Um. | Ele te bateu de novo?

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sina deinert.

Sabe quando você só quer se trancar no seu quarto e ficar lá até que todos seus problemas desapareçam? Esse é o meu desejo no momento.

Levantei da cama — contra minha vontade — e fui até o banheiro. Me despi e fui tomar meu banho matinal. Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre meu corpo. Gemi de dor quando algumas gotas caíram no machucado que meu pai fizera ontem no meu braço.

Peguei meu shampoo e passei pelos meus fios loiros. Massageei meu couro cabeludo e enxaguei. Abri o pote de condicionador e espalhei em todo meu cabelo. Enquanto eu deixava agir, comecei a ensaboar meu corpo, tentando não tocar em meus machucados. Aproveitei também para escovar meus dentes com uma pasta de sabor menta.

Depois de uns três minutos, enxaguei meu cabelo e tirei todo sabão que estava em meu corpo. Me sequei com a toalha e saí do banheiro. Peguei um moletom que eu roubei de Noah e uma calça cinza, também de moletom.

Estava um calor insuportável, mas tenho sempre que usar roupas compridas para esconder meus machucados.

Hoje eu iria sair com meu melhor amigo. Noah é a única pessoa que sabe que eu sou agredida em casa, ele é a única pessoa que eu confio. Tudo, absolutamente tudo que acontece eu conto para ele. Ele está sempre tentando me convencer á denunciar meu pai para a polícia, mas já recebi várias ameaças do tipo:

"Se você falar sobre isso para alguma autoridade, eu acabo com você e com a vida do seu amiguinho."

Eu não duvido que meu pai possa fazer algo assim. Ele é louco e sempre diz que "tem seus contatos" caso eu apronte algo.

Respirei fundo e abri a porta da meu quarto. Olhei fui até metade das escadas e olhei em volta da sala para me certificar que ninguém iria me ver saindo de casa, e bom, não tinha ninguém lá.

Andei em passos silenciosos até a porta, até que ouvi a voz que me deixa com ânsia.

- Onde você pensa que vai? - Meu pai perguntou, me fazendo estremecer.

- V-Vou ir na sorveteria - Respondi sem fazer contato visual.

- Olhe para mim! - Hesitei um pouco, mas o olhei. - Onde você está indo?

- Na sorveteria - Falei firme.

- Sozinha? - Neguei lentamente com a cabeça.

Eu sabia que se eu mentisse seria pior. Muito pior.

- Com aquele seu amigo, certo? - Assenti e ele riu alto, me deixando com um ponto de interrogação enorme na testa. - Você não vai ir!

- Mas pai... - fui interrompida.

- VOCÊ NÃO VAI! - Ele gritou.

- Eu juro que não vou fazer nada - Pedi. - Me deixa ir, por favor, eu te imploro. O Noah é só meu ami... - Minha frase cessou quando um tapa foi acertado no meu rosto.

- Eu falei que não, Sina Maria! - disse apertando meu braço, onde ele já havia machucado.

Senti algumas lágrimas descendo pelo minha bochecha, mas isso não foi o suficiente para o fazer parar.

Meu pai deu alguns gritos e chacoalhões em meu corpo. Nada que eu já não estivesse acostumada.

- NUNCA MAIS TENTE SAIR ESCONDIDO! ESTÁ ME OUVINDO? NUNCA MAIS! - Assenti e ouvi a campainha ser tocada. - Se for seu amigo, fale que você não vai poder ir - Sussurrou em meu ouvido com sua voz asquerosa.

Fui até a porta e abri lentamente. Lá estava ele, com sua jaqueta jeans e sua calça preta. Ele parecia feliz, sorria como sempre.

- Vamos, Si... - Seu sorriso se desfez, quando olhou para o meu rosto.

Provavelmente, a marca da mão do meu pai estava visível. Meu pescoço também estava marcado e meu nariz estava vermelho, por conta do choro.

- E-Eu não vou p-poder ir - Falei baixinho, sem conseguir olhar para seu rosto.

- Ele te bateu de novo? - Não respondi. - Princesa, olha para mim... - Sua mão foi até meu queixo e me fez o encarar. - Sabe que pode contar comigo para tudo, não sabe? - Assenti. - O que aconteceu?

- Eu fui s-sair de casa escondido... Ele me viu e começou a me bater.

- Me deixa te ajudar a sair desse inferno, princesa... Você não merece isso. - Me abraçou com cuidado e fez carinho na minha cabeça.

- Noah, ele me fala que se eu contar isso para alguma autoridade, ele vai me matar e te matar. Eu não posso deixar isso acontecer...

- Ele sabe onde eu moro? - Nego com a cabeça. - Separe algumas peças de roupas, você vai passar alguns dias lá em casa. Amanhã eu venho aqui te buscar! - Tentei falar algo, mas fui impedida. - Isso não é um pergunta. Você vai vir para minha casa! - Suspirei e assenti.

Ele deixou um breve beijo na minha testa e segurou meu rosto com as duas mãos.

- Se cuida, princesa. Até amanhã.

- Até amanhã, Noah - Dei um sorrisinho e o olhei entrar no carro.

Entrei em casa e meu pai já não estava mais na sala. Subi até meu quarto e separei algumas camisetas, calça, blusas de frio, etc.

Assim que terminei de arrumar tudo, escondi minha mochila embaixo da minha cama. Tranquei a porta do meu quarto e comecei a desenhar.

Eu nem sabia o que estava fazendo, só estava desenhando o que vinha no meu cérebro

Fiz alguns traços finos, e decidi que iria desenhar ele e eu. Comecei a rabiscar um pouco e em uma hora, eu já tinha finalizado.

Desenhei eu e Noah, sentados na praia, observando as estrelas. Minha cabeça estava apoiada em seu ombro e seu braço envolvia minha cintura.

Sim, eu sou apaixonada por Noah. É quase impossível não se apaixonar por ele. Noah sempre se importa comigo, me dá apelidos fofos, dá beijos na minha testa e tudo mais... Como eu não iria cair nos encantos dele?

Saio dos meus pensamentos com algumas batidas fortes na minha porta. Era meu pai, ele falava que se eu não abrisse, ele iria arrombar, fechei os olhos com força, coloquei meu desenho embaixo do travesseiro e abri a porta, pronta para levar uma surra. Assim que ele entrou, apertou meu braço, enquanto gritava comigo.

Mais um dia normal na casa da família Deinert.

𝗷𝘂𝘀𝘁 𝗳𝗿𝗶𝗲𝗻𝗱𝘀. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora