Capítulo 6 - O melhor erro da minha vida

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Miguel

Acordei com uma dor de cabeça quase insuportável na madrugada daquele domingo, sentia dores por todo o corpo, sendo bem realista. O porre da noite passada havia acabado comigo, mas minhas memórias estavam intactas.

José me ajudando com meus familiares inconvenientes, José dançando com Bia, José me encarando, José dançando Ragatanga, José me colocando no carro, José bravo, José me carregando nas costas e José sorrindo. Apenas José.

Decidi ir caminhar na praia, apesar do horário. Caminhei por um quarteirão completo e meus pés pararam. Eu não queria ir sozinho, sentia falta de uma sombra larga caminhando ao meu lado.

Voltei correndo pra casa e lavei meu rosto para suavizar o rubor e suor, minha imagem parecia renovada ao me encarar novamente no espelho. Fui até o quarto do casal e vi que os dois dormiam, me aproximei dele e toquei seu ombro com gentileza, mas foi o suficiente para acordá-lo.

Após fazer careta e reclamar do horário, se levantou e foi comigo até a praia. Um sorriso contido se pendurava em meu rosto, era daquela sensação que eu gostava, que eu sentia falta quando sozinho. Mesmo no silêncio, era confortável estar com ele, diria que até seguro. Ele andava atrás de mim enquanto caminhávamos e eu não sabia exatamente o que dizer, então pedi desculpas pelo trabalho que havia dado na noite passada e desabafei alguns pensamentos.

- Estou começando a me acostumar com você, José.

- E não quer se acostumar? – perguntou ele. Queria, eu queria poder me acostumar, mas não podia.

- Não sei, é confuso. Gosto de você, mas não quero me acostumar com você. Eu logo vou embora e vou ficar sozinho de novo.

- Então não vá. Fique – disse.

Meus olhos, que estavam no mar, instantaneamente alcançou os dele. Ele parecia natural e no segundo seguinte sua pupila havia levemente dilatado, como se estivesse assustado com as próprias palavras.

Eu me senti tímido por um instante, algo que eu não costumo ser com ninguém. Era raro alguém me intimidar, me deixar sem palavras. Era a sensação de estar levitando sem saber se voltaria ao chão algum dia, estava muito distante da minha razão.

Para evitar ter que dizer alguma coisa, sorri pra ele, coloquei meu braço por cima de seu pescoço e ficamos caminhando. Ele me contou da bagunça que eu havia feito na sala e que quebrei um porta-retrato da minha mãe, eu deveria comprar outro de imediato, antes que ela notasse.

Após um bom tempo de assuntos sem importância, decidimos comprar comida pra Bia que, de acordo com José, sempre acordava faminta depois de uma noite cheia de bebidas. Quando chegamos em casa, umas sete horas da manhã, minha irmã continuava dormindo.

José decidiu acordá-la para que começassem a se organizar pra voltar pra Praia Grande, o que me deixou bastante perplexo. Eu deveria voltar com eles? Eu não queria incomodá-los por mais tempo, mesmo eu sendo irmão de Bia, eles deviam querer um tempo sozinhos nas férias.

Resolvi que o melhor a se fazer era esperar pra descobrir o que eles estavam imaginando que aconteceria. José não disse nada, mas Bia não parava de tagarelar e em nenhum momento desde que me viu ela mencionou um "Vá arrumar suas coisas", que era o que eu esperava dela, já que era cismada com horários.

Conclui que ela havia entendido que eu ficaria ali com os nossos pais, já que estava tudo "bem". Eu realmente não queria ficar, mas um lado meu decidiu ter empatia pelo casal e deixa-los em paz. Não queria ser um pentelho na vida deles. Não na vida dele.

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