Capítulo 17 - Eu sei que é você

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Miguel

         O desespero estampado na cara dos dois naquela noite com certeza ficaria na minha memória para sempre. Eu fiquei em choque ao ver a reação de Bia, sempre havia pensado nas possíveis reações, mas nunca naquela expressão de terror. Ela parecia um fantasma no meio daquela praia deserta e até o vento que vinha do mar ajudava a me causar um frio na espinha.

         Saí logo após Bia terminar de descontar sua raiva em mim, pude sentir o sangue correndo quente pela minha pele. José a tirou de cima de mim e conseguiu deixar algo bem claro com os seus olhos: "Saia daqui o quanto antes, deixe comigo".

         Eu senti firmeza nos seus olhos, aquele momento era deles, eles precisavam ficar sozinhos. Com certeza teria o meu momento com ela depois, então simplesmente assenti e me retirei. Peguei o primeiro táxi que vi e, ao me sentar e pedir que a motorista me deixasse em casa, comecei a chorar. Um choro silencioso e sufocado de quem sabia a culpa que carregava.

         José havia dito a palavra com A. Comparando com tudo o que aconteceu depois, parecia não ter mais tanta importância, mas suas palavras ecoavam pela minha cabeça de uma maneira perturbadora. Ele disse que me amava, ele disse mesmo. Disse com todas as letras, para que não deixasse dúvidas. Será que ele tinha a mínima noção do que tudo aquilo significava? Da vastidão daquelas palavras?

         Duvidava que ele havia parado pra pensar, pois quando eu refleti antes, eu havia concluído que não tínhamos amor um pelo outro, apenas algo sem nome. Talvez, na falta de um título, ele simplesmente optou por outro?

         Ou, na hipótese mais louca, ele me amava mesmo?

         Que insano era pensar naquilo na situação na qual nos encontrávamos, comecei a relembrar os acontecimentos e me perguntei se talvez não fosse melhor eu voltar... e se ela resolvesse mata-lo? Ele nunca se defenderia ou revidaria, comecei a me preocupar de verdade com as milhares de situações que uma mulher com raiva poderia causar. Se havia algo em que eu acreditava, era na seguinte sentença: não há nada pior do que uma mulher magoada.

         Quando cheguei em casa, despejei tudo o que aconteceu em Nicolas, que me abraçou, cuidou do meu nariz e fez um chá de hortelã para que eu me acalmasse.

         - E agora? Onde meu irmão vai ficar? – perguntou ele.

         - Como assim? – céus, eu nem havia pensado naquilo. Com a Bia que não seria.

         - Bom, ele não vai ficar lá com esse climão, então ele vem pra cá?

         Merda, eu realmente não havia pensado naquilo. Eu deveria tê-lo esperado e o obrigado a vir comigo, considerando que de livre e espontânea vontade ele não viria... orgulhoso do jeito que era.

         Tomei um banho e tentei me manter firme, mas minha cabeça estava lá com ele, aonde quer que estivesse. Tentei ligar, mas ele não atendia. Até cogitei ligar pra Bia, mas a ideia se esvaiu no ar em menos de três segundos. Eu não falaria com ela tão cedo, ela precisaria de um bom tempo para se acalmar.

         Apesar de não ter uma gota de sono nos olhos, me deitei e cobri minha cabeça. Eu queria me esconder do mundo, queria apagar qualquer rastro da minha existência e me dissolver em baixo daquele lençol.

         Escutei a porta do meu quarto abrir, eu sabia que só podia ser o Nicolas. Não queria ser grosseiro, mas realmente queria ficar sozinho.

         - Nick, me deixa sozinho hoje, amanhã a gen... – Senti sua mão no meu ombro, não o via porque ainda estava coberto até a cabeça e estava de costas, mas quando tentei vê-lo, fui impedido. Fui segurado pelo ombro e senti um corpo se deitando e me abraçando por trás.

Como me vejo em você Onde histórias criam vida. Descubra agora