Três. | Eu não aguento mais viver, Noah.

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autora.

Sina estava hospedada na casa de Urrea a três dias. Ela estava se sentindo um pouco mal por estar dando "trabalho" ao seu amigo. Já Noah, estava amando ter a companhia de sua amiga.

Noah havia dito que eles iriam fazer um skin care. Segundo ele, Sina precisava se distrair um pouco.

Nesse momento, ambos estavam se arrumando, pois iriam sair pra comprar as coisas. Sina colocou um shorts jeans e uma regata justa, com um moletom preto por cima.

Urrea estava vestindo apenas uma calça jeans escura e uma camiseta branca. Seu cabelo recém-cortado estava jogado para trás e algo que não poderia faltar em seu visual, era seu brinco.

Sina se trocou no quarto de hóspedes e assim que terminou de se arrumar, foi até o quarto de Noah e bateu três vezes na porta, que rapidamente foi aberta.

- Estou pronta - Deu um leve sorriso.

Urrea estranhou o fato de sua amiga estar com blusa de frio, já que havia visto que naquele dia iria fazer 34°C.

- Está um baita calor, tira esse moletom, Si.

- Não quero que vejam os roxos nos meus braços... - Murmurou, olhando para baixo.

Noah lançou um olhar reconfortante e deu um beijo em sua testa.

- Vamos? - A abraçou de lado e foram até o carro.

[...]

Chegando na loja, Noah pediu para a vendedora lhe dar alguns cosméticos para o rosto. Ela nos levou para um corredor que tinha vários produtos. Jacob pegou algumas máscaras, hidratantes e um sabonete facial.

Após pagar tudo, eles voltaram para a casa dos Urrea's e foram direto para o banheiro.

Sina realmente estava com um calor insuportável, mas tinha uma coisa que Noah não sabia.

- Vai, Si, não tem ninguém com a gente. Tira esse moletom.

- Não posso, No - Falou baixinho.

- Pode confiar em mim... - Segurou na barra da blusa de frio e tirou lentamente.

Sina fechou os olhos com força quando seu olhar parou nos seus pulsos machucados. Ele a encarou com um semblante triste.

- P-Princesa... Por que fez isso com você mesma? - Passou os dedos de leve em seus cortes.

- Eu não aguento mais, Noah - Olhou para baixo.

- Me deixa te ajudar a sair daquela casa, por f... - Suas mãos seguravam o rosto da loira.

- Não aguento mais viver - Sussurra, o interrompendo.

Os olhos de Noah encheram-se de água instantaneamente.

- N-Não fala isso... - Sina se desvencilhou de suas mãos e ficou em silêncio por dois longos minutos.

- Ahn, você se importa se a gente fizer o skin care outro dia? E-Eu preciso voltar para casa.

- Si...

- Amanhã as aulas começam e a gente se vê de novo, okay?

- Não quero que você vá. - Noah murmurou.

- Uma hora ou outra eu vou ter que voltar... Pode me levar? - Perguntou para o moreno, que apenas assentiu.

[...]

Assim que Noah estacionou o carro, olhou apreensivo para sua amiga. Ele prensou os lábios e fechou os olhos.

- Hum... Tchau, Noah. - A loira falou.

- Tem certeza que quer ir? Sabe que meus pais te amam e não ligam se você quiser ficar... - Ele interrompido por um beijo na bochecha que Sina dera. - Tchau, princesa. Se cuida e qualquer coisa me manda mensagem.

Sina sorriu sem mostrar os dentes e saiu do carro. Suas mãozinhas estavam tremendo, com medo do que viria a partir do momento que ela abrisse a porta.

Ela respirou fundo e girou a chave. Quando ela adentrou na casa, viu seu pai com uma garrafa de uísque na mão e na outra, um cigarro. Assim que seu olhar parou na pequena Deinert, sentiu uma raiva inexplicável, e mais uma vez, decidiu descontar seu estresse nela.

- ONDE VOCÊ ESTAVA? - Gritou.

- N-Na casa de uma amiga -Falou baixinho e seu pai riu.

- Você acha que eu nasci ontem? - Perguntou retoricamente. - Eu tenho certeza que você estava com aquele desgraçado - Sussurrou no ouvido de Sina.

- P-Pai...

- Vire de costas e tire sua blusa - Ordenou.

Com as mãozinhas trêmulas, ela retirou sua regata, ficando apenas de shorts e sutiã. Joseph riu de forma maléfica e tirou o cinto que ajustava a calça em seu corpo.

- Espero que aprenda sua lição, vadia - Falou e deu uma cintada nas costas de sua filha, fazendo um barulho alto.

Sina gritou de dor e outra cintada foi depositada em sua pele branquinha. Aquilo fazia um barulho enorme, e a mesma rezava para que sua mãe acordasse e tentasse impedir seu pai de continuar bater nela com aquele pedaço de couro. Não que fosse adiantar algo, já que sua mãe não a agredia, mas não impedia Joseph de fazer isso. Ela era como uma planta na casa. Não tentava evitar quaisquer tipos de agressões contra sua filha.

[...]

Após longos quinze minutos batendo e rindo do sofrimento de Sina, seu pai decidiu parar.

- Não duvide de mim, Sina Deinert. Isso aqui foi só o começo - Riu e o couro entrou em contato com a pele de Sina novamente, dessa vez mais forte. - Vá para o seu quarto.

Ela apenas obedeceu. Entrou em seu quarto, pintado de branco e pegou um estojo velho e pediu mentalmente para que achasse um apontador. Depois de procurar um pouco, Deinert acha o que procurava e desparafusa o objeto com uma tesoura.

Ela pega na lâmina com as mãos tremendo e sente a falta de ar chegar em seus pulmões. Um primeiro corte é feito em seu braço.

Sina se lembra de quando fazia aula de balé e a professora dissera que ela não prestava nem para fazer um simples espacate. Ela se sentiu tão mal, que parou de fazer aulas de dança— que era sua paixão— por causa desse comentário.

Outro corte é feito em seu pulso.

Dessa vez, a memória de seu pai lhe batendo pela primeira vez vem em sua mente.

Ela tinha apenas onze anos, quando foi agredida por ter tirado uma nota vermelha em seu boletim escolar.

Mais um corte.

Lembranças de quando recebeu a notícia que seus avós maternos haviam falecido. As únicas pessoas no mundo que a entendia.

Outro corte.

Sina não aguentava mais viver. Ela era agredida todos os dias e de alguma forma, achava que era sua culpa.

𝗷𝘂𝘀𝘁 𝗳𝗿𝗶𝗲𝗻𝗱𝘀. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora