28 - O Outro Dia

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Desço as escadas do meu apartamento e vou até o centro da liga. Quando a porta se abre, tudo esta vazio.

– Mia? – Chamo, esperando ouvir alguma resposta. – Eric? Ally? – O silêncio abraçava o lugar, tudo o que eu ouço é o barulho dos meus passos.

Continuo andando até a ala médica, e quando abro a porta vejo alguns corpos no chão. Vejo rostos conhecidos e me desespero. Estavam todos mortos! Caminho por entre eles e vejo Ally, Juan... Eric. Ajoelho-me diante do corpo dele esticado no chão com uma bala no peito. Lágrimas começam a rolar dos meus olhos.

– A culpa é toda sua. – Ouço uma voz atrás de mim. Viro-me e vejo Katy na porta da sala com o abdômen enfaixado. O sangue do ferimento estava vazando pelo curativo, ela não ia viver por muito mais tempo.

– Katy! – Me aproximo dela. – Deixe-me ajudar com...

– Como pode ser tão egoísta? Você destruiu a liga! – Ela diz, interrompendo-me. – Nós tivemos que sair às pressas. Varias pessoas morreram tentando se salvar! – Mesmo fraca, os seus olhos me fuzilavam. – Eu confiei em você!

Abaixo a cabeça, eu não conseguia mais olhar para ela.

– Eu não podia saber. Eu queria que isso acontecesse...

– Diz isso pra eles! – Ela aponta para a sala com os corpos que pareciam ter se multiplicado. Olhos vazios e corpos ensanguentados estirados pelo chão da liga, quanto mais eu olhava, mais gente parecia surgir.

Acordo com o barulho dos fogos de artificio.

O ano novo havia chegado, por essas horas estaríamos concluindo o plano de ataque se eu não tivesse estragado tudo. Encosto minha cabeça na parede e fecho os olhos enquanto os fogos parecem explodir na minha cabeça me causando dor.

Não era para ser assim.

Meu pai deveria estar se tornando governador hoje, e não sendo enterrado em algum lugar. Levanto-me e vou até a pia do banheiro da cela e lavo o meu rosto, tentando expulsar as imagens do meu pesadelo. Eles parecem ficar cada vez mais reais.

Olho para o meu rosto no espelho e noto como meus olhos parecem inchados, e me lembro de estar chorando durante o sonho. A cor âmbar dos meus olhos parece sem vida agora, assim como tudo à minha volta. Se os exilados estiverem vivos, com certeza não estavam atacando o palácio do governador, provavelmente estariam tentando sobreviver em algum lugar.

Um dos agentes para em frente à cela e a abre.

– O governador Sanz nos deu ordens para transferi-la para o presídio de segurança máxima da cidade. – Ele diz.

Perto do que eu pensava que ele fosse fazer comigo, depois do fiasco que foi o jantar, me prender definitivamente me parecia um castigo menos severo. Pelo visto ele aceitou que eu não faria parte do governo dele. De todas as coisas que eu poderia fazer para desonrar o meu pai, não consigo imaginar uma pior do que essa.

Entrego-me a ele sem discutir ou tentar lutar, afinal, aquilo me parecia justo.

O agente me leva pelo extenso corredor enquanto ainda se podiam ouvir os fogos de artificio. Viramos em várias direções até sair em um lugar mais afastado do palácio, parecia uma garagem escondida, mas não havia muitos carros ali. Ele me coloca em um carro preto com mais dois agentes armados, mas o veículo não era do tipo policial ou para transportar prisioneiros, era um carro comum.

É isso.

Eles iriam me matar em algum lugar escondido e longe dos olhos da lei, assim como faziam com os que desafiaram o governador antes de mim. Seguimos pela garagem em um silencio tenebroso, o meu coração batia tão rápido que eu quase conseguia ouvi-lo.

"Fique calma, não sofra antes da hora." Eu dizia a mim mesma.

– Para onde estamos indo? – Pergunto, mas eu não esperava uma resposta sincera.

O agente que dirigia trocou um olhar com o que estava ao meu lado. Meu corpo fica gelado, e eu previa um golpe agora... Uma facada? Um tiro?

– Para casa. – Responde calmamente o que estava perto de mim.

De repente noto que sua voz era feminina, e soava familiar.

– Mia? – Sussurro. Ela faz um "Shiuu" com a ponta do dedo indicador. Eu não podia acreditar!

Chegamos à saída, e um guarda do palácio se aproxima do carro para fazer a inspeção.

– Transferência de prisioneiro. – Diz o agente que estava dirigindo.

– Eu não recebi nenhum comunicado a respeito disso. – O guarda responde.

O soldado da liga disfarçado de agente tira um papel e o entrega.

– Foi assinado pelo próprio governador Sanz. – Responde.

O guarda observa o papel por alguns segundo e em seguida autoriza a passagem. Assim que saímos do palácio ouço um suspiro.

– Ah, ainda bem! – Diz Mia tirando a mascara. – Já não aguentava mais isso na minha cara.

Sorrio quando a vejo.

– Eu que o diga. – Juan, no banco da frente, tira a sua mascara.

– Meu nome é Carlos. – O motorista diz, mostrando o rosto. – Acho que nunca fomos apresentados.

– É um prazer ver vocês. – Digo sorrindo, com medo de que aquilo fosse um sonho.

– Ah, me deixa dar um jeito nisso. – Diz Mia tirando as algemas com uma máquina. Sacudo as mãos, sentindo a liberdade dos pulsos. Ela sorri para mim, mas segundos depois o momento de alivio passa.

– Mia, ele... – Eu sentia vergonha da minha voz.

– Eu sei. – Ela parecia estar fazendo força para parecer firme e não chorar. – Eu lamento muito, Ellena. Todos nós lamentamos! – Eu aceno, agradecendo as condolências, mas eu não conseguia fingir que estava tudo bem.

Mia não sabia a verdade...

Nós dirigíamos pela noite escura. Não havia muitos carros na estrada, já que a maioria das pessoas estava em festas ou em alguma praia.

– Aonde vamos exatamente? – Pergunto.

– Para um refúgio, na ilha. – Ela responde. – A sua família e seus amigos estão lá. Achamos que seria perigoso deixa-los aqui correndo o risco de serem sequestrados pelo Sanz. – Ela sorri para mim. – Esta tudo bem agora.

Viro-me e encosto a cabeça no vidro do carro, observando a paisagem que passava rápido lá fora. Encontro-me no mesmo lugar onde tudo começou, com a cabeça encostada na janela de vidro indo para a ilha. Parecia que a liga e os exilados estavam bem, em algum lugar protegido. O meu pai não havia abandonado a liga, ele planejara tudo e seus planos não tinham sido abalados, apenas mudado de data. Logo Matthew teria uma surpresa, o exército dos que foram exilados do seu governo tomarão o poder.

A esperança era como uma fagulha acesa em meio ao monte de cinzas em que meu coração havia se transformado.

Ainda não acabou!


FIM DO PRIMEIRO LIVRO.



A história continua em:

O REGRESSO

Os ExiladosOnde histórias criam vida. Descubra agora