso. Eu estava sedado o tempo todo, então para mim, todo esse trabalho foi como uma longa e tranquila noite de sono. Dormi com um tiro e acordei na Ilha do sul. – Ele se diverte com a sua própria definição da história.

– Então o governador não sabe que está aqui? – Pergunto.

– Tudo foi planejado para que ele nem ao menos desconfiasse. – Ele mexia as mãos enquanto falava. – Na noite do meu enterro, tudo aconteceu para que fosse o mais realista possível. Nem mesmo a Mariah sabia, a dor dela precisava parecer real. – Ele não demonstra se orgulhar com essa parte do plano. – Depois da minha "morte", os agentes do governador continuaram investigando a minha vida por mais um tempo, então só contei a verdade para sua mãe depois de um ano.

– Se a mamãe sabia a verdade por que o garoto na floresta não disse que eu poderia conversar com ela a respeito de você?

– Para que não corrêssemos o risco de alguém acabar escutando. – Ele diz. – Continuando... Na madrugada da noite do meu enterro, alguns aliados retiraram meu corpo e enviaram para a Ilha do Sul junto com algumas cargas e mantimentos. Nessa hora eu já havia acordado, foi uma viagem longa e apertada. – Ele revira os olhos e eu dou um sorrisinho de lado por causa das expressões dele. – Quando cheguei aqui, pude comprovar pessoalmente tudo que eu havia descoberto antes, os vírus espalhados no ar, água e alimentos contaminados, escassez de comida... Sanz tem assassinado essas pessoas aos poucos, todos os dias, de forma fria e cruel.

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